Crítico do governo, Navalny retorna à Rússia após envenenamento e é detido
É a primeira vez que Navalny retorna para casa desde que foi envenenado, em agosto
A polícia russa deteve o crítico do Kremlin, Alexei Navalny, no controle de passaportes, depois que ele voltou para a Rússia neste domingo, disseram seu advogado, o serviço prisional e testemunhas.
É a primeira vez que Navalny retorna para casa desde que foi envenenado, em agosto. Seu avião foi desviado a outro aeroporto de Moscou no último minuto, em uma aparente tentativa das autoridades de frustrar jornalistas e apoiadores preparados para recebê-lo.
Seu avião deveria chegar ao aeroporto de Vnukovo, em Moscou, mas acabou aterrissando no aeroporto de Sheremetyevo, também na capital russa. O voo foi operado pela companhia aérea russa Pobeda, da Aeroflot, empresa controlada pelo Estado.
Navalny, um dos mais proeminentes críticos domésticos do presidente Vladimir Putin, foi transferido a Berlim, em agosto do ano passado, para tratamento médico emergencial, após ser envenenado com o que exames alemães identificaram como o agente nervoso Novichok.
“Este é o melhor momento dos últimos cinco meses”, disse ele a repórteres, após embarcar no voo na capital alemã, com destino a Moscou. “Eu me sinto ótimo. Finalmente estou voltando para minha cidade natal”.
Ele anunciou a decisão de retornar na última quarta-feira, e, um dia depois, o serviço prisional de Moscou afirmou que faria de tudo para prendê-lo, assim que ele chegasse, acusando-o de desrespeitar os termos de uma sentença de prisão suspensa por peculato, um caso de 2014 que ele afirma ter sido inventado.
O homem de 44 anos, que entrou no avião de última hora após sair de um carro estacionado na pista, e portanto evitando outros passageiros, minimizou o risco de voltar para casa.
Ele disse que não achava que seria preso, declarando-se uma pessoa inocente.
“Do que preciso ter medo? Quais coisas ruins podem acontecer comigo na Rússia?”, acrescentou. “Eu me sinto um cidadão da Rússia que tem todo o direito de voltar”, acrescentou.
Ele estava acompanhado da esposa Yulia, sua porta-voz, e seu advogado.
Navalny, que espera vencer eleições ao parlamento em setembro, pode ter mais problemas em outros três casos criminais, que, segundo ele, são motivados por política.
Seu retorno é um dilema para o Kremlin: prendê-lo e correr o risco de protestos e ações punitivas do Ocidente, tornando-o um mártir político. Ou fazer nada e correr o risco de parecer fraco aos olhos da linha dura do Kremlin.
O político, que diz estar quase completamente recuperado, diz que Putin estava por trás do seu envenenamento. O Kremlin nega envolvimento, dizendo que não há evidências de que ele foi envenenado, e que ele estava livre para voltar à Rússia.
Navalny diz que o Kremlin tem medo dele. O Kremlin, que se refere a ele apenas como o “paciente de Berlim”, ri dessa declaração. Os aliados de Putin apontam para uma pesquisa que mostra que o líder russo é muito mais popular do que Navalny, a quem chamam de blogueiro em vez de político.
Antes das notícias de que seu avião estava sendo desviado a outro aeroporto, alguns apoiadores se reuniram no aeroporto de Vnukovo, apesar da temperatura de 20 graus negativos e mais de 4.500 novos casos de coronavírus por dia na capital russa.
A polícia realizou várias detenções no aeroporto e dispersou uma multidão de pessoas esperando a chegada de Navalny, testemunharam repórteres da Reuters.
(Por Polina Ivanova, Maria Tsvetkova, Andrew Osborn, Maria Vasilyeva, Anton Zverev, Gleb Stolyarov e Tom Balmforth)