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    Prefeitos da Venezuela mandam marcar casas de pacientes com Covid-19

    Procuradoria-geral venezuelana classificou medidas como ‘macabras’ e informou que vai investigá-las

    Prefeitos causaram polêmica na Venezuela ao marcar casas de possíveis pacientes da Covid-19 com sinais de alerta
    Prefeitos causaram polêmica na Venezuela ao marcar casas de possíveis pacientes da Covid-19 com sinais de alerta Foto: Reprodução/luisadrianduque

    Stefano Pozzebon

    Dois prefeitos venezuelanos se envolveram em uma situação polêmica depois de marcar as casas de potenciais pacientes da Covid-19 com sinais de alerta – uma medida que foi duramente criticada por ONGs de direitos civis e levou a uma investigação do procurador-geral da Venezuela.

    Em um vídeo postado em seu perfil no Instagram na terça-feira (6), o prefeito Luis Adrian Duque, da cidade de Guama, um pequeno vilarejo no estado venezuelano de Yaracuy, anunciou a medida como parte da política de bloqueio da cidade.

    “Estamos protegendo nosso povo, [esta placa] indica um caso positivo ou um caso potencial, para que as pessoas fiquem cientes”, diz Duque no vídeo, enquanto aponta para uma placa vermelha de proibição colocada na janela de uma casa local.

    As pessoas flagradas removendo as placas Covid-19 de suas casas seriam multadas em 10 milhões de bolívares, o equivalente a R$ 28, mas uma quantia fora do alcance de muitos na Venezuela, onde o salário mínimo mensal é inferior a um dólar americano. Aqueles que não pudessem pagar a multa seriam obrigados a cumprir dias de serviços comunitários “voluntários”, informou Duque.

    Na cidade vizinha de San Felipe, uma imagem postada pelo gabinete do prefeito também mostrou policiais locais parados ao lado de uma placa semelhante de “quarentena”. A foto, que elogiava a campanha do prefeito Rogger Daza contra o coronavírus, foi removida das redes sociais.

    Alguns venezuelanos elogiaram o prefeito Duque por tomar uma posição firme contra a pandemia, que pressionou um setor da saúde já prejudicado por sete anos de crise econômica.

    Segundo dados coletados pelo governo venezuelano, o país registrou um total de 169.074 casos e 1.693 mortes. No entanto, as autoridades de saúde e a oposição venezuelana questionaram a capacidade do governo de coletar e analisar os números e alertaram que a quantidade real de casos poderia ser muito maior.

    Mas as críticas à estratégia de marcar as casas também foram ferozes. A ONG local venezuelana “Acesso à Justiça” condenou os sinais como prejudiciais à dignidade dos pacientes, e um grupo de direitos civis em Yaracuy convocou um protesto virtual nas redes sociais, uma vez que reuniões públicas estão proibidas na Venezuela como medida de enfrentamento à pandemia.

    Miguelangel Delgado, 33, de San Felipe, lamentou os sinais e os considerou como forma de provocar medo. “As pessoas estão com medo, há muita rejeição a essa forma de lidar com a pandemia, mas também há muito medo a ser destacado.”

    Henry Narvae, 23, um residente local, disse à CNN que tais medidas de contenção extremas eram uma distração da falta real de serviços de saúde. “A única solução que as autoridades colocaram é limitar os cidadãos sem fornecer qualquer assistência”, lamenta.

    “Aqui em Guama, o prefeito já passou a marcar casas e aterrorizar a população com os militares, o que me lembra os nazistas, enquanto a cidade só tem uma ambulância para movimentar os pacientes”, acrescentou.

    Nem Duque nem Daza responderam às tentativas de contato da CNN por telefone e mensagens. Um porta-voz do governador de Yaracuy, Julio Leon, que está atualmente em quarentena após ser diagnosticado com Covid-19, disse à reportagem que o gabinete do governador estava ciente das placas exibidas em Guama, mas não deu detalhes se Duque enfrentaria alguma censura das autoridades locais. Eles também disseram que voltariam a entrar em contato com uma resposta, o que não ocorreu até a publicação desta matéria. 

    Investigação

    Na noite de quarta-feira (7), o procurador-geral venezuelano Tarek William Saab anunciou uma investigação sobre as ações de Duque, classificando-as de “macabras” e não sancionadas pelo governo venezuelano. Saab confirmou à CNN que o prefeito estava sob investigação, mas disse que não poderia comentar o caso em andamento. O procurador-geral levou várias horas para intervir na situação e, quando o fez, as redes sociais estavam em chamas em torno do assunto.

    Os dois prefeitos não estão sozinhos ao ordenar medidas drásticas na tentativa de conter o vírus. O próprio presidente Nicolas Maduro deu um passo extremo ao ordenar que todos os casos potenciais de Covid-19 fossem hospitalizados em hospitais locais ou colocados em quarentena em hotéis e centros recreativos.

    Na quinta-feira de manhã (8), no entanto, pelo menos um dos sinais exibidos em Guama foi removido, disse Narvae à CNN, descrevendo-o como um pequeno gesto de desafio. “O prefeito quer dar a impressão de controle, mas as pessoas não estão bem com isso”, afirmou.

    Osmary Hernandez, em Caracas, e Keren Torres, em Barquisimeto, contribuíram para esta matéria.

    (Texto traduzido, leia o original em inglês

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