Para sírios devastados pela guerra civil, consequências do terremoto são “crise dentro da crise”
Na Síria, a maioria das vítimas estavam no Noroeste do país, predominantemente nas cidades de Aleppo, Hama, Latakia e Tartus


Para muitas das vítimas sírias do devastador terremoto que atingiu a Turquia e a Síria na segunda-feira (6), esta é apenas a mais recente de uma série de tragédias ao longo de uma década.
O terremoto de magnitude 7,8 ocorreu nas primeiras horas, matando mais de 5.000 pessoas nos dois países e deixando milhares de feridos. Foi o terremoto mais forte registrado na Turquia em 84 anos.
Na Síria, a maioria das vítimas estavam no Noroeste do país, predominantemente nas cidades de Aleppo, Hama, Latakia e Tartus, segundo a agência de notícias estatal Sana.
Esta região já estava lutando para reconstruir a infraestrutura vital fortemente danificada pelo bombardeio aéreo contínuo durante a guerra civil do país, que as Nações Unidas (ONU) estimam ter ceifado 300 mil vidas desde 2011.
É uma “crise na crise”, disse El-Mostafa Benlamlih, residente da ONU e coordenador humanitário na Síria, à Christina Macfarlane da CNN na segunda-feira.
“A infraestrutura foi prejudicada pela situação, a guerra e assim por diante”, disse ele. “Essas cidades são cidades fantasmas… Muitas pessoas estão com muito medo. Elas não querem voltar para suas casas. Se é que podemos chamá-las de casas nesses casos. Às vezes são ruínas”.
Khalil Ashawi, um fotojornalista baseado na cidade de Jindiris, na província de Allepo, no Noroeste da Síria, disse à CNN que não havia testemunhado cenas tão “desastrosas” como a de segunda-feira nos dez anos que passou cobrindo a guerra lá.
“Em todos os anos em que cobri a guerra aqui, nunca vi nada parecido”, disse ele. “É um desastre. Paramédicos e bombeiros estão tentando ajudar, mas infelizmente há muito para eles lidarem. Eles não podem lidar com tudo”.
Seus pais, que moram na cidade turca de Antakya, estão desaparecidos, disse ele. Essa cidade também sofreu danos significativos.
Metade da população de 4,6 milhões do Noroeste da Síria foi forçada a deixar suas casas pelo conflito, com 1,7 milhão agora vivendo em tendas e campos de refugiados na região, de acordo com a agência das Nações Unidas para a infância (Unicef). No ano passado, a agência informou que 3,3 milhões de sírios na área estavam em situação de insegurança alimentar.
Várias partes do Noroeste da Síria, incluindo Idlib, ainda são controladas por rebeldes antigovernamentais.
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Estragos provocados por terremoto que atingiu o sul da Turquia. • Getty Images
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O terremoto ocorreu a 23 km a leste de Nurdagi, na província de Gaziantep, na Turquia, a uma profundidade de 24,1 km. É um dos mais fortes a atingir a região me mais de um século, segundo o Instituto Geológico dos Estados Unidos. • Getty Images
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O jornalista Eyad Kourdi, que mora em Gaziantep, afirmou que houve até oito tremores secundários “muito fortes” menos de um minuto após o terremoto. • Getty Images
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No terremoto ocorrido às 4h16 na Turquia, casas na Síria foram destruídas nesta segunda-feira (6). • Getty Images
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O terremoto foi sentido em muitas províncias, especialmente em Gaziantep, Sivas, Hatay, anlurfa, Mersin, Samsun e Trabzon. A Turquia emitiu um alarme de nível 4. O alarme também contém o código de ajuda internacional. Há muitos mortos e feridos. Houve 66 tremores secundários, o maior dos quais foi de 6,6. • Getty Images
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Civis sírios inspecionam um prédio residencial destruído após um terremoto de magnitude 7,8 que atingiu a Síria. • Getty Images
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O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, enviou seus “melhores desejos” aos afetados pelo terremoto. Erdogan disse que o terremoto foi sentido em muitas partes do país e que a Autoridade de Gerenciamento de Emergências e Desastres (AFAD) da Turquia está em alerta para ajudar as vítimas. • Getty Images
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Uma vista aérea dos destroços de um prédio desabado após o terremoto de magnitude 7,7 atingir Hatay, na Turquia. • Getty Images
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Outra vista aérea dos destroços de um prédio desabado em Hatay, na Turquia.
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Equipes de resgate trabalham para resgatar sobreviventes nos escombros. • Getty Images
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Mais de 2.000 pessoas foram resgatadas dos escombros na Turquia. • Reuters
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Uma visão do prédio desmoronado após o terremoto desta segunda em Gaziantep, Turquia. Equipes estão retirando os feridos dos destroços do prédio que desabou. • Getty Images
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Mais de 2.000 pessoas foram resgatadas dos escombros na Turquia. • Photo by Ercin Erturk/Anadolu Agency via Getty Images
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Vista aérea de Karamamaras após terremoto na Turquia • Photo by Ahmet Akpolat/ dia images via Getty Images
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Mais de 3 mil pessoas já morreram após terremoto na Turquia • Photo by Burak Kara/Getty Images
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Equipes de resgate atuam nos escombros em Gaziantep • Photo by Emin Sansar/Anadolu Agency via Getty Images
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Resgates em Sanliurfa, na Turquia, após de terremoto de magnitude de 7,8 • Photo by Rauf Maltas/Anadolu Agency via Getty Images
Durante os estágios iniciais da guerra, Aleppo e Idlib foram geograficamente e economicamente vitais para o presidente sírio, Bashar al-Assad, como centros de comércio e negócios. Mas a partir de 2012, Idlib, que faz fronteira com a Turquia e atualmente é mantida por rebeldes apoiados pelos turcos, tornou-se alvo de bombardeios aéreos de rotina da aliança militar da Síria com a Rússia.
Em 2019, o exército sírio lançou uma nova ofensiva na província, com apoio aéreo dos militares russos, deslocando cerca de um milhão de pessoas de suas casas. De acordo com a Human Rights Watch, estima-se que mais de mil civis foram mortos durante a operação militar de 11 meses. Um cessar-fogo foi anunciado em março de 2020, mas o bombardeio foi retomado desde então.
Muitas das famílias que se tornaram vítimas desses bombardeios enfrentaram mais miséria na segunda-feira.
“Um dos meus colegas, com quem trabalho há mais de cinco anos, foi morto há cerca de dois anos em ataques aéreos russos. Descobri hoje que toda a sua família, sua esposa e filhos, faleceram hoje quando seu prédio desabou”, disse Mostafa Edo, diretor nacional da ONG norte-americana MedGlobal, que mora em Idlib.
Ele disse à CNN que os hospitais da cidade estão sobrecarregados e mal equipados, faltando suprimentos como placas ortopédicas para tratar fraturas. Os hospitais também sofrem com a falta de energia. Tendo contado anteriormente com a energia da Turquia, eles agora recorrem a geradores de energia para os quais o combustível é escasso.
“Os sobreviventes (estão) dormindo nas ruas em um frio congelante”, disse ele.
Muitos temem que os efeitos do terremoto atinjam mais fortemente aqueles que vivem em áreas controladas pelos rebeldes, já que o regime tradicionalmente usa o isolamento para prejudicar a infraestrutura local.
O grupo de resgate voluntário da Defesa Civil da Síria, comumente conhecido como Capacetes Brancos, declarou a área do terremoto uma zona de desastre na segunda-feira e pediu à comunidade internacional que ajude no esforço de resgate e socorro e pressionou o regime sírio e a Rússia “para garantir que não há bombardeio das áreas afetadas”.
Tanya Evans, diretora do Comitê Internacional de Resgate na Síria, descreveu o terremoto em um comunicado como “mais um golpe devastador para tantas populações vulneráveis que já lutam após anos de conflito”.
Ela alertou que milhares de pessoas estão expostas à queda das temperaturas abaixo de zero. “Muitos no Noroeste da Síria foram deslocados até 20 vezes”, disse ela, “e com as instalações de saúde sobrecarregadas além da capacidade, mesmo antes dessa tragédia, muitos não tinham acesso aos cuidados de saúde de que precisam urgentemente”.