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    Quem irá herdar os votos do candidato assassinado nas eleições do Equador?

    Leitura entre especialistas é que como Villavicencio captava, sobretudo, os detratores do correísmo, a candidata Luisa González fique de fora da disputa por esse segmento da sociedade equatoriana

    Simpatizantes durante marcha em memória ao candidato assassinado Fernando Villavicencio
    Simpatizantes durante marcha em memória ao candidato assassinado Fernando Villavicencio Juan Diego Montenegro/Getty Images

    Mateus Cerqueirada CNN

    São Paulo

    O assassinato do candidato à eleição presidencial do Equador, Fernando Villavicencio (da aliança política Construir), no dia 9 de agosto, deixou um importante segmento de eleitores órfãos e dúvidas se os atuais postulantes ao executivo têm chances claras de conquistar esse grupo na votação que ocorre neste domingo (20).

    A leitura entre muitos especialistas é que como Villavicencio captava, sobretudo, os detratores do correísmo, a candidata pelo Revolucón Ciudadana, Luisa González, fique de fora da disputa por esse segmento da sociedade equatoriana.

    Outro importante ponto avaliado pelos especialistas é o grau de comoção de toda população em torno da morte do candidato. Ou seja, se após o assassinato de Villavicencio haverá alguma inclinação dos eleitores em maior grau a algum dos postulantes ao executivo.

    A expectativa é que o seu substituto, o também jornalista Christian Zurita — que teve sua candidatura aprovada na quarta (16) pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do Equadorherde os votos de Villavicencio que continuará com o seu rosto estampado nas cédulas de votação, mesmo após sua substituição no pleito.

    Zurita aposta em um discurso similar ao de seu antecessor, sobretudo, contra o correísmo, e, durante uma conferência de imprensa, disse que mataram Villavicencio pelo que ele iria fazer, e não pelo que ele dizia, ao justificar o porquê do seu esquema de segurança.

    “A segurança se deve ao fato de eu ter o mesmo perfil de perigo de Fernando Villavicencio, porque as ameaças sempre foram para todos. Eles já nos mostraram que podem. E ele foi morto não pelo que disse, mas pelo que ele planejou fazer”, ao que adicionou: “Este plano [de governo] é baseado acima de tudo no que planejamos fazer”.

    No entanto, surge como um desafio a ser superado por Zurita a ascensão de Jan Topic, da Aliança Por um País Sem Medo. Apelidado de “Bukele equatoriano” — em alusão ao truculento governo de Nayib Bukele, presidente de El Salvador –, o ex-integrante da Legião Estrangeira Francesa apostou em um discurso linha dura contra a violência desde o início da corrida presidencial e vem ganhando espaço nas últimas semanas com a morte de Villavicencio.

    Entre os perfis de eleitores mais aderentes a Topic, estão os conservadores e o eleitorado que não deseja a volta do correísmo, também disputados por Zurita. Entre os especialistas, a análise é que os altos níveis de violência no país favorecem a imagem de Topic que apresenta medidas, em suas próprias palavras, “pragmáticas”, mas pouco eficazes a longo prazo contra a criminalidade, narcotráfico e delinquência.

    Terceiro fator

    O terceiro fator a ser analisado, conforme explicou a analista de risco para o Equador, Laura Lizarazo, da Control Risks, era o cenário anterior à morte de Villavicencio: o de falta de informação sobre os candidatos, suas propostas e, até mesmo, sobre as datas das eleições entre os equatorianos, o que poderia gerar um alto número de abstenções.

    Conforme apontou Lizarazo, em julho, cerca de 65% dos cidadãos sequer sabiam quando seria realizado o primeiro turno das eleições, e seguiam indecisos.

    No entanto, a expectativa é que, com a cobertura massiva dos meios de comunicação sobre a morte do candidato pela aliança Construir, os equatorianos compareçam em peso à votação, como uma clara resposta à onda de violência que vive o país.

    “É uma situação de reversão de cenário, o que pode fazer com que a população – preocupada com os altos números de desemprego, informalidade e violência – compareçam em peso na votação, já com um candidato em mente”, explica.

    Para ser eleito(a) já no primeiro turno, o candidato ou a candidata à Presidência precisa de mais de 50% de todos os votos válidos no primeiro turno, ou 40% dos votos válidos com uma diferença de 10% em relação ao segundo mais bem colocado na corrida presidencial.

    Caso ocorra um 2° turno (15 de Outubro), vence as eleições o candidato que obtiver mais votos (maioria simples). A votação no país andino ocorre por meio do voto impresso e, atualmente, 13,4 milhões dos 17,8 milhões habitantes estão habilitadas a votar.

    O que diziam as pesquisas?

    O candidato pela aliança política Construir vinha apresentando bom desempenho desde julho nas pesquisas eleitorais, ocupando, inclusive, o segundo lugar em uma delas — com 13,2% da intenção de votos, conforme a Cedatos, empresa certificada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do Equador.

    Nessa mesma pesquisa realizada no mês de julho, a candidata pelo correísmo, Luisa González, seguia na liderança, com 26,6% da intenção de votos. Ocupava a terceira posição o candidato Yaku Pérez pela coligação Claro que é Possível, com 12,5%.

    Em outra pesquisa, também pela Cedatos — realizada entre os dias 7 e 9 de agosto–, Villavicencio se mantinha em segundo lugar, com 12,5% da intenção de votos. González foi a 24,0%, mas invicta seguia no primeiro lugar. A novidade foi a ascensão ao terceiro lugar de Jan Topic, da aliança Por um país sem medo, com 12,2%. Pérez despencou para o quarto lugar com 8,1%.

    Na pesquisa de intenção de votos realizada pela empresa Comunicaliza, também no mês de agosto, o cenário é outro. Topic vai para o segundo lugar com 21,7, enquanto González lidera com 24,9%. A diferença é de 2,8 pontos percentuais entre esses candidatos.

    Ainda conforme a Comunicaliza, Villavicencio tinha caído para a terceira posição com 14,5%, enquanto Pérez amargava a quarta posição com 5,8% da intenção de votos.

    Discurso contra a violência: a última cartada

    Na atualidade, a violência é a principal preocupação dos equatorianos. O país enfrenta uma onda de distúrbios em presídios e violências nas ruas, ao mesmo tempo que lida com uma atuação impopular de Guillermo Lasso, que tem apostado em políticas conservadoras para conter a criminalidade e mortes pelo país.

    Conforme a polícia do país, o ano de 2022 foi o pior para a população, uma vez que foram registrados 4.609 homicídios dolosos, um salto de mais de 90% na comparação com 2021 quando foram registradas 2.496 mortes do mesmo tipo.

    Debate presidencial no Equador em 13/08q2023
    Debate presidencial no Equador no último dia 13 / Reprodução/YouTube Ecuador TV

    No último debate presidencial realizado no domingo (13), os candidatos apostaram no discurso contra a delinquência e o crime organizado, com especial destaque para Topic que foi na linha de seu discurso linha dura e imediatista contra a violência.

    Enquanto isso, candidatos como González e Pérez apostaram em um tom mais apaziguador, com propostas voltadas para prevenção criminalidade e delinquência por meio do acesso à educação, maior investimento na segurança pública do país e volta de programas sociais. O púlpito de Villavicencio permaneceu vazio e também marcou o debate presidencial.

    Quem é Fernando Villavicencio?

    Nascido em 11 de outubro de 1963, em Alausí, Fernando Alcibiades Villavicencio Valencia teve uma intensa trajetória como jornalista e sindicalista ao mesmo tempo em que abraçava a carreira política.

    Estudou jornalismo e comunicação na Universidade Cooperativa da Colômbia, na qual se formou e iniciou seus trabalhos como comunicador social. Logo em seguida, iniciou na carreira política como um dos fundadores do Partido Pachakutik, em 1995.

    No ano seguinte, começou a trabalhar na Petroecuador, a companhia petrolífera estatal do país. Lá, atuou com jornalismo e logo assumiu posições sindicais. Ele se manteve como um líder dos trabalhadores da companha até 1999, quando foi demitido por uma ordem do então presidente Jamil Mahuad.

    Mesmo longe da Petroecuador, continuou denunciando os problemas da companhia, como delitos ambientais e trabalhistas. Ganhou notoriedade como um dos mais ferrenhos críticos do então presidente Rafael Correa.

    Em 2017, concorreu e foi eleito a uma vaga na Assembleia Nacional. Ocupou o cargo até maio deste ano, quando o presidente Guillermo Lasso assinou a “morte cruzada”, que resultou na dissolução do parlamento equatoriano.

    Crítico do correísmo e do governo Lasso, Villavicencio foi um dos personagens mais visíveis nas denúncias de corrupção nos setores de petróleo, energia, telecomunicações e estruturas criminosas, segundo seu perfil na Assembleia Nacional do Equador.

    Quem são os atuais candidatos à presidência do Equador?

    Oito candidatos disputam a presidência do Equador, conforme o CNE equatoriano:

    • Luíza González e seu vice Andréz Arauz;
    • Christian Zurita (Fernando Villavicencio) e Andrea González;
    • Jan Topic e Diana Jácome;
    • Yaku Pérez e Nory Pinela
    • Otto Sonnenholzner e Érika Paredes;
    • Daniel Noboa e Verónica Abad;
    • Bólivar Armijos e Linda Romero;
    • Xavier Hervas e Luz Marina Vega.
    Simulação de cédula de votação no Equador / Empresas CEDATOS