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    Por que a retomada da comunicação militar entre EUA e China importa?

    Joe Biden e Xi Jinping concordaram em restabelecer a comunicação entre seus exércitos após horas de reuniões na Califórnia

    Lourival Sant'Annada CNN

    O aspecto mais importante da reunião entre Joe Biden e Xi Jinping é a sua simples realização.

    Os presidentes americano e chinês não se reuniam havia um ano. Estava previsto novo encontro em maio, que não se materializou por causa da visita da então presidente da Câmara dos Deputados Nancy Pelosi a Taiwan e da derrubada do balão chinês nos céus dos EUA.

    Esses eventos por sua vez apenas simbolizaram as tensões crescentes entre as duas maiores economias do mundo.

    Desde o início do ano, os militares chineses não atendem às chamadas telefônicas dos americanos. Isso causa ansiedade no establishment de segurança dos EUA e da Europa.

    Um incidente superável com uma conversa pode levar a um confronto armado na ausência dela.

    Além dos ressentimentos chineses, a conversa foi truncada também pela queda dos ministros das Relações Exteriores e da Defesa da China, Qin Gang e Li Shangfu, respectivamente, em meio a um escândalo de vazamento, exatamente para os EUA, de informações sigilosas da Força de Foguetes chinesa.

    “Acho fundamental que você e eu nos entendamos claramente de líder para líder, sem equívocos ou falhas de comunicação”, disse Biden a Xi no início da cúpula. Ele também usou um argumento recorrente, de que a competição entre EUA e China não pode degenerar em conflito.

    Xi foi numa linha semelhante: “Para dois grandes países como a China e os Estados Unidos, virar as costas um para o outro não é uma opção. É irrealista para um lado remodelar o outro, e o conflito e o confronto têm consequências insuportáveis para ambos os lados”.

    A questão é que, para ambos, evitar um conflito tem sentidos diferentes.

    Os Estados Unidos firmaram um compromisso com Taiwan quando reconheceram a China em 1979, segundo o qual a união da ilha ao continente deve se dar de forma negociada, e não imposta militarmente.

    Xi já deixou claro que não descarta a ação militar para anexar Taiwan, e que não pretende que seu sucessor herde o problema. Nesse ponto, a única dúvida é quando Xi terá um sucessor, já que em 2018 o Parlamento chinês, controlado pelo Partido Comunista, retirou da Constituição o limite de dois mandatos de 5 anos para o cargo.

    A China apoia a Rússia na guerra contra a Ucrânia e o Irã, que patrocina o Hamas. Os EUA, por sua vez, apoiam a Ucrânia e Israel.

    Da mesma forma, os americanos têm acordos de defesa mútua com Japão e Coreia do Sul, dois grandes adversários da China no Leste Asiático, e apoiam outros países da Ásia-Pacífico que temem a projeção chinesa, como Austrália e Filipinas. Os EUA têm ainda uma forte cooperação com a Índia, outra adversária da China.

    Num sinal de possível distensão, os americanos se abstiveram mas não vetaram nessa quarta-feira proposta de resolução de Malta no Conselho de Segurança, atualmente presidido pela China, sobre o conflito Israel-Hamas.

    Rússia, aliada do Irã, e Reino Unido, aliado de Israel, também se abstiveram. Os outros 12 membros do Conselho, incluindo o Brasil, votaram a favor.

    Foi a quinta tentativa de resolução desde as atrocidades do Hamas no dia 7 de outubro, mês em que o Brasil presidia o Conselho. O fato de os EUA terem permitido a aprovação da resolução sob presidência da China também representa na prática aparente gesto de boa vontade.

    Biden tinha como objetivo também tentar dissuadir a China de levar adiante suas políticas de dumping, o subsídio estatal a produtos chineses, sobretudo veículos elétricos, para que entrem a preços baixos no mercado americano.

    Segundo fontes da Casa Branca, o presidente americano ia sugerir que poderia iniciar uma nova guerra tarifária contra produtos chineses se essas práticas não fossem abandonadas.

    Nesse ponto, Xi não teria muito para onde fugir, porque Donald Trump, o provável adversário de Biden nas eleições dentro de um ano, lançou uma guerra tarifária contra a China quando era presidente.

    O governo Biden adotou sanções contra o fornecimento de tecnologia para a fabricação de chips sofisticados para a China. A restrição desse acesso tem o claro propósito de retardar o avanço tecnológico, inclusive militar, da China.

    Taiwan é o maior fabricante de chips do mundo. Essa política tem um efeito ambivalente, pois poderia servir de incentivo à anexação de Taiwan.

    Durante a conversa, que foi muito franca, segundo uma fonte do governo americano ouvida pela CNN, Xi classificou essa política como “contenção tecnológica”. Biden respondeu que os EUA não fornecerão à China tecnologia que possa ser usada militarmente contra eles.

    Outra preocupação de Biden era pedir que a China coibisse o fornecimento de insumos para a produção de fentanil, uma das drogas que causam uma epidemia de abuso de psicotrópicos nos Estados Unidos.

    Biden e Xi se conhecem há muito tempo, como ambos lembraram em suas declarações.

    Eles foram vice-presidentes nos governos de Barack Obama e de Hu Jintao, e nessa capacidade se reuniram várias vezes no passado. Entretanto, veem um ao outro de pontos de vistas opostos.

    A China é uma nação emergente em busca de um lugar no mundo que acredita estar reservado para ela milenarmente. Os EUA sentem sua hegemonia ameaçada em um jogo de soma zero: o que a China ganhar, eles perderão.

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