Regiões separatistas na Ucrânia vão realizar referendo para se anexar à Rússia
Segundo a Otan, as votações não têm legitimidade
As regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia, vão realizar referendos entre os dias 23 e 27 de setembro sobre a adesão dos territórios à Rússia.
Uma medida que, segundo o líder de Luhansk, foi muito esperada. “Todos nós esperamos há oito longos anos por um referendo sobre ingressar na Rússia. Tem sido nosso sonho comum e nosso futuro comum. E assim aconteceu. O referendo vai acontecer”, explicou Leonid Pasechnik.
A decisão por realizar os referendos ocorre depois que o Kremlin sofreu uma contraofensiva no campo de batalha e perdeu territórios no nordeste da Ucrânia. Mas ao ser questionado sobre o assunto, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou que o povo deve decidir seu destino.
“Desde o início da operação militar especial e, mesmo antes dela, dizemos que os povos dos respectivos territórios devem decidir seu próprio destino. Toda a situação atual confirma que eles querem ser os donos do próprio destino”, declarou Lavrov.
Autoridades russas instaladas na região de Kherson, no sul da Ucrânia onde as forças de Moscou controlam cerca de 95% do território, disseram que também pretendem realizar um referendo.
Pelo Twitter, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, alegou que as votações não têm legitimidade e não mudam a natureza da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Disse ainda que a comunidade internacional deve condenar essa violação do direito internacional e apoiar os ucranianos.
O governo ucraniano e os Estados Unidos também afirmaram que os referendos são uma farsa ilegal e que não reconhecerão os resultados.
Nesta terça-feira (21), em Nova York, na Assembleia-Geral da ONU, a guerra na ucrânia foi uma das principais pautas dos discursos dos líderes mudiais, o que já era esperado.
Houve quem fosse mais incisivo contra a Rússia. Por outro lado, o presidente da Turquia, por exemplo, evitou fazer críticas ao Kremlin e destacou que o país busca um papel “moderador” no conflito.
Recep Tayyip Erdogan defendeu que as organizações internacionais e os países colaborem na busca de uma solução para a guerra.
“Precisamos encontrar uma saída dessa crise, e isso só pode ser possível por meio de uma solução diplomática que seja racional, que seja justa e aplicável”, expôs Erdogan.
Já o presidente francês, Emmanuel Macron, fez duras críticas à Rússia e aos países que se mantêm neutros em relação ao conflito.
“A Rússia precisa ver que não pode impor sua vontade militarmente, mesmo que haja falsos referendos em territórios que foram bombardeados e agora estão ocupados”, proclamou Macron.
“Eu sei que existem países aqui que escolheram uma forma de neutralidade em relação a essa guerra, mas quero dizer com honestidade hoje, aqueles que pensam que não estão alinhados, estão errados, estão cometendo um erro histórico”, continuou.
Para o analista de Internacional da CNN, Lourival Sant’Anna, os russos não estão conseguindo manter os territórios que conquistaram no país vizinho.
“Está faltando tática. Os ucranianos adotaram as táticas ofensivas da Otan, que passaram os últimos 70 anos estudando o exército soviético e depois russo. É um exército pesado, lento, muito baseado em artilharia, em bombardeios de saturação e baseados na ideia de guerra de front, da Segunda Guerra Mundial”, expõe Lourival.
“E essa não é uma guerra de front, é uma guerra de linhas de contato múltiplas, em que os ucranianos tem sido capaz de vir e chegar por trás deles, e os russos estão totalmente baratinados”.
Sobre o referendo, Lourival analisa que é “uma tentativa de intimidar a Ucrânia e a Otan dizendo assim: isso não são territórios ocupados, são territórios russos. Vocês estão atacando a Rússia. Portanto, nós temos o direito de declarar guerra, de mobilizar nossa população”.
“É um passo que o [Vladimir] Putin não pretendia dar, mas está sendo forçado por causa da derrota dele no terreno”, finalizou.