Presidente do Egito garante terceiro mandato com 89,6% dos votos
A eleição contou com três outros candidatos, nenhum deles com força política


Abdel Fattah al-Sisi garantiu – com 89,6% dos votos – o terceiro mandato como presidente do Egito, anunciou a Autoridade Nacional de Eleições nesta segunda-feira (18).
A eleição ocorreu enquanto o Egito luta contra uma crise econômica e tenta gerenciar a guerra entre Israel e Hamas.
Alguns eleitores disseram que o conflito em Gaza os encorajou a votar em Sisi, que há muito tempo se apresenta como um elemento de estabilidade no Oriente Médio – um argumento que também se mostrou eficaz com o Golfo e aliados ocidentais fornecendo apoio financeiro ao governo egípcio.
A votação no país foi realizada ao longo de três dias, com o Estado e a mídia local – que é controlada pelo governo – pressionando para aumentar a participação da população, que a autoridade eleitoral disse ter alcançado 66,8% – acima dos 41% registrados na última corrida presidencial em 2018.
A eleição contou com três outros candidatos, nenhum deles com força política. O único político, que tinha potencial de opor o presidente egípcio, desistiu da candidatura em outubro alegando que sofria perseguição. A Autoridade Nacional de Eleições nega as acusações.
“Não houve eleições, Sisi usou todo o aparato estatal e as agências de segurança para impedir que qualquer candidato sério concorresse”, disse Hossam Bahgat, chefe da Iniciativa Egípcia para os Direitos Pessoais (um grupo independente).
“Assim como da última vez, ele escolheu a dedo seus oponentes que só participaram do processo de forma silenciosa e sem criticar o governo do atual líder”, afirma.
A mídia estatal do Egito disse que a votação foi um passo em direção ao pluralismo político e as autoridades negaram violações das regras eleitorais.
Constituição alterada
Sisi, um ex-general, supervisionou uma ampla repressão à dissidência em todo o espectro político desde a derrubada do primeiro líder democraticamente eleito do Egito em 2013, Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana.
Ele foi eleito para a presidência em 2014 e reeleito em 2018, ambas as vezes com 97% dos votos. A constituição foi alterada em 2019, estendendo o mandato presidencial de quatro para seis anos e permitindo que Sisi se candidatasse a um terceiro mandato.
Muitos egípcios expressaram indiferença sobre a eleição, dizendo que o resultado foi uma conclusão inevitável.
Repórteres da Reuters que cobriram a votação no Cairo, Gizé, Suez e na Península do Sinai testemunharam pessoas sendo levadas de ônibus para alguns locais de votação.
Um repórter da Reuters viu sacos de farinha, arroz e outros produtos básicos sendo entregues às pessoas que votaram na cidade de Gizé. Alguns eleitores disseram que foram pressionados por seus empregadores a participar, ou que incentivos financeiros foram oferecidos àqueles que votaram.
O órgão de mídia estatal disse que qualquer entrega de dinheiro ou bens em troca de votos era uma ofensa criminal, punível com multas ou prisão.
(Reportagem de Farah Saafan; escrita por Aidan Lewis; edição por Nick Macfie e Mark Heinrich)