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    Quem é Ghislaine Maxwell, a mulher no centro do escândalo de Jeffrey Epstein?

    Socialite é acusada de aliciar garotas menores de idade para o esquema de tráfico sexual mantido pelo ex-financista

    A socialite Ghislaine Maxwell ao lado do ex-namorado Jeffrey Epstein
    A socialite Ghislaine Maxwell ao lado do ex-namorado Jeffrey Epstein Foto: Albanpix/Shutterstock

    Tara John e Bianca Britton, da CNN

    A socialite britânica Ghislaine Maxwell foi presa nesta quinta-feira (2), em conexão com uma investigação de seu ex-namorado, o pedófilo condenado Jeffrey Epstein.

    Maxwell, de 58 anos, foi citada em vários processos por mulheres que acusam de abuso o financista americano, que se suicidou em agosto do ano passado. Ela foi presa nesta manhã no estado americano de Nova Hampshire, disse Nicholas Biase, um porta-voz do gabinete do advogado-geral dos Estados Unidos.

    Maxwell, cujo paradeiro era incerto desde a prisão de Epstein, é investigada por aliciar meninas e jovens mulheres.

    Após a morte de Epstein em agosto de 2019, a pressão pública subiu para responsabilizar aqueles que teriam o ajudado — como talvez Maxwell e um conjunto de outras mulheres que estariam subordinadas a ela. 

    Maxwell negou qualquer acusação e, em depoimento, chamou ao menos uma de suas acusadoras de “mentirosa”.

    Então, quem é ela? Por que estava se escondendo e quais acusações ela enfrenta?

    Quem é Ghislaine Maxwell?

    Nascida em 1961, a socialite britânica cresceu no interior da idílica Oxfordshire, filha de Robert Maxwell —um tcheco magnata do jornalismo que morreu sob circunstâncias misteriosas. O homem caiu de seu iate de luxo, chamado “Lady Ghislaine”, perto das Ilhas Canárias em 1991. Postumamente, foi descoberto que ele cometeu uma fraude de pensão contra seus funcionários.

    De acordo com Roy Greenslade, que trabalhou para Maxwell como editor do The Daily Mirror no começo dos anos 1990, Maxwell era mais próximo de Ghislaine do que qualquer um de seus filhos. “Ele era um pai monstruoso”, lembra Greenslade. “Ele tratava sua família inteira muito mal”. Mas quando se tratava da mais nova de seus nove filhos, Maxwell “a tratava com mais leniência do que qualquer um deles”.

    Na biografia do empresário, “Maxwell: A ascensão e a queda de Robert Maxwell e seu império”, Greenslade conta uma noite em particular em que estava no escritório com Maxwell e a adolescente entrou na sala. Ele diz que Maxwell deu uma bronca na filha por sempre “tomar riscos e fazer coisas estúpidas e perigosas” após ela ter um acidente quase fatal ao mergulhar de um barco.

    “Ela era muito astuta ao lidar com ele”, explica Greenslade, adicionando que ela sempre falava com doçura com seu pai, de maneira que ele achava difícil contrariar.

    Após Ghislaine sair, Greenslade diz que Maxwell se virou para ele com um senso de orgulho em sua voz. “Ela é como eu”. Isso, diz Greenslade, é uma evidência do porquê ele a favorecia mais do que qualquer outro.

    O inquérito da morte do empresário concluiu que o motivo foi um ataque cardíaco combinado com afogamento acidental. Mesmo assim, alguns acreditam que foi um suicídio, com seus negócios na beira da ruína.

    Na época, a maneira em que Ghislaine lidou com a tragédia familiar foi elogiada. “As pessoas que estavam lá na hora [da morte de Maxwell] dizem que ela encarou brilhantemente”, diz Greenslade. “Com olhos secos, lidando bem com a imprensa”.

    Após a morte de seu pai, ela teria se mudado para os Estados Unidos. “Ela provavelmente saiu sem dinheiro algum”, diz Greenslade, apesar de muitos especularem que ela mantinha renda de uma herança secreta.

    A socialite Ghislaine Maxwell
    A socialite Ghislaine Maxwell
    Foto: Laura Cavanaugh/Getty Images

    Nos Estados Unidos, Maxwell levava uma vida pública e socializava em círculos exclusivos, que incluíam pessoas ligadas à política. De acordo com testemunhas, Maxwell foi convidada para o casamento da ex-primeira-filha Chelsea Clinton e até estava nos bastidores da conferência da Iniciativa Global Clinton em 2009. Bari Lurie, uma porta-voz de Clinton, disse que o único motivo pelo qual ela conhece Maxwell é porque a socialite namorava um amigo dela.

    Maxwell também foi fotografada em 2000 com Donald Trump e sua então futura esposa, Melania Trump, ao lado de Epstein.

    Ela também estava ao fundo da famigerada foto com o Príncipe Andrew, que o mostra com os braços ao redor da cintura de uma mulher chamada Virginia Roberts —que alega que foi traficada por Epstein com ajuda de Maxwell e forçada a fazer sexo com os amigos dele, incluindo o príncipe, enquanto era menor de idade. O príncipe negou enfaticamente as alegações de Roberts e diz “não ter lembrança da fotografia ter sido tirada”.

    Em 2012, Maxwell fundou uma instituição de caridade, o Projeto TerraMar, que buscava encorajar a conservação dos oceanos. No entanto, a ONG encerrou as operações em dezembro do ano passado, de acordo com registros de empresas do Reino Unido. No mesmo ano, promotores federais em Nova York  deflagraram uma acusação criminal contra Epstein por ter operado um esquema de tráfico sexual entre 2002 e 2005, em que ele pagava garotas de até 14 anos para fazerem sexo com ele.

    Como ela está conectada a Epstein?

    Ghislaine Maxwell foi ex-namorada e companheira de Epstein, que morreu por suicídio em sua cela na cadeia aos 66 anos, enquanto aguardava o julgamento das acusações de abusar sexualmente de garotas menores de idade e de gerenciar um esquema de tráfico sexual. Ele negou as acusações.

    O par se separou nos anos 1990, apesar de a socialite ter continuado próxima do pedófilo. Seu nome é constantemente citado nos documentos que tiveram o sigilo retirado mais cedo neste ano, que alegam que ela era uma aliciadora para Epstein e outras pessoas públicas.

    Em 2003, Epstein descreveu Maxwell como sua melhor amiga em um perfil para a revista Vanity Fair.

    De acordo com várias pessoas em círculos influentes de Manhattan, inclundo duas de suas amigas, Maxwell teria apresentado Epstein a várias das personagens de sua vida social.

    Quais acusações Maxwell enfrenta?

    O príncipe Andrew ao lado de Virginia Guffre e Ghislaine Maxwell
    O príncipe Andrew ao lado de Virginia Guffre e Ghislaine Maxwell
    Foto: Florida Southern District Court

    Maxwell é acusada de aliciamento, conspiração para aliciar menores a atos sexuais ilegais, transporte de menores com intenção de atividade sexual criminosa e duas acusações de perjúrio, de acordo com o inquérito federal deflagrado nesta quinta.

    “Em particular, ao menos desde 1994, até ao menos 1997, Maxwell ajudou, facilitou e contribuiu para o abuso de garotas menores de idade por Jeffrey Epstein por, entre outras coisas, ajudar Epstein a recrutar, arrumar e, por fim, abusar de vítimas que sabiam ter menos de 18 anos”, diz o inquérito. Essas vítimas, de acordo com a acusação, incluem garotas a partir de 14 anos. Uma advogada de Maxwell, Jeffrey Pagliuca, não respondeu a pedidos de comentário.

    Virginia Roberts, que agora se chama Virginia Giuffre, acusou Maxwell de ser a pessoa que a apresentou a Epstein e de tê-la forçado a fazer sexo com o príncipe Andrew quando ela tinha 17 anos.

    Ela disse ter sido trazida a Londres em 2001, quando foi apresentada ao príncipe e foi a uma boate com ele, Epstein e Maxwell. Ela disse que esses abusos teriam acontecido em três localizações diferentes, incluindo Londres, Nova York e as Ilhas Virgens Americanas.

    Giuffre diz que quando deixou a boate londrina em que dançou com o duque de York, Maxwell lhe deu instruções. “No carro, Ghislaine me disse que eu tenho que fazer para Andrew o que faço para Jeffrey, e isso me enoja”, disse.

    O príncipe negou veementemente todas as alegações, dizendo à BBC no ano passado que “não tinha nenhuma lembrança de conhecer essa senhora, nenhuma mesmo”.

    O Palácio de Buckingham disse nesta quinta-feira que não comentariam sobre a prisão de Maxwell. Ela não tem nenhuma acusação no Reino Unido e ela e seus representantes negam qualquer participação em abuso e tráfico sexual. A defesa de Maxwell não respondeu ao pedido da CNN de comentário.

    Nos documentos da corte, Maxwell e sua advogada também pintaram Giuffre como uma “narradora pouco confiável”, dizendo ter erros em datas e números que ela contou.

    Jennifer Araoz, que está processando Epstein, diz que Maxwell e outras pessoas agiram como cúmplices. Segundo ela, a “rede de aliciadoras” de Epstein roubou sua juventude, identidade, inocência e autoestima.

    “Por mais que eu esteja brava que a morte do sr. Epstein signifique que ele pessoalmente não irá responder a mim na Corte, meu esforço para conseguir justiça só foi fortalecido”, disse em agosto do ano passado. “Minha história e experiência, aqueles que aliciaram e facilitaram seu comportamento criminoso, não serão diminuídas ou desaparecerão porque ele aparentemente decidiu tirar a própria vida”.

    Ela alega que Epstein cometeu abusos e agressões sexuais contra ela quando ela tinha entre 14 e 15 anos.  A defesa de Araoz diz que ela não interagiu pessoalmente com Maxwell, mas o processo alega que Maxwell “participava e ajudava Epstein a manter e proteger o esquema de tráfico sexual, garantindo que aproximadamente três garotas por dia estariam disponíveis para seu prazer sexual”.

    O texto também diz que ela dava “apoio organizacional para o esquema de Epstein, identificando e contratando recrutadores de garotas menores de idade” e “agendando compromissos com essas garotas”, bem como “intimidando testemunhas potenciais da operação de Epstein”.

    O paradeiro de Maxwell

    Apesar das acusações contra Maxwell, seu paradeiro era um mistério até sua prisão nesta quinta-feira.

    Para uma mulher que tentava se manter sob os holofotes, socializando com políticos e celebridades, ela se escondeu do olhar público muito bem.

    Os tabloides ficaram fascinados por onde ela teria ido. No último ano, um jornal britânico ofereceu 10 mil libras (aproximadamente R$ 67 mil) para qualquer um que revelasse onde ela estava, enquanto outros disseram tê-la visto em Massachusetts e no litoral brasileiro.

    Apesar dos rumores, apenas uma foto dela apareceu desde o início da controvérsia, quando o jornal New York Post publicou uma matéria que a mostrava em um restaurante de fast food nos Estados Unidos. No entanto, houve questionamentos sobre a veracidade da fotografia.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês)