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    Possível envenenamento de opositor de Putin “era para matar”, diz ativista

    Leonid Volkov, braço direito de Alexei Navalny fala sobre o possível envenenamento do colega e a política russa

    Líder ativista da oposição ao governo russo, Alexei Navalny
    Líder ativista da oposição ao governo russo, Alexei Navalny Foto: Reuters

    Phil Black, Sebastian Shukla e John Torigoe

    da CNN

    Por vários anos, Leonid Volkov teve o mesmo pesadelo sobre o melhor amigo e colega, o ativista líder da oposição russa, Alexei Navalny.

    “Eu costumava ter um pesadelo de que eu acordava com uma ligação que me dizia que Alexei tinha sido assassinado ou algo de muito ruim tinha acontecido com ele”, relembra em entrevista à CNN. “Eu tive esse pesadelo pelos menos dez vezes”.

    Na semana passada, o pior aconteceu. Uma ligação pela manhã o avisou que Navalny havia passado muito mal em um vôo que vinha da cidade de Tomsk, na Sibéria, e estava em coma. Volkov disse ter vivido o momento várias vezes em sua mente não tornou a realidade mais fácil de se processar.

    “Eu estava aterrorizado. É claro, foi uma bomba em meu emocional”, ele descreve. “Passaram-se várias horas até que eu pudesse me concentrar em algo”.

    Entretanto, no papel de líder da equipe de Navalny, ele tinha um trabalho a fazer: tirá-lo da Rússia e levá-lo a um lugar em que pudessem confiar no tratamento.

    Volkov, juntamente com a ONG (Organização Não-Governamental) alemã, Cinema pela Paz, providenciou uma ambulância aérea, que esperou durante horas enquanto médicos russos insistiam que a condição do ativista era muito ruim para movimentações.

    Os aliados de Alexei Navalny acreditam que o atraso foi deliberado e tinha a intenção de tornar o veneno em seu corpo indetectável.

    Ele acabou sendo foi transferido para Berlim, onde médicos do Hospital Charite determinaram que ele provavelmente foi envenenado por uma substância do grupo de químicos conhecidos como inibidores de colinesterase. 

    A equipe médica enfrenta dificuldade para determinar o veneno específico. O desconhecimento dessa substância foi usado como justificativa pelo porta-voz do presidente russo Vladimir Putin para o fato de as autoridades ainda não terem aberto uma investigação criminal.

    Volkov afirma que essa resposta é apenas um dos fatores que apontam o envolvimento do Estado russo em uma tentativa de assassinar o opositor.

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    “Baseado na informação que tenho neste momento, eu acredito firmemente que foi o Estado ou parte do Estado. No momento, não temos provas de que Putin ordenou isto. Então pode ter sido uma das agências do governo. Mas o nível de organização, as substâncias usadas, não são coisas que se pode comprar em uma farmácia ou em qualquer esquina”, disse Volkov.

    A Rússia nega qualquer tentativa de prejudicar Navalny.

    ‘A única proteção: Publicidade’

    Volkov diz que seu amigo conhecia os riscos. Outras figuras da oposição foram baleadas, agredidas e envenenadas anteriormente. Navalny, segundo seu braço direito, nunca pensou em mudar o comportamento ou deixar o trabalho de ativismo.

    “Quando conversamos sobre isso, nosso pensamento foi que nossa única proteção possível era a publicidade ostensiva. Quanto mais apoiadores tivéssemos, maiores seus números de aprovação, mais perigoso era para o Kremlin tentar matá-lo”.

    Então por que agora? Faz anos que Navalny desafia a elite russa publicamente. Se as pessoas no estado russo tentaram matá-lo, por que arriscaram transformar um ativista admirado em um mártir político?

    Volkov disse que acredita em duas possibilidades.

    A primeira: Belarus. Navalny apoiou abertamente os protestos no país vizinho após as eleições presidenciais polêmicas. Ele incitou que os russos demonstrassem a mesma paixão para derrubar seus próprios líderes. Putin já demonstrou várias vezes rejeição por protestos de rua.

    E em duas semanas, a Rússia passará por suas próprias eleições municipais. A organização de Alexei Navalny tem se preparado para esse evento com muitas campanhas para promover votos contra candidatos pró-Putin.

    No fim das contas, disse Volkov, alguém fez um cálculo: os benefícios de remover Navalny da política russa eram maiores que os problemas que causariam seus apoiadores injuriados.

    “Foi uma tentativa de matá-lo, não de lhe dar um susto”, disse o amigo.

    A recuperação do ativista deve ser lenta. Demorará algum tempo até que se saiba se ele irá continuar em seu papel de crítico mais ferrenho do Kremlin.

    Como seria uma Rússia sem Navalny? “Não estamos considerando essa possibilidade”, finalizou Volkov.

    (Texto traduzido do inglês, clique aqui para ler o original)