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    Preso há quase 40 anos, americano é solto depois que testemunha mudou o relato

    Walter Forbes foi solto e disse que espera continuar o trabalho que começou na prisão com grupos de reforma prisional.

    Anna Sturla, da CNN

    Walter Forbes era um jovem estudante universitário em 1982 quando se colocou entre dois grupos que brigavam do lado de fora de um bar em sua pequena cidade no estado do Michigan.

    Um dos homens, Dennis Hall, se vingou no dia seguinte, atirando em Forbes quatro vezes. Walter Forbes sobreviveu ao tiroteio. Logo depois, Hall, o atirador, morreu em um incêndio aparentemente criminoso. Meses depois, Forbes foi condenado à prisão perpétua sem liberdade condicional pelo incêndio e assassinato, de acordo com documentos do tribunal.

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    Agora, depois de cumprir quase quatro décadas de pena na prisão, Forbes foi libertado depois que uma testemunha-chave retratou seu depoimento.

    Uma testemunha se apresenta

    De volta a 1982. A vítima, Dennis Hall, foi detida e solta sob fiança logo após atirar em Forbes. Nesse período em que estava solto aguardando o julgamento, Hall morreu em um incêndio em seu apartamento na cidade de Jackson. Sua noiva conseguiu escapar do fogo com a filha pequena do casal nos braços.

    Os investigadores de incêndio encontraram um recipiente azul de gasolina no local e evidências do uso de aceleradores dentro do primeiro andar do prédio, de acordo com documentos judiciais. 

    Forbes disse que soube da morte de Hall enquanto ouvia um programa matinal de rádio.

    “De algum jeito vão tentar me enquadrar nisso”, ele conta à CNN. “Esse pensamento passou pela minha mente já naquele momento”.

    Três meses após o incêndio, uma jovem mãe se apresentou à polícia.

    Annice Kennebrew disse que viu Forbes e dois outros homens carregando galões vermelhos de gasolina perto do prédio durante o incêndio e os viu derramar gasolina ao redor do imóvel, de acordo com documentos judiciais.

    O relato de Kennebrew difere do que os investigadores de incêndio encontraram. Enquanto ela descreveu a gasolina sendo derramada no exterior do edifício, os investigadores encontraram carbonização e evidências de aceleradores apenas no interior.

    Um recipiente que cheirava a gasolina foi encontrado no local. Era azul, e não vermelho, de acordo com os documentos do tribunal.

    Um dos acusados passou no teste do polígrafo e as acusações contra ele foram rejeitadas. Um segundo foi absolvido. Apenas Walter Forbes foi condenado.

    Dois incêndios

    O júri ouviu apenas parte de outro conjunto de evidências, justamente aquele fornecido por uma pessoa que teria a ganhar com o incêndio.

    Já outras evidências em favor da inocência de Forbes foram ignoradas. Uma delas veio de informante anônimo, que ligou para a polícia quatro dias após o incêndio, atribuindo a responsabilidade ao proprietário do prédio.

    No entanto, a denúncia foi considerada inadmissível na época, segundo o atual advogado de Forbes, Imran Syed, da organização Michigan Innocence Clinic.

    David Jones, que era dono do prédio na época, fez um seguro dois meses antes do incêndio, de acordo com notas do investigador de incêndio resumidas pela defesa.

    No julgamento, Jones testemunhou que o valor máximo de revenda da propriedade era de US$ 35 mil. O seguro pagou US$ 50.200, de acordo com documentos judiciais.

    Depois que Walter Forbes foi condenado, uma testemunha se apresentou, informando o investigador que sabia que uma pessoa tinha iniciado o incêndio a pedido de Jones, o dono do imóvel, em troca de US$ 1.000.

    Não ficou claro se as autoridades deram seguimento às informações.

    Anos depois, em 1990, Jones foi julgado em outro caso. Ele não contestou uma acusação de fazer parte de uma fraude envolvendo incêndio criminoso no condado de Livingston, na mesma região.

    Durante a investigação, um cúmplice mencionou que Jones estava envolvido em um incêndio na cidade de Jackson em 1982, de acordo com documentos judiciais.

    Enquanto estava na prisão, Forbes disse que estava folheando um jornal quando viu um artigo sobre o caso de 1990. Ele disse que se sentiu aliviado ao ver como os casos de incêndio criminoso eram semelhantes.

    “Esse cara tinha um padrão”, disse Forbes à CNN. Jones, o dono do prédio, morreu algum tempo antes da organização Michigan Innocence Clinic assumir o caso de Forbes.

    Retratação

    Forbes entrou em contato com a Michigan Innocence Clinic, que começou a examinar seu caso em 2010.

    Administrada por advogados e estudantes da Universidade de Michigan, a organização ficou espantada com o uso de uma única testemunha para condenar um homem por assassinato.

    “Queríamos duas coisas: falar com a testemunha e ver qual era a sua história. Também sabíamos que havia um suspeito alternativo desde o início neste caso”, afirmou o advogado Syed.

    Syed e sua equipe começaram a procurar Annice Kennebrew, a noiva do falecido, tentando entender o que exatamente ela tinha visto. Finalmente, doente com uma doença respiratória, ela falou com eles em 2017.

    “Ela confessou tudo. Ela disse que na hora do incêndio tinha 19 anos e dois homens do bairro se aproveitaram disso”.

    Como a mulher contou, semanas depois do incêndio, dois homens se aproximaram dela e a pressionaram para implicar Forbes e dois outros homens no incêndio criminoso.

    “Eles ameaçaram matar meus filhos, pais, irmãos e eu se eu não denunciasse à polícia e testemunhasse no julgamento que vi Walter e os outros dois homens atearem fogo na casa”, contou Kennebrew em uma declaração juramentada de 2017.

    “Tudo o que eu disse à polícia e tudo o que testemunhei no julgamento em relação ao meu testemunho do início do incêndio, foi tudo uma invenção”, continuou a declaração. “Pelo que eu sei, Walter não teve nada a ver com este crime”.

    Annice Kennebrew hesitou em falar sobre seu testemunho quando foi contatada pela CNN. Quando questionada se foi pressionada antes de seu testemunho inicial, ela disse: “Foi difícil. Eu era uma muito jovem”.

    Ela disse que se retratou “porque era a coisa certa a fazer”.

    Kennebrew, Forbes e Syed disseram que não estava claro por que os dois homens a pressionaram para acusar o trio. Forbes disse que eles podem ter brigado com seu irmão, mas ele não tinha certeza do motivo exato.

    O juiz do Tribunal do Condado de Jackson ouviu o caso remotamente em maio e junho.

    A organização jurídica argumentou que Walter Forbes devia ter um novo julgamento com base na retratação de Kennebrew e na condenação de Jones em 1990.

    “Nada é impossível, mas se você não tiver provas, não poderá sustentar uma condenação”, disse Syed.

    Depois de reinvestigar o caso, o escritório do promotor do Condado de Jackson optou por se opor à moção da Michigan Innocence Clinic para isenção da sentença.

    Em sua resposta à petição da clínica, o promotor do condado argumentou que a Forbes tinha que “mostrar que a probabilidade de ser absolvido pelo júri seria maior do que a de ser condenado” caso ele tivesse um novo julgamento.

    O processo do promotor também argumentou que as inconsistências no depoimento original de Kennebrew eram insignificantes, e ela poderia ter “facilmente” se confundido sobre as cores enquanto o resto de seu relato era válido.

    Os promotores também questionaram por que os dois homens teriam pressionado Annice Kennebrew a fazer a falsa acusação naquela época. Ambos os homens morreram desde então, de acordo com documentos judiciais.

    O promotor do condado de Jackson não respondeu aos pedidos de comentários da CNN.

    O juiz rejeitou a condenação de Forbes há alguns meses, e o promotor do condado então apresentou uma moção para encerrar o caso.

    Walter Forbes ganhou a liberdade em 20 de novembro. Ele disse que espera continuar o trabalho que começou na prisão com grupos de reforma prisional. Ser libertado, disse ele, foi como ver uma “visão se desdobrar”.

    O advogado Syed tomou conhecimento do caso de Forbes quando era estudante de direito na Universidade de Michigan, trabalhando na organização, e atuou no caso durante sua primeira década como advogado.

    “Não é tão difícil. Não é um caso de DNA. Não é um caso de ciência forense. É muito simples”, disse Syed. “É muito triste que tenha demorado 38 anos para se resolver”.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

     

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