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    Por que aliados de Biden no Oriente Médio não condenaram invasão da Ucrânia

    Emirados Árabes Unidos se abstiveram em resolução que condenava Rússia; neutralidade não é sustentável se conflito se prolongar, dizem analistas

    Nadeem Ebrahimda CNN

    Os Emirados Árabes Unidos surpreenderam seus aliados ocidentais na semana passada, quando se abstiveram em uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas redigida pelos Estados Unidos que condenava a Rússia pela invasão da Ucrânia.

    A medida representou uma declaração de neutralidade de um dos aliados mais próximos dos Estados Unidos no Oriente Médio em uma guerra que polarizou a comunidade internacional.

    Anwar Gargash, conselheiro do presidente dos Emirados Árabes Unidos, disse que tomar partido “só levaria a mais violência”. A prioridade dos Emirados Árabes Unidos é “encorajar todas as partes a recorrer à ação diplomática e negociar para encontrar uma solução política”, disse ele.

    A guerra na Ucrânia, que começou menos de dois meses depois que os Emirados Árabes Unidos receberam um assento no Conselho de Segurança, impulsionou a mudança da política externa do país para o cenário mundial, mostrando como o Estado do Golfo tenta conciliar seus laços entre aliados tradicionais e parcerias prósperas. Isso também demonstra a luta enfrentada pelo Ocidente para obter a condenação inequívoca por seus aliados da invasão feita pela Rússia.

    Os Emirados Árabes Unidos pediram uma “solução pacífica” para a “crise da Ucrânia de uma forma que garanta os interesses e a segurança nacional de todas as partes”, disse o príncipe herdeiro de Abu Dhabi em um telefonema com o presidente russo, Vladimir Putin, na terça-feira (1). Eles também discutiram a cooperação energética.

    Outros estados árabes também se abstiveram de condenar a invasão russa. A Arábia Saudita, que tem a Rússia como seu principal parceiro na aliança Opep+ para coordenar a produção de petróleo, disse na terça-feira que “apoia os esforços internacionais de desmobilização na Ucrânia”. A Liga Árabe, na segunda-feira (28), também pediu a desmobilização e contenção em um comunicado conjunto. Nenhum dos dois condenou o ataque da Rússia contra a Ucrânia.

    “Os Emirados Árabes [não deveriam] mais ser projetados como uma marionete dos Estados Unidos”, disse Abdulkhaleq Abdulla, professor de ciência política nos Emirados Árabes Unidos. “Só porque temos relações tão boas com os Estados Unidos, não recebemos ordens de Washington e temos que fazer coisas consistentes com nossa própria estratégia e prioridade”.

    A aparente pavimentação de uma política externa independente pelos Emirados Árabes Unidos ocorre em meio à frustração de Abu Dhabi com o tratamento do governo Biden sobre questões importantes para a nação do Golfo.

    Logo depois que Biden assumiu o cargo, ele removeu os rebeldes houthis do Iêmen, apoiados pelo Irã, da lista de organizações terroristas dos EUA. Menos de um ano depois, os houthis começaram uma campanha de ataques fatais em Abu Dhabi. Os EUA se comprometeram a reforçar as defesas dos Emirados Árabes Unidos, mas Abu Dhabi quer uma nova designação dos houthis como terroristas.

    Em dezembro, os Emirados Árabes suspenderam as negociações para um acordo de US$ 23 bilhões com os EUA para adquirir caças F-35, depois que as negociações foram paralisadas pelo governo. Então, no mês passado, o país do Oriente Médio anunciou que estava comprando caças da China pela primeira vez.

    “Os Emirados Árabes Unidos ainda precisam descobrir como navegar no novo mundo multipolar”, disse Cinzia Bianco, pesquisadora sobre Europa e Golfo do Conselho Europeu de Relações Exteriores, no Twitter. “Os Emirados Árabes e outras monarquias do Golfo estão reavaliando as relações com os EUA que, em sua opinião, renegaram sua parte do acordo: fornecer segurança”.

    Mais próximos da Rússia

    Enquanto isso, os laços com Moscou só ficaram mais fortes.

    Dois anos atrás, o governante de fato dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Mohammed bin Zayed al-Nahyan, recebeu o presidente russo, Vladimir Putin, na capital em uma grande cerimônia, durante a qual o príncipe herdeiro de Abu Dhabi descreveu a Rússia como a sua “segunda casa”, enquanto Putin fechou negócios nos setores energéticos e de tecnologia no valor de US$ 1,3 bilhão.

    Os jornais locais chamaram isso de início de um “relacionamento especial” e publicaram atualizações ao vivo da visita. “Ficou claro que os dois líderes compartilham um forte vínculo pessoal”, disse o jornal The National, de Abu Dhabi.

    Em última análise, no entanto, “é um pouco arriscado elevar a posição da Rússia como igual aos EUA”, disse Karen Young, pesquisadora sênior do Instituto do Oriente Médio de Washington. “[Permanecer neutro no conflito da Ucrânia] é um cálculo de que a Rússia e a liderança russa serão úteis para a liderança emiradense”.

    A última vez que um presidente americano visitou os Emirados Árabes Unidos foi há 14 anos, quando George W. Bush ocupou o Oval Office. Foi a única visita presidencial dos EUA ao país.

    “Há muito tempo você ouve pessoas no Golfo, formuladores de políticas, dizerem que quando você aperta a mão de Putin, você sabe que ele manterá sua palavra”, disse Young. “[Putin] faz o que quer, então acho que há uma certa atração no Golfo por ter esse tipo de certeza”, acrescentou. “A frustração com os EUA é que quando as administrações mudam, as políticas mudam, e isso não acontece na Rússia – pelo menos não ainda”.

    O comércio entre os Emirados Árabes Unidos e a Rússia tem sido modesto, mas cresceu dez vezes desde 1997, informou a agência de notícias estatal russa TASS.

    Como terceiro e sétimo maiores produtores de petróleo, respectivamente, a Rússia e os Emirados Árabes Unidos coordenam as políticas de produção de petróleo bruto sob a aliança OPEP +. Os Emirados Árabes Unidos também dependem fortemente de turistas russos. A Rússia cresceu e se tornou o segundo maior mercado de origem para o setor de turismo de Dubai em 2021, subindo do oitavo lugar no ranking do ano anterior, segundo a agência de notícias estatal Wam.

    A relação vai além da energia e do comércio. A Rússia foi o maior fornecedor de trigo para os Emirados Árabes Unidos no ano passado, com cerca de 50% de participação de mercado, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA.

    Os Emirados Árabes Unidos e outros estados do Golfo enfrentarão situações como a Ucrânia “muitas vezes” novamente, escreveu Bianco. “A cobertura será possível, mas limitada”.

    O ex-chefe de finanças de Dubai, Nasser al-Shaikh, disse que a neutralidade pode não ser sustentável se o conflito se prolongar.

    “Pode ser possível manter a neutralidade agora […] mas não no futuro próximo, à medida que as coisas se desenrolam/escalam. Janela de oportunidade muito pequena”, ele escreveu no Twitter.

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