Quem é Jimmy “Barbecue” Cherizier, principal líder de gangue do Haiti
Criminoso é ex-policial, não esconde rosto e é sancionado pela ONU e pelos EUA
Em meio a uma onda de violência no país caribenho, caracterizada por ataques de gangues contra estruturas governamentais, o primeiro-ministro Ariel Henry renunciou e iniciou um processo de transição cujo resultado ninguém pode prever.
“O Haiti precisa de paz. O Haiti precisa de estabilidade”, disse Henry ao anunciar a renúncia e a criação de um conselho de transição, mas o país continua à beira do colapso social.
Por trás de todo esse caos está um líder da gangue que se tornou o rosto dos ataques contra o governo: Jimmy “Barbecue” (churrasco, em português) Cherizier.
Cherizier não é o único líder de gangue no Haiti, embora tenha se tornado o mais famoso e pareça estar à frente da aliança de gangues Viv Ansanm (ou “Viver Juntos”), que controla 80% da capital Porto Príncipe e disputa o resto, segundo a ONU.
Ele também não esconde o rosto, como fazem os seus subordinados, e foi o primeiro a afirmar publicamente que a ação dos grupos criminosos tem como objetivo derrubar o governo.
“Se Ariel Henry não renunciar, se a comunidade internacional continuar a apoiar Ariel Henry, eles vão nos levar diretamente para uma guerra civil que terminará em genocídio”, disse Cherizier à Reuters.
“Pedimos à Polícia Nacional do Haiti e ao Exército que assumam a sua responsabilidade e prendam Ariel Henry. Mais uma vez, a população não é nossa inimiga; recentemente.
Barbecue também assumiu a responsabilidade pelo ataque de domingo, 3 de março, contra a maior prisão de Porto Príncipe, que permitiu a fuga de cerca de 3.000 presos.
Quem é Jimmy “Barbecue” Cherizier?
Pouco se sabe com detalhes sobre a vida do ex-policial, nascido em 30 de março de 1977, que se tornou líder de gangue e enfrenta sanções tanto das Nações Unidas quanto do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.
Especificamente, a ONU acusa Cherizier de cometer violações dos direitos humanos e de realizar ataques mortais contra civis, alegando que as suas ações “contribuíram diretamente para a paralisia econômica e a crise humanitária no Haiti”.
Os EUA também o acusam de violações dos direitos humanos e de realizar ataques brutais contra civis em Porto Príncipe, pelo menos desde 2018, como líder da aliança de nove gangues “G9”. Ele foi sancionado em 2020.
No final de fevereiro, o fotógrafo Giles Clarke entrevistou Cherizier em uma modesta casa no topo de uma colina em Delmas 6, um bairro de Porto Príncipe. Lá, Barbecue lhe disse que as gangues estavam tentando mudar o sistema atual e criar um novo Haiti.
Caos após assassinato do presidente
A ascensão de Cherizier tem aumentado desde o assassinato do então presidente haitiano Jovenel Moïse, em 2021, que levou a uma onda de agitação, crime e violência no país.
O próprio Cherizier anunciou à época que os seus homens iriam às ruas para protestar contra a morte de Moïse e pontuou que se tratava de uma “conspiração nacional e internacional contra o povo haitiano”, segundo a Reuters.
Entretanto, o primeiro-ministro Henry assumiu a liderança do Haiti interinamente após a morte de Moïse, e deveria convocar eleições para transferir o poder até 7 de fevereiro de 2024.
Mas isso não aconteceu, com o premiê dizendo, em vez disso, que as condições no país não eram suficientemente seguras para organizar eleições. E os tumultos recomeçaram, com Cherizier no comando.
“Optamos por tomar nosso destino em nossas próprias mãos. A batalha que estamos travando não derrubará apenas o governo de Ariel. É uma batalha que mudará todo o sistema”, ponderou o líder de gangue em comunicado.
*com informações de Michael Rios, Kyle Almond Caitlin Hu, Manveena Suri, Michelle Velez e Stefano Pozzebon, da CNN