Quem é Patrícia Bullrich, ex-ministra de Macri que concorre à Presidência da Argentina
Candidata do Juntos por el Cambio é crítica do kirchnerismo
A ex-ministra da Segurança da Argentina durante o governo de Mauricio Macri, Patricia Bullrich, venceu o prefeito de Buenos Aires, Horacio Larreta, nas primárias eleitorais do país em agosto e foi escolhida para disputar a Presidência pela coligação Juntos por el Cambio.
Bullrich nasceu em 11 de junho de 1956, em Buenos Aires, em uma tradicional família aristocrática argentina, a Luro Pueyrredón, e rompeu com a posição política radical de sua linhagem já na adolescência.
Filha de Alejandro Bullrich e Julieta Luro Pueyrredón, tem antepassados emblemáticos como Juan Martín de Pueyrredón, diretor das províncias do Rio da Prata, e Honorio Pueyrredón, ministro do governo de Hipólito Yrigoyen, presidente argentino por duas vezes, entre 1916-1922 e 1928-1930.
Mas a candidata não tem apenas uma linhagem ilustre, como também alguns de seus familiares são conhecidos no meio artístico e político argentino.
Adolescência e militância
“Acho que minha avó se enganou, porque se ela tivesse me levado para a Juventude Radical, por ali, eu seguiria por esse caminho. Mas claro, Balbín — líder da União Cívica Radical [partido centrista] — para mim, naquela época, era um grande e velho cavalheiro. Saí com medo e fui para o outro lado.”
Foi assim que a própria Patrícia declarou ao “FiloNews” sobre seu início na política.
Sua avó era filha de Honorio Pueyrredón — outro líder radical — e pelas palavras da própria pré-candidata, talvez ela tenha sido a responsável pela mudança do rumo político familiar da adolescente e seu interesse pelo peronismo.
Sua juventude foi marcada pela militância na Juventude Peronista (JP) e pela proximidade com Rodolfo Galimberti, líder dos Montoneros (guerrilha urbana de esquerda), casado com sua irmã, Julieta.
Vida fora da política
Nem tudo foi político em sua adolescência. A agora representante da ala mais dura do Juntos por el Cambio teve seu tempo de shows. Fabiana Cantilo, conhecida cantora de rock na Argentina, é prima da candidata.
Quando Mirtha Legrand, em seu programa de TV “Almoçando com Mirtha Legrand”, perguntou à artista sobre sua primeira vez em um show de rock, Fabiana não hesitou em afirmar que foi Bullrich quem a incentivou a ir ao seu primeiro concerto:
“Minha prima ‘Pato’ que me falou ‘você gosta de música progressiva, Fabi?’”.
O show foi do Pescado Rabioso, banda de Luis Spinetta, e foi a primeira aproximação de Cantilo ao rock progressivo. As primas, segundo Fabiana em nota ao “La Nación” em 1997, têm uma relação fraterna.
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Cruzamento público com outro primo, Esteban
Outro de seus parentes com atividade política na Argentina é seu primo de segundo grau, Esteban Bullrich, ex-senador nacional — que, apesar de pertencer ao mesmo campo político, não hesitou em enfrentá-la.
Quando Horacio Rodríguez Larreta se lançou como candidato presidencial, Patricia Bullrich, que na época também aspirava à candidatura, postou uma mensagem nas redes sociais criticando o perfil de diálogo do chefe do governo municipal.
“Não há lugar para dialogar com aqueles que fazem parte do problema e aprofundam a decadência de nosso país ou por respostas mornas à triste realidade que os argentinos sofrem.”
A resposta pública de Esteban à prima foi contundente: “Não vamos cair na armadilha”.
“É preciso mais coragem para falar com alguém que pensa diferente do que insultá-lo”, afirmou Esteban.
Propostas econômicas
Com base no conceito de “ordem”, Bullrich promete eliminar no menor tempo possível a taxa de câmbio que impede a livre compra e venda de dólares, e estabelecer uma taxa de câmbio única. Ela alega que a fórmula para conseguir isso consiste em obter “uma quantia em dólares internacionalmente”.
Bullrich afirma que é a única forma de atrair investimentos para impulsionar a economia. No entanto, esta unificação cambial implicaria uma desvalorização significativa, afirmam especialistas no tema.
Da mesma forma, a candidata promete que irá eliminar as retenções na fonte sobre as exportações para aliviar a carga fiscal no setor cambial, que hoje representa uma parcela significativa da receita fiscal do Estado.
Relativamente à inflação, a ex-ministra da Segurança pensa que é preciso “ajustar o Estado para desajustar os cidadãos”, nas suas próprias palavras. E salienta que é preciso dinamitar o regime econômico dos últimos 20 anos, recriar a solvência fiscal e recuperar a credibilidade.
Independentemente de quem vença as eleições, os especialistas têm certeza de que o próximo presidente receberá um país com inflação elevada, problemas de reservas, uma economia que provavelmente cairá após dois anos de crescimento e uma situação social delicada, com pobreza crescente.
Prisão com nome de Kirchner
Caso seja eleita, Bullrich afirmou que dará o nome de “Cristina Fernández de Kirchner” a uma prisão de segurança máxima do país.
A candidata explicou à CNN que se trata de uma mensagem.
“A Argentina está presa há 20 anos a um modelo de culto ao personalismo, um modelo em que todas as ruas, em qualquer lugar do país governado pelos kirchneristas, seus nomes são Néstor Kirchner, Cristina Fernández de Kirchner. Em todos os lugares, em todos os lugares.”
“A ideia é dizer: vocês criaram um culto à personalidade, à discrição total e absoluta, em todos os edifícios. Pois bem, vamos ao edifício onde efetivamente, com base nas queixas e convicções que Cristina Fernández de Kirchner tem, iria tem que estar lá se essas sentenças forem ratificadas pelo Supremo Tribunal de Justiça”, disse.
Para Bullrich, o kirchnerismo “destruiu a Argentina”.
“Temos a intenção de acabar com o kirchnerismo de uma vez por todas”, declarou a candidata, que tem sido uma opositora dos governos de Néstor Kirchner, Cristina Fernández de Kirchner e Alberto Fernández. “É uma ideologia que destruiu a Argentina”, afirmou.
Sua opinião é que nesses governos “queriam mudar todo o sistema judicial para libertar Fernández de Kirchner da Justiça que lhe caberia, mas não porque íamos derrubá-la, mas pelos atos que ela cometeu. E foi isso que os juízes decidiram. Então, o kirchnerismo tem sido muito negativo para a Argentina. É o chavismo da Argentina; é [Nicolás] Maduro, é [Daniel] Ortega”, disse, citando os líderes da Venezuela e da Nicarágua.
Torcedora do Independiente
Bullrich é torcedora do Independiente de Avellaneda.
Embora nunca tenha participado ativamente da vida política do clube, ela se manifestou publicamente em algumas ocasiões importantes da vida do “Rojo”.
Além disso, Néstor Grindetti, candidato a governador da província de Buenos Aires indicado por Bullrich nas prévias, é hoje presidente do clube. E, quando sua chapa com Fabián Doman venceu as eleições, Bullrich comemorou.
“Tchau Moyano. Acabou a turba e a máfia no Independiente”, aludindo ao sindicalista Hugo Moyano, que estava deixando o cargo.
Ela também elogiou a gestão de Grindetti à frente do clube e postou uma foto de sua carteira de sócia. Também no meio da campanha, ela pôde ser vista cantando junto com Grindetti “Sou do Vermelho” no TikTok.
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*Publicado por Douglas Porto, com informações da CNN em Espanhol