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    França prende mais de 1,3 mil após protestos: o que você precisa saber sobre as manifestações

    Mais de 40 mil policiais foram mobilizados para patrulhar cidades em todo o país, mais de 1.300 pessoas foram presas

    Sana Noor HaqJoshua BerlingerTara JohnBarry NeildXiaofei Xuda CNN

    A França foi abalada por uma onda de protestos depois que um jovem de 17 anos foi baleado e morto pela polícia perto de Paris na terça-feira (27), provocando a proibição de manifestações em algumas cidades, alertas contra viagens e reacendendo um debate sobre o excesso de policiamento em comunidades marginalizadas.

    Durante os protestos, veículos foram incendiados e prédios depredados. Houve confronto entre policiais e manifestantes. Mais de 1.300 pessoas foram presas e mais de 200 policiais ficaram feridos

    A agitação gerou uma resposta à crise do presidente francês Emmanuel Macron, que realizou uma reunião de emergência com ministros enquanto tenta superar as divisões e unir o país em seu segundo mandato.

    Abaixo, a CNN reúne o que você precisa saber sobre a situação na França.

    O que causou os protestos na França?

    Um policial matou a tiros o adolescente Nahel, que era de ascendência argelina, durante uma blitz no subúrbio parisiense de Nanterre, no início desta semana.

    Imagens do incidente mostraram dois policiais parados do lado do motorista do carro, sendo que um disparou sua arma contra o jovem, apesar de não parecer enfrentar nenhuma ameaça imediata.

    O policial disse que disparou porque estava com medo de que o menino atropelasse alguém com o carro, informou o promotor de Nanterre, Pascal Prache.

    Prache pontuou que se acredita que o policial agiu ilegalmente ao usar sua arma. Atualmente, ele está enfrentando uma investigação formal por homicídio e foi colocado em prisão preventiva.

    O que aconteceu desde então?

    Os manifestantes carregavam cartazes que diziam “a polícia mata” e centenas de prédios do governo foram danificados, enquanto a morte de Nahel aumenta a raiva pelo preconceito racial no país.

    Noites sucessivas de violência em toda a França e seus territórios ultramarinos, por sua vez, levaram as autoridades francesas a lançar uma repressão.

    Mais de 40 mil policiais foram mobilizados para patrulhar cidades em todo o país, 1.311 pessoas foram presas e mais de 200 policiais ficaram feridos.

    Somente em Paris, 5 mil agentes de segurança foram mobilizados. Os oficiais receberam poderes para reprimir tumultos, fazer prisões e “restaurar a ordem republicana”, disse o ministro do Interior francês, Gerard Darmanin.

    Ele disse que 2.560 incêndios foram relatados em vias públicas, com 1.350 carros queimados, e que houve 234 incidentes de danos ou incêndios em edifícios.

    Qual o impacto para Macron?

    Macron pediu 100 dias pacificar o país e restabelecer sua presidência após semanas de protestos contra as impopulares reformas previdenciárias no início deste ano.

    Mas as esperanças de uma redefinição agora provavelmente serão prejudicadas pelos protestos generalizados.

    Além disso, não passou despercebido que o presidente francês Emmanuel Macron foi a um show de Elton John na quarta-feira (28), enquanto carros queimavam e prédios eram destruídos em todo o país.

    O governo está trabalhando para evitar uma repetição de 2005, quando a morte de dois adolescentes que se escondiam da polícia desencadeou um estado de emergência em meio a três semanas de tumultos.

    Macron interrompeu sua participação na cúpula do Conselho Europeu em Bruxelas, que deveria durar até sexta-feira.

    Ele anunciou a proibição de todos os “eventos de grande escala” na França, incluindo “eventos comemorativos e numerosas reuniões”, e implorou aos pais que mantivessem seus filhos em casa, dizendo que um terço das pessoas detidas durante a noite eram jovens.

    O chefe de Estado também pediu que as plataformas de rede social ajudem a reprimir as manifestações, solicitando ao TikTok e ao Snapchat que retirem o “conteúdo mais sensível” e identifiquem usuários que usam “redes sociais para pedir desordem ou exacerbar a violência”.

    Questões sobre preconceito foram levantadas

    Ativistas acreditam que a raça de Nahel foi um fator para sua morte, revelando tensões profundas sobre a discriminação policial contra comunidades minoritárias na França.

    O secularismo – conhecido como “laïcité” em francês – é um fundamento da cultura francesa, pois busca defender a igualdade para todos, apagando “marcadores de diferença”, incluindo raça.

    Mas muitos negros na França dizem que têm mais probabilidade de serem vítimas da brutalidade policial do que os brancos.

    Um estudo de 2017 da Rights Defenders, uma organização independente de direitos humanos na França, descobriu que jovens considerados negros ou árabes tinham 20 vezes mais chances de serem parados pela polícia do que seus pares.

    Acusações de brutalidade há muito atormentam a polícia francesa. O Conselho da Europa criticou o “uso excessivo da força por agentes estatais” em um comunicado no início deste ano durante protestos contra as impopulares reformas previdenciárias de Macron.

    Grupos de direitos humanos, como a Anistia Internacional, acusaram a polícia francesa de discriminação étnica e recomendaram reformas profundas e sistêmicas para lidar com a discriminação.

    A ONU pediu à França que aborde “questões profundas de racismo e discriminação na aplicação da lei”, nos primeiros comentários da agência desde o assassinato.

    Em comunicado divulgado na sexta-feira (30), um porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos instou as autoridades francesas a “garantir que o uso da força pela polícia para lidar com elementos violentos em manifestações sempre respeite os princípios de legalidade, necessidade, proporcionalidade, não discriminação, precaução e responsabilidade.”

    O Ministério das Relações Exteriores da França posteriormente rejeitou os comentários da ONU, dizendo: “A França e suas forças policiais lutam com determinação contra o racismo e todas as formas de discriminação. Não pode haver dúvidas sobre esse compromisso”.

    “O uso da força pela polícia nacional e gendarmaria [uma força de segurança] é regido pelos princípios de absoluta necessidade e proporcionalidade, estritamente enquadrados e controlados”, acrescentou o ministério.

    É seguro viajar para a França?

    Com o início da alta temporada de viagens, vários países emitiram avisos severos para aqueles que visitam a França, onde as redes de transporte doméstico foram interrompidas.

    O Ministério do Interior anunciou que o transporte público, incluindo ônibus e bondes, fecharia em todo o país às 21h (hora local), antes de uma quarta noite de protestos.

    Toques de recolher limitados foram impostos em Clamart e Neuilly-sur-Marne, enquanto alguns serviços de ônibus foram interrompidos em Paris, mas o sistema de metrô estava operando normalmente. A estação ferroviária Nanterre-Préfecture foi fechada.

    Em Lille, os serviços de ônibus e bondes funcionaram próximo do normal na sexta-feira, com alguns desvios.

    Na cidade de Marselha, no sul, o transporte público deveria interromper os serviços às 19h.

    Não houve interrupção no serviço Eurostar que liga Londres, Lille e Paris como resultado dos protestos. Os trens intermunicipais franceses também não são afetados.

    Mais adiante, o Departamento de Estado dos EUA emitiu um alerta de segurança em 29 de junho, que incluía a França. Ele sugeriu monitorar os meios de comunicação para atualizações.

    Enquanto isso, a Grã-Bretanha emitiu um alerta de viagem instando os turistas a “monitorar a mídia” e “evitar áreas onde estão ocorrendo tumultos”.

    As autoridades alemãs também aconselharam seus cidadãos a “se informarem sobre a situação atual onde você está hospedado e evitar locais de tumultos violentos em grande escala”.

    *Dalal Mawad, Niamh Kennedy e Lindsay Isaac, da CNN, contribuíram para esta reportagem

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