Putin indica que ajudará Coreia do Norte a desenvolver programa espacial e satélites
Líder russo encontrou com Kim Jong Un para discutir a relação entre os países; Coreia do Norte falhou em duas tentativas de lançar satélites ao espaço
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, indicou que o país pode ajudar a Coreia do Norte a desenvolver seu programa espacial e satélites. A fala acontece após o encontro entre o chefe de Estado russo e o norte-coreano, Kim Jong Un.
“O líder da Coreia do Norte mostra grande interesse no espaço, nos foguetes, e está tentando desenvolver o espaço. Mostraremos nossos novos objetos”, disse Putin.
Ainda assim, destacou que irão conversar “sobre todos os assuntos sem pressa, há tempo”.
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Um vídeo divulgado pelo Kremlin nesta quarta-feira (13) mostrou os dois líderes apertando as mãos antes de visitar o centro espacial russo e o complexo de foguetes adjacente, onde os veículos de lançamento são montados e testados, segundo a mídia estatal russa.
A Coreia do Norte fez da tecnologia espacial uma prioridade, mas ainda tem alguns caminhos a percorrer, tendo realizado testes e falhado duas vezes este ano na tentativa de lançar um satélite espião em órbita.
Kim também enfatizou o papel dos satélites militares como meio de proteger a segurança nacional e a estabilidade territorial e falou do seu valor estratégico ao mobilizar força militar preventivamente, informou a mídia estatal norte-coreana em abril.
Fornecer esse tipo de tecnologia à Coreia do Norte constituiria uma violação das sanções internacionais, destinadas a dificultar a capacidade de Pyongyang de construir um sistema de armas nucleares e de mísseis balísticos plenamente funcional.
A reunião entre os dois líderes, que durou cerca de cinco horas, foi “muito substantiva”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, segundo a agência de notícias russa RIA. Peskov afirmou também que a Coreia do Norte “demonstra enorme interesse em desenvolver laços bilaterais com a Rússia”.
Em resposta ao encontro dos líderes, a embaixadora dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas (ONU), Linda Thomas-Greenfield, disse que o envolvimento da Rússia com a Coreia do Norte era uma marca do seu desespero.
Encontro no centro espacial é “provocativo”
Durante a viagem, os dois líderes inspecionaram o complexo onde a Rússia planeja lançar sua próxima geração de espaçonaves.
As instalações foram construídas para receber veículos de lançamento, realizar preparativos, lançamentos e operações pós-lançamento, informou a agência de notícias estatal TASS.
Analistas avaliam que o local da cúpula desta quarta-feira, o centro espacial, tem um significado.
“O encontro no espaçoporto oriental da Rússia é particularmente provocativo, porque sugere que Putin pode oferecer tecnologia de lançamento de satélites que violam sanções em troca de munições norte-coreanas que Moscou empregaria na sua guerra ilegal na Ucrânia”, disse Leif-Eric Easley, professor de estudos internacionais na Ewha Womans University em Seul, à CNN.
A Rússia precisa de munições e foguetes, depois que mais de 18 meses de guerra na Ucrânia deixaram suas Forças Armadas prejudicadas, enquanto a Coreia do Norte, que enfrentou anos de sanções internacionais devido ao seu programa de armas nucleares, carece de tudo, desde dinheiro vivo e alimentos à tecnologia de foguetes.
A Coreia do Norte também sinalizou que a reunião aprofundaria os laços entre os dois países.
Encontro entre Putin e Kim Jong-un
Kim Jong-un chegou à Rússia na terça-feira (12) a bordo de seu trem particular fortemente blindado, acompanhado por líderes do partido e militares, de acordo com fotos compartilhadas pela mídia estatal norte-coreana.
Durante uma parada na cidade fronteiriça de Khasan, ele foi recebido por autoridades russas, e pontuou que sua viagem foi uma “manifestação clara” de Pyongyang “priorizando a importância estratégica” das relações Moscou-Pyongyang, informou a mídia estatal.
O ex-conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, alertou na terça-feira que o encontro entre Putin e Kim é “bastante significativo” e “vai muito além de um potencial acordo de armas”.
“Do ponto de vista da Coreia do Norte, isto faz com que voltem a ter contatos realmente significativos com a Rússia, pela primeira vez desde o colapso da União Soviética”, afirmou Bolton à CNN.
Após as negociações, o porta-voz do Kremlin, Peskov, ressaltou que “a Coreia do Norte é nosso vizinho próximo”, segundo a mídia estatal.
“E apesar de quaisquer comentários externos, construiremos relações com os nossos vizinhos de uma forma que seja benéfica para nós e para ele”, advertiu o porta-voz.
Também está na delegação norte-coreana o segundo no comando militar, Ri Pyong Chol, alvo de sanções dos EUA e da ONU por seu papel na liderança dos programas de mísseis balísticos do país como ex-chefe do Departamento da Indústria de Munições, mostram fotos da KCNA.
A irmã do líder da Coreia do Norte e oficial de alto nível, Kim Yo Jong, também foi vista ao lado do irmão enquanto ele assinava um livro de visitas.
Acompanhando Putin estava o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, que visitou Pyongyang em julho. Putin disse aos repórteres nesta quarta-feira que Shoigu “foi bem recebido” na Coreia do Norte e “temos muitas perguntas”.
*publicado por Tiago Tortella, da CNN