Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Quem é o ‘Velhinho do TikTok’ que pode se tornar o próximo presidente da Colômbia

    Rodolfo Hernández, 77, disputa o segundo turno das eleições no domingo (19); ele coleciona comparações com presidentes populistas e já foi chamado de 'Trump colombiano'

    Stefano Pozzebonda CNN , Bogotá

    Quando a campanha presidencial da Colômbia começou em janeiro desde ano, poucos esperavam que Rodolfo Hernández chegasse ao segundo turno. Mas o septuagenário magnata do setor imobiliário que virou político tem chance de se tornar o próximo presidente do país se vencer a batalha contra o concorrente, Gustavo Petro, neste domingo (19).

    As Américas viram vários forasteiros populistas agitarem a política nacional recentemente, e Hernández procura fazer o mesmo na Colômbia. Ele não se importa com as comparações com o presidente brasileiro populista e de extrema direita, Jair Bolsonaro, ou o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, dizendo à CNN no início de junho: “O que farei é derrotar a corrupção. Se me chamarem de ‘o Trump colombiano’ por isso, é magnífico”.

    Hernández, que tem 77 anos, é conhecido como “el ingeniero” (o engenheiro) por seu diploma em engenharia civil pela universidade pública nacional da Colômbia – ou el viejito del TikTok (o velhinho do TikTok), por sua presença ativa na rede social.

    Sua campanha presidencial evitou debates tradicionais de transmissão em TV e comícios políticos, concentrando-se em falar aos eleitores por meio de seus telefones.

    O resultado é que, além de apresentar ao eleitorado seu estilo propenso a gafes – ele certa vez chamou Adolf Hitler de grande pensador alemão e depois se desculpou, dizendo que queria dizer Albert Einstein – poucos realmente sabem como seria uma presidência com Hernández no poder.

    Sua plataforma contém poucas reformas específicas a serem alcançadas quando estiver no cargo, com o próprio Hernández admitindo que mesmo ele não está atualizado em todas as questões da agenda do governo.

    Para descrever sua presidência, ele se comparou ao CEO de uma companhia aérea, explicando que pode não saber como funciona o motor de um avião, mas tem habilidades para administrar a empresa com fins lucrativos.

    Sua história pessoal é “dos trapos à riqueza”. Nascido em uma família de classe média baixa em 1945, Hernández fez fortuna construindo imóveis na década de 1990, quando milhões de colombianos migraram do campo para as áreas urbanas. Mais tarde, ele entrou na política, tornando-se prefeito de Bucaramanga, a sétima maior cidade da Colômbia, em 2016.

    Hernández também vivenciou pessoalmente a tragédia do conflito armado de décadas na Colômbia, que deixou pelo menos 220 mil mortos. Em 2004, sua filha Juliana foi sequestrada, supostamente pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), um dos vários grupos guerrilheiros de esquerda que montaram insurgências contra o Estado colombiano nos últimos 60 anos. Hernández revelou recentemente que o corpo da filha nunca foi encontrado.

    Uma série de mudanças de planos

    O candidato do partido político Liga de Gobernantes Anticorrupcion, Rodolfo Hernandez, no debate entre candidatos presidenciais no Club El Nogal, em Bogotá, Colômbia, em 25 de janeiro de 2021 / Foto de Daniel Garzon Herazo/NurPhoto via Getty Images)

    O discurso mais claro de Hernández foi sua promessa de “livrar-se da corrupção”. Essa é uma questão urgente: 80% dos colombianos dizem que a corrupção é generalizada no governo, de acordo com uma recente pesquisa da Gallup.

    Mas como Hernández pretende fazer isso exatamente permanece um mistério. Ele prometeu reduzir os custos do governo ao aterrar o avião presidencial ou transformar o palácio presidencial em um museu, por exemplo. No entanto, ele não propôs nenhuma solução legal para combater a corrupção de forma mais ampla – embora ele tenha dito à CNN que invocaria um estado de emergência para acelerar as leis necessárias.

    Hernández teve seus próprios problemas com alegações de corrupção – e algumas estão em andamento. Por sua própria admissão, Hernández é alvo de 38 investigações por corrupção, incluindo uma que deve ir a tribunal no próximo mês.

    Hernández negou essa acusação, dizendo à CNN que “com as leis atuais, todo candidato pode ser processado por qualquer um”. Se ele vencer a eleição presidencial neste domingo, o caso provavelmente será interrompido, já que a lei colombiana exige a aprovação do Congresso para julgar um presidente em exercício.

    Grande parte da trajetória política de Hernández pode ser caracterizada como uma série de mudanças de planos.

    Em 2016, ele revelou que votou contra o histórico acordo de paz entre o Estado colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Mas em sua promessa de campanha presidencial, ele disse que respeitaria o tratado e até propôs “uma solução copia e cola” para negociar com o ELN – o mesmo grupo que supostamente assassinou sua filha há 18 anos.

    Falando sobre o meio ambiente – especificamente sobre a questão do fracking [fraturamento hidráulico por meio de perfuração para explorar petróleo e gás natural] – Hernández mudou de ideia ao longo de sua campanha, primeiro se declarando a favor de projetos de exploração e depois aparecendo em um vídeo do TikTok gritando “F***-se o fracking!”.

    Quando se trata de política externa, sua campanha tem sido opaca. Um dos conselheiros mais próximos de Hernández, Angel Beccassino, disse à CNN que Hernández planejava alinhar seu governo com líderes de esquerda como o brasileiro Luiz Ignacio Lula da Silva ou o presidente argentino Alberto Fernandez. Mas o próprio Hernández também disse que seu foco seria melhorar o relacionamento da Colômbia com os Estados Unidos.

    Ao mudar continuamente suas posições, o autodeclarado “Rei do TikTok” pode parecer indeciso, mas abandonar linhas ideológicas também faz parte de sua marca.

    Ele é a favor, por exemplo, do descongelamento da relação da Colômbia com a Venezuela e do fim da guerra às drogas, duas questões importantes para a esquerda colombiana. No entanto, economicamente falando, ele defende o livre mercado, um ponto central da direita do país.

    E sobre outras questões importantes, incluindo segurança, reforma fiscal ou infraestrutura, ele disse pouco ou nada sobre.

    Como o vendedor experiente que é, Hernández conseguiu se vender para um número suficiente de colombianos para chegar à rodada final de votação.

    Mas com todas as suas estratégias confusas de branding e marketing, essa continua sendo uma compra às cegas.

    Tópicos