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    Por que Kamala Harris venceu a corrida para a vice-presidência

    'Biden sinalizou que está extremamente focado para as eleições em novembro e que vê Kamala Harris como a melhor aposta para vencer', opina David Axelrod

    Opinião de David Axelrod*, comentarista político sênior da CNN

    É típico destes tempos extraordinários que vivemos que a escolha histórica de Joe Biden para a candidata a vice-presidente em sua chapa também tenha sido a mais convencional.

    Ao indicar Kamala Harris, Biden selecionou a candidata que esteve na vanguarda entre as opções que circulavam tanto entre políticos como nos mercados de apostas durante meses. Ao nomear a senadora da Califórnia, Biden cumpre a promessa de indicar uma mulher e responde à expectativa de que escolheria a primeira mulher negra a compor uma chapa à presidência.

    A pressão para fazer essa escolha vinha crescendo desde que o assassinato de George Floyd sob os joelhos de um policial de Minneapolis desencadeou protestos em todo o país contra a desigualdade racial.

    Além da natureza histórica da definição por Harris, muitos apoiadores argumentaram que a presença de uma pessoa não branca na chapa era necessária para motivar os eleitores negros. Em 2016, a baixa participação de eleitores negros ajudou a condenar a corrida de Hillary Clinton contra Donald Trump.

    Harris é uma política carismática e com boa presença no vídeo. Depois de se eleger senadora dos EUA e de se lançar pré-candidata à presidência, Harris entrou na corrida para a vice de Biden e acabou vitoriosa.

    Pessoas familiarizadas com a pesquisa que a campanha empreendeu para balizar a decisão me disseram que os eleitores a viam como uma das mais qualificadas para ser presidente desde o primeiro dia, se necessário – um ponto positivo importante, dado o status de Biden como potencialmente o político mais velho a servir como presidente.

    A senadora também conhece muito bem o turbilhão de uma campanha nacional, tendo passado um ano concorrendo à presidência, embora sem sucesso. Embora às vezes ela tenha perdido um pouco a mão ao lidar com as críticas vindas da mídia e dos oponentes, Harris entende o ritmo e a natureza da mecânica eleitoral, o que só se intensificará em uma disputa contra Trump.

    A chapa democrata à presidência dos EUA, Joe Biden e Kamala Harris
    A chapa democrata à presidência dos EUA, Joe Biden e Kamala Harris
    Foto: Reprodução/Instagram @schultzinit (11.ago.2020)

    Uma das principais tarefas de um companheiro de chapa é desempenhar um papel de liderança na apresentação do caso contra a outra chapa, especialmente no debate entre candidatos à vice-presidência.

    Ex-promotora, Harris é conhecida como um interrogadora feroz no Capitólio e provou ser uma debatedora perspicaz durante a campanha. Joe Biden sabe disso muito bem. Ele foi várias vezes o alvo dela no primeiro debate das primárias, há 14 meses, quando Harris o confrontou teatralmente sobre sua posição sobre a prática do busing nos anos 1970 (uma política que levava crianças negras para escolas melhores em bairros brancos, de ônibus, daí o nome busing).

    A discussão – em que Harris contou sua própria experiência como uma criança que se beneficiou do busing por um breve período – elevou Kamalla para o escalão mais alto de candidatos nas pesquisas. Ao mesmo tempo, também foi uma fonte de atrito com Biden e sua família, que poderia comprometer uma eventual indicação sua como candidata a vice.

    No final, Biden considerou os outros candidatos e candidatas seriamente, mas voltou a Harris como a pessoa que “não iria causar danos”, nem fortes emoções ou indignação. Ela pode não parecer a escolha mais confortável como parceira de governo, uma qualidade que Biden disse que estava procurando, mas era vista como a escolha mais segura para vencer em novembro.

    Ao chamá-la, Biden provavelmente também definiu a dinâmica para a eleição de 2024, não apenas a atual. O ex-vice-presidente não disse que se demitirá após um mandato, embora, dado o fato de que terá 81 anos na próxima eleição, é amplamente aceito que ele não concorrerá.

    Isso também colocará Harris não apenas em uma posição histórica, mas bastante desafiadora, caso a chapa Biden-Harris vença. A senadora imediatamente seria empossada como a aparente e suposta substituta da indicação presidencial do Partido Democrata daqui a quatro anos.

    Ou seja, ela se tornaria um alvo imediato para os republicanos que buscam infligir danos políticos ao candidato que eles podem enfrentar nas urnas em 2024. Também a desafiaria a equilibrar os papéis de vice-presidente leal e solidária e de candidata à espera de sua vez.

    Equilibrar essas pressões seria um desafio para qualquer um que assumisse o segundo posto nessas circunstâncias únicas, mas talvez ainda mais para Harris, 55 anos, que já buscou a presidência e presume-se que ainda almeja esse objetivo.

    Outras candidatas consideradas por Biden poderiam compor uma parceria mais confortável. Aparentemente, Biden se deu muito bem com a governadora Gretchen Whitmer, de Michigan, mas ela não teria realizado o desejo de quem priorizou uma candidata não branca.

    Whitmer, uma escolha moderada branca, também teria levantado questões entre os apoiadores da campeã entre os progressistas, Elizabeth Warren, senadora de Massachusetts. Warren ficou bastante conhecida após uma vida inteira de defesa de direitos e por fazer uma forte campanha para presidente como uma formuladora de políticas dura, brilhante e capaz.

    Mas alguns também viram Warren como a mais polarizadora dos candidatas potenciais, o que poderia ser usado por Trump como evidência de que o moderado Biden seria apenas um Cavalo de Troia para a esquerda.

    Karen Bass, deputada da Califórnia, amplamente respeitada como presidente da bancada negra no Congresso (a frente parlamentar para os afroamericanos), emergiu no final do processo como a favorita de alguns membros da equipe de Biden e de líderes democratas no Congresso. Mas foi prejudicada por falar sobre suas posições antigas sobre Cuba, que alguns democratas da Flórida alertaram que pode custar a Biden o mais importante estado de batalha.

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    Susan Rice era bem conhecida de Biden por seu papel como conselheira de segurança nacional do presidente Barack Obama, o que talvez lhe proporcionasse a visão mais profunda das demandas da presidência. Mas ela nunca se candidatou a um cargo antes e sua escolha, temiam, teria revivido os ataques à maneira como lidou com o ataque terrorista em Benghazi, na Líbia, o que poderia ser uma distração.

    A senadora Tammy Duckworth, de Illinois, uma valente veterana da guerra do Iraque, também subiu no processo. Mas alguns temiam que o fato de Duckworth ser filha de mãe tailandesa e pai norte-americano, com a infância na Tailândia e na Indonésia, iria acender uma nova rodada de ataques de birtherism (termo que remete às teorias da conspiração do nascimento de Obama) injustificados, outra distração desnecessária.

    Harris foi testada publicamente, pelo menos parcialmente, durante sua corrida para a Casa Branca. E, embora Biden possa ter dúvidas sobre como ela atuaria como vice-presidente, também nunca poderá acusá-la de causar sua derrota caso não seja eleito.

    Ao fazer sua escolha, Biden sinalizou que está extremamente focado para as eleições em novembro e que vê Kamala Harris como a melhor aposta para vencer.

    *David Axelrod, comentarista político sênior da CNN e apresentador de “The Ax Files”, foi conselheiro sênior do presidente Barack Obama e estrategista-chefe para as campanhas presidenciais de Obama em 2008 e 2012. As opiniões expressas neste artigo são dele. Veja mais artigos de opinião na CNN.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

     

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