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    Partido Comunista da China faz 100 anos e vive fase de exaltação no país

    Reforço dos 'genes vermelhos' de seus 91 milhões de membros se tornou uma das principais prioridades de Xi Jinping, atual chefe do partido

    Steven Jiang e Jessie Yeung, da CNN

    Apesar de ser uma organização política decididamente ateísta, o Partido Comunista da China – que completa 100 anos em 1º de julho – gosta de falar sobre suas origens em termos religiosos.

    Na literatura do partido e na mídia estatal, as antigas bases revolucionárias são rotuladas de “locais sagrados”. As visitas quase obrigatórias a tais locais pelas bases têm o objetivo de “batizar” membros com a “fé” comunista.

    “Mao disse uma vez que o povo é nosso Deus”, disse em 11 de maio Wang Dongcang, professor da Academia de Liderança Executiva do Partido Comunista na China em Yan’an. “Acreditamos em liderar as pessoas para um futuro melhor”.

    A CNN se juntou a mais de 20 veículos da imprensa internacional em uma recente excursão da mídia organizada pelo governo em Yan’an e Xibaipo, dois renomados “locais vermelhos”. Foi em regiões como essas que o outrora nascente Partido Comunista cresceu em tamanho e força antes de sair vitorioso de uma sangrenta guerra civil para assumir o controle da China continental em 1949.

    Ao celebrar seu 100º aniversário a partir de hoje e ao longo do mês julho, o reforço dos “genes vermelhos” de seus 91 milhões de membros se tornou uma das principais prioridades de Xi Jinping. Atual chefe do partido, Xi é o líder mais poderoso do país desde Mao Zedong (ou Mao Tsé-Tung), o fundador da República Popular da China.

    Em uma série de citações publicadas recentemente pela revista oficial do partido, Xi exortou os membros a “fazer bom uso dos recursos do vermelho, herdar os genes do vermelho e passar o país vermelho de geração em geração”. Para ajudar nesse esforço, os “locais vermelhos” estão assumindo um papel cada vez mais importante e lucrativo.

    Tanto em Yan’an quanto em Xibaipo, multidões de visitantes – alguns vestindo trajes revolucionários – amontoavam-se nas antigas residências de líderes comunistas, nos auditórios usados para congressos do partido no passado e em incontáveis salões de exposição.

    Multidões de membros do partido voltaram a fazer o juramento de admissão – “estar sempre pronto para sacrificar tudo de mim pelo partido e pelo povo, e nunca trair o partido” – de forma ritualística. Já as crianças em idade escolar recebiam palestras ao ar livre sobre o porquê de a história ter escolhido os comunistas para governar a China.

    100 anos de Partido Comunista na China
    Imagem do extravagante “Red Show” encenado em Yan’an no início de maio de 2021
    Foto: Steven Jiang/CNN

    Também há muito dinheiro na crescente popularidade do “turismo vermelho”. Somente em Yan’an, mais de 73 milhões de visitantes se aglomeraram na cidade de aproximadamente 2 milhões de habitantes em 2019. Um aeroporto foi inaugurado na região, até outro dia de economia combalida, mas que agora apresenta fileiras de novos hotéis e até mesmo um outdoor anunciando um futuro Starbucks.

    Nesses “locais vermelhos”, no entanto, assuntos mais espinhosos (como as lutas internas, expurgos no alto escalão e campanhas políticas de massa implacáveis que datam dos primeiros dias do partido) quase nunca são mencionados.

    Historiadores da academia do Partido Comunista em Yan’an insistem em não pular as falhas do partido em seu ensino, mas rapidamente acrescentam que mesmo os capítulos mais sombrios – como a Revolução Cultural de uma década de Mao, que os críticos dizem ter resultado em milhões de mortes – devem ser vistos sob o prisma da “busca do partido para construir o socialismo” na China.

    “As reviravoltas nessa busca são compreensíveis”, pontuou o professor He Hailun aos repórteres. Sua fala ecoa a forte rejeição de Xi às supostas tentativas de desacreditar o sistema político da China ao se concentrar nos erros anteriores da liderança comunista.

    Em todos os locais que visitamos, a mensagem era clara: o rejuvenescimento da China se deve a dois líderes fortes, Mao e Xi. Todos os outros intermediários quase não são mencionados.

    Questionado se a propaganda em torno de Xi contradiz as medidas tomadas pelo partido após a morte de Mao em 1976 para evitar outro culto à personalidade, Wang, o professor de Yan’an, sugeriu que o Partido Comunista era como um pêssego – só poderia ter um caroço.

    “Seria uma mutação se um pêssego tivesse dois caroços”, comparou.

    100 anos de Partido Comunista na China
    O turismo vermelho tem crescido em popularidade nos últimos anos.
    Foto: JOHANNES EISELE/AFP/Getty Images

    Negócios da China: um velho debate abre novas feridas

    A China ainda não consegue descobrir como domar o boom global de commodities.

    Para incendiar ainda mais o debate, ressurgiu na China uma antiga entrevista entre um polêmico político chinês e um renomado economista norte-americano. Nela, questiona-se se o governo chinês é parcialmente culpado pelo aumento dos custos do aço, carvão e outros materiais necessários para alimentar seu plano de recuperação baseado em infraestrutura.

    O 163.com, um importante site de notícias de propriedade da empresa chinesa de tecnologia NetEase, publicou na semana passada uma conversa de 1988 entre o ex-secretário-geral Zhao Ziyang e Milton Friedman, o ganhador do Prêmio Nobel que ajudou a moldar a economia de livre mercado moderna.

    Na conversa, Zhao diz a Friedman que a China estava tendo problemas com a inflação e pede conselhos sobre como avançar com a reforma do mercado livre.

    O site não explicou por que agora está publicando a conversa, que já é pública fora da China. Mas, para alguns, o momento foi notável: Zhao foi expurgado da liderança política após se opor ao uso da força na repressão da Praça Tiananmen em 1989, que aconteceu há 32 anos. O nome de Zhao é geralmente considerado tabu na China.

    A conversa no site de notícias de propriedade privada atraiu cerca de 27 mil comentários, debatendo os méritos de uma abordagem de mercado livre e reformada para resolver problemas econômicos, em comparação com os métodos frequentemente pesados e de cima para baixo do governo chinês.

    O tema dos comentários mudou rapidamente para as novas políticas ambientais da China. Cortes de energia em todo o país causaram transtornos a milhões nos últimos meses, e os comentaristas questionaram se a obstinada iniciativa de Xi para se tornar neutra em carbono até 2060 estava limitando seu fornecimento de energia.

    Como os preços das commodities permanecem voláteis e o carvão continua a ser uma questão delicada, o governo prometeu manter os custos sob controle.

    Na segunda-feira (28), o governo revelou que a atividade manufatureira no país desacelerou um pouco em maio em relação ao mês anterior, em meio à alta nos custos das matérias-primas. Mas ninguém sabe quanto isso vai durar.

    (Texto traduzido. Leia o original em inglês aqui.)