Quem é María Corina Machado, líder da oposição da Venezuela barrada das eleições
Adversária de Maduro foi proibida de ocupar cargos públicos após denunciar supostas violações dos direitos humanos cometidas pelo Estado venezuelano
María Corina Machado, líder da oposição na Venezuela, teve a candidatura para as eleições presidenciais no país, marcadas para 2024, barrada pelo Supremo Tribunal local em 26 de janeiro.
Ela venceu as primárias presidenciais da oposição da Venezuela em 22 de outubro de 2023, sendo indicada para enfrentar o presidente Nicolás Maduro. Ela também estava impedida de ocupar cargos públicos no país.
Quem é María Corina Machado
María Corina Machado tem 56 anos e é engenheira industrial de formação, mas está ligada ao cenário político há pelo menos 23 anos.
Ela tem especialização em finanças pelo Instituto de Estudos Superiores de Administração (IESA), prestigiada escola de negócios da Venezuela, e se formou no programa de líderes mundiais em políticas públicas da Universidade de Yale, nos Estados Unidos.
Em maio de 2012, ela fundou o Vente Venezuela, partido político do qual é coordenadora e que apoiou sua candidatura nas eleições primárias das quais saiu vencedora.
Machado descreve a doutrina econômica do partido como liberal e propõe uma opção contrária ao socialismo para a Venezuela, sob as premissas do mercado livre, bem como do respeito pela propriedade privada e pelo Estado de Direito.
O partido diz oferecer “um modelo de desenvolvimento inclusivo e liberal para gerar prosperidade, riqueza e liberdade na Venezuela”.
A candidata está empenhada em promover a estabilização fiscal e monetária da Venezuela, promovendo um programa de investimentos públicos e privados massivos em infraestrutura, bens públicos, saúde e educação, entre outros.
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Além disso, Machado vê como necessário promover um extenso programa de privatização das empresas públicas, incluindo a atividade petrolífera. Uma das propostas dela é a privatização total ou parcial da PDVSA, empresa petrolífera estatal venezuelana, algo estritamente regulamentado pela Constituição do país.
Defende ainda a importância de restabelecer garantias jurídicas, econômicas e sociais para incentivar estes investimentos. Machado diz que seu objetivo com estas medidas é reduzir a pobreza e melhorar as condições da classe média.
Ela é divorciada e mãe de três filhos, sendo dois homens e uma mulher. A engenheira se tornou conhecida em 2002 como cofundadora da organização não governamental Súmate, responsável por garantir a transparência eleitoral e a participação cidadã.
Essa mesma organização uniu esforços com outros atores políticos para recolher quase 4 milhões de assinaturas no referendo revogatório organizado em 2004 contra o então presidente Hugo Chávez, que permaneceu no cargo à época e morreu no poder em 2013.
Carreira política
Em 2010, María Corina Machado foi a legisladora mais votada do país e acabou sendo eleita deputada da Assembleia Nacional pelo estado de Miranda para o mandato iniciado em 2011.
Em 2012, participou primárias presidenciais organizadas pela então aliança de partidos da oposição conhecida como Mesa Redonda da Unidade Democrática. Ela ficou em terceiro lugar, com 3,81% dos votos. O candidato do Primero Justicia, Henrique Capriles, venceu com 64,33%.
Em aliança com Leopoldo López, fundador do partido Voluntad Popular, e com Antonio Ledezma, da Alianza al Bravo Pueblo, convocou, em fevereiro de 2014, uma onda de protestos conhecida como “A Saída”, que durou até junho.
O objetivo era exigir a restituição da ordem democrática na Venezuela.
As manifestações também criticavam a crise econômica, a inflação elevada, a escassez de alimentos, a insegurança e as falhas dos serviços públicos, entre outros problemas.
Nos protestos, 43 pessoas morreram, 486 ficaram feridas e 1.854 foram detidas, segundo dados divulgados pela Procuradoria-Geral da República.
Estes acontecimentos fazem parte do caso Venezuela I perante o Tribunal Penal Internacional, que tenta apurar responsabilidades por crimes contra a humanidade cometidos no território da Venezuela desde 12 de fevereiro de 2014 por autoridades estatais, membros das forças armadas, forças de segurança do Estado, autoridades civis e indivíduos pró-governo.
O governo de Nicolás Maduro classificou as acusações como falaciosas e nega que tenham ocorrido crimes contra a humanidade no país.
Barrada de participar das eleições e exercer cargos públicos
Ela estabeleceu “Até O Fim” como o slogan de sua campanha. A candidata assumiu a frase com maior força após a divulgação de um documento da Controladoria-Geral da República a impede de exercer cargos públicos na Venezuela por 15 anos por “erros e omissões em suas declarações juramentadas de bens”.
A líder política reagiu garantindo que “uma desqualificação do regime é uma besteira, vale zero”. Especialistas jurídicos, como a organização não governamental Public Access, descrevem a medida como ilegal e inconstitucional.
Além disso, em 26 de janeiro de 2023, o Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela barrou sua candidatura presidencial.
Denúncias contra o governo de Maduro
Em março de 2014, Machado aceitou brevemente o cargo de embaixadora suplente do Panamá junto à Organização dos Estados Americanos (OEA) para tentar denunciar ao Conselho Permanente as mortes de dezenas de jovens e as supostas violações dos direitos humanos cometidas durante as ações de rua, que duraram até meados de junho.
Em resposta, o partido no poder agiu até que ela fosse destituída do cargo de deputada da Assembleia Nacional, acusando-a de traição e posteriormente de planos de assassinato, sem apresentar provas. Machado negou publicamente as acusações.
Um tribunal proibiu a candidata de sair do país durante a investigação. Essa medida cautelar já dura 8 anos.
Ela também denunciou publicamente que tem dificuldades para se locomover dentro do país, porque algumas companhias aéreas disseram que não podem transportá-la. Por conta disso, Machado viajou pelo país por terra.
Mesmo assim, a candidata mantém sua participação em diversos fóruns internacionais, como em setembro passado, quando discursou virtualmente no Senado do Brasil.
*com informações de Flávio Ismerim, da CNN, Osmary Hernández, da CNN, e da CNN