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    Qual o tamanho do perigo que o arsenal militar da Coreia do Norte pode oferecer?

    Japão, aliado mais importante dos EUA no Pacífico, chamou testes recentes de mísseis de 'ameaça à paz e à segurança'

    Kim Jong-un observa o lançamento de míssil norte-coreano em 2019
    Kim Jong-un observa o lançamento de míssil norte-coreano em 2019 Foto: Reuters

    Análise de Brad Lendon, da CNN

    Dois mísseis balísticos disparados pela Coreia do Norte caíram inofensivamente no mar nesta quinta-feira (25), mas especialistas dizem que o lançamento é mais uma prova que o crescente arsenal militar de Kim Jong-un representa uma ameaça significativa para a Coreia do Sul, Japão e até mesmo para o continente americano.

    “Os Estados Unidos e seus aliados asiáticos consideram a Coreia do Norte uma grave ameaça à segurança”, afirmou o Conselho de Relações Exteriores (CFR, na sigla em inglês) na primeira frase de uma longa análise das capacidades militares de Pyongyang, que foram atualizadas em novembro.

    Talvez a declaração mais preocupante no relatório do CFR seja esta: “A Coreia do Norte poderia ter mais de sessenta armas nucleares, de acordo com estimativas de analistas, e testou com sucesso mísseis que poderiam atingir os Estados Unidos com uma ogiva nuclear”.

    Os mísseis balísticos que Pyongyang testou na quinta-feira – o segundo teste de armas em menos de uma semana – provavelmente eram de menor alcance e por isso não representariam perigo para o continente americano, disseram os analistas.

    Mas o Japão, o aliado mais importante dos EUA no Pacífico e sede de várias bases militares americanas com dezenas de milhares de soldados americanos, ficou alarmado.

    O primeiro-ministro Yoshihide Suga chamou os dois lançamentos, que foram disparados na direção do Japão, de “ameaça à paz e à segurança” de seu país.

    A Coreia do Norte já havia demonstrado que tem mísseis que podem atingir o Japão. Em 2017, testou dois mísseis balísticos que sobrevoaram o país antes de cair no Oceano Pacífico.

    Mais tarde naquele ano, Pyongyang testou um míssil balístico intercontinental (ICBM, em inglês), o Hwasong-15, que voou em direção ao céu antes de cair nas águas da costa do Japão. Se tivesse voado em uma trajetória padrão, poderia ter viajado 13 mil quilômetros, disse David Wright, especialista da Union of Concerned Scientists.

    “Esse míssil teria alcance mais do que suficiente para atingir Washington D.C. e, de fato, qualquer parte do território continental dos Estados Unidos”, disse Wright em um comunicado na época, embora tenha notado que o alcance provavelmente não seria possível se o míssil fosse equipado com uma ogiva nuclear pesada.

    Ainda assim, mesmo uma pequena ogiva nuclear pode causar uma carnificina incrível. A bomba atômica detonada sobre Hiroshima pelos EUA em 1945 matou 70 mil pessoas com sua explosão inicial e deixou dezenas de milhares de outras morrendo lentamente de queimaduras ou doenças relacionadas à radiação.

    A Coreia do Norte testou com sucesso bombas iguais em tamanho à bomba de Hiroshima e outras muito maiores.

    Maior míssil da Coreia do Norte

    Em outubro, a Coreia do Norte exibiu seu maior míssil – uma versão atualizada do Hwasong-15 que percorreu as ruas de Pyongyang em uma plataforma de lançamento móvel de 11 eixos durante um desfile militar.

    Falando após o evento, Harry Kazianis, diretor sênior de estudos coreanos do Centro de Interesse Nacional com sede em Washington DC, disse que o míssil parecia ser um novo ICBM de combustível líquido que “é muito maior e claramente mais poderoso do que qualquer coisa” do arsenal da Coreia do Norte.

    Mísseis balísticos lançados por submarino durante um desfile militar
    Foto divulgada pela Agência Central de Notícias da Coreia do Norte mostra o que parecem ser mísseis balísticos durante um desfile militar
    Foto: KCNA/ Reprodução

    O relatório do CFR observa, no entanto, que como o grande míssil exibido no desfile ainda não foi testado, suas reais capacidades permanecem desconhecidas.

    “Analistas disseram que ele poderia carregar várias ogivas nucleares ou iscas para confundir os sistemas de defesa antimísseis”, disse o relatório.

    A Coreia do Norte testou com sucesso bombas nucleares em seis ocasiões: em 2006, 2009, 2013, duas vezes em 2016 e em 2017, de acordo com o relatório do CFR. “Com cada teste, as explosões nucleares da Coreia do Norte aumentaram em poder”, disse o CFR.

    De acordo com um estudo realizado pelos sismólogos da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, o teste de 2017 foi de longe o maior, estimado em 250 quilotons de TNT. Em comparação, a bomba de Hiroshima teve um rendimento de 16 quilotons.

    Os especialistas também têm alguma cautela aqui. Apesar de detonar as bombas com sucesso, a Coreia do Norte ainda precisa demonstrar que pode acoplá-las com eficácia em um míssil balístico.

    Os mísseis balísticos são acionados apenas nos estágios iniciais de seu voo, atingindo o ápice em algum ponto e caindo sobre seus alvos.

    Mísseis balísticos de longo alcance deixam a atmosfera da Terra após o lançamento. Para atingir seus alvos, as ogivas desses mísseis devem sobreviver ao calor gerado quando eles reentram na atmosfera, assim como uma espaçonave tripulada deve fazer ao retornar da órbita.

    Míssil Correia do Norte
    Coreia do Norte exibe o que aparenta ser um novo míssil intercontinental com potencial para carregar múltiplas ogivas nucleares
    Foto: Korean Central TV/Reprodução

    Mas com os avanços que a Coreia do Norte fez – especialmente com o programa de modernização de mísseis de Kim – é provável que Pyongyang vá se dar bem com a tecnologia em algum momento, dizem os especialistas.

    “Teremos que aprender a conviver com a capacidade da Coreia do Norte de atingir os Estados Unidos com armas nucleares”, disse Jeffrey Lewis, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Middlebury, no relatório do CFR.

    A Coreia do Norte está construindo cada vez mais mísseis, tanto com capacidade nuclear quanto convencionais.

    Um artigo de 2020 do Ministério da Defesa da Coreia do Sul disse que Pyongyang tem 13 brigadas de mísseis. No desfile militar de outubro, nove mísseis foram revelados, incluindo o imenso ICBM e um míssil balístico de lançamento de submarino, de acordo com o documento.

    “Espera-se que a Coreia do Norte continue a atualizar suas capacidades nucleares e de mísseis em nome do fortalecimento de suas capacidades de autodefesa e mobilize toda a sua força de trabalho e recursos com o objetivo de melhorar a vida dos cidadãos até 2022, quando marca o 110º aniversário de Kim Il-sung “, disse o jornal, referindo-se ao fundador da Coreia do Norte.

    Exército de um milhão de soldados

    Embora muita atenção seja dada às ambições nucleares da Coreia do Norte, seus armamentos convencionais não devem ser subestimados.

    O exército de Pyongyang desenvolveu novos lançadores de foguetes múltiplos que podem atingir qualquer lugar na Coreia do Sul, disse o Ministério da Defesa de Seul, colocando em potencial perigo toda a população do país de mais de 50 milhões de pessoas.

    Além disso, quase 30 mil soldados dos EUA estão na Coreia do Sul em instalações militares dos EUA que pontilham o país.

    As unidades de operações especiais norte-coreanas podem ameaçar qualquer uma dessas bases, juntamente com a infraestrutura e indústria sul-coreanas, com uma combinação de comandos, pequenos aviões, helicópteros e barcos, aponta a análise sul-coreana.

    Números esmagadores em termos de mão de obra também favorecem a Coreia do Norte. O Ministério da Defesa sul-coreano estima o exército de Pyongyang em 1,28 milhão de pessoas, em comparação com os 550 mil de Seul.

    As forças terrestres da Coreia do Norte também podem convocar 4.300 tanques, 2.600 veículos blindados e 8.800 peças de artilharia, estima o sul.

    A Marinha do Norte conta com 430 navios de combate e 70 submarinos. E sua força aérea conta com 810 aeronaves de combate.

    Quando se trata de armas convencionais, as do Norte são mais antigas e menos avançadas do que as disponíveis para as forças da Coréia do Sul e dos Estados Unidos na Península Coreana. Mas o poder de fogo da Coréia do Norte poderia ser usado rapidamente em Seul porque a capital sul-coreana fica a apenas 50 quilômetros do paralelo 38, que divide a península.

    Especialistas dizem que há muitos motivos pelos quais a Coreia do Norte provavelmente não atacará o Sul, até porque isso poderia desencadear uma crise humanitária e o possível fim da dinastia Kim.

    No entanto, independentemente de Pyongyang cumprir suas ameaças, o CFR diz que o potencial de ataque não pode ser ignorado.

    “A posição militar avançada do regime (Kim) e os mísseis voltados para Seul garantem que as forças de Pyongyang permaneçam uma ameaça constante para seu vizinho do sul”, disse o relatório do CFR.

    (Texto traduzido; leia o original em inglês)