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    Pandemia deve causar 1ª queda do Desenvolvimento Humano global desde 1990

    Relatório do PNUD, programa da ONU, alerta para os efeitos devastadores da Covid-19 em educação, saúde e padrão de vida

    Coveiros com roupas de proteção carregam caixão de vítima do novo coronavírus (Covid-19) no Rio de Janeiro
    Coveiros com roupas de proteção carregam caixão de vítima do novo coronavírus (Covid-19) no Rio de Janeiro Foto: Ricardo Moraes - 18.mai.2020/Reuters

    Diego Freire,

    da CNN, em São Paulo

    O Desenvolvimento Humano global – dado que combina os níveis de educação, saúde e padrão de vida de todos os países – pode retroceder em 2020 pela primeira vez em toda a série histórica, iniciada em 1990. A tendência foi apresentada em relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), divulgado nesta quarta-feira (20).

    Os números são utilizados pela ONU para medir o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos países, dado divulgado anualmente em relatórios do Pnud.

    Desde que a metodologia foi criada, o planeta nunca regrediu nos indicativos de qualidade de vida. A crise do novo coronavírus (Covid-19), porém, pode causar uma deterioração sem precedentes em pelo menos três décadas.

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    Retrocessos em todas as áreas

    “O mundo passou por muitas crises nos últimos 30 anos, incluindo a crise financeira global de 2007 a 2009. Cada uma delas afetou fortemente o desenvolvimento humano, mas, em geral, os ganhos de desenvolvimento foram acumulados globalmente ano a ano. A Covid-19, com seu triplo impacto em saúde, educação e renda, pode mudar essa tendência”, declarou o Administrador do Pnud, Achim Steiner, ao comentar as conclusões do estudo. 

    De forma geral, os pilares levados em conta para calcular o Desenvolvimento Humano apresentam tendências negativas globalmente.

    De acordo com o estudo, a renda per capita global deve cair 4% em 2020, em um cenário no qual as economias dos mais diferentes países sentem os impactos da pandemia, com elevação dos índices de desemprego e endividamento dos governos. 

    Na saúde os efeitos também são evidentes: o colapso dos sistemas de saúde em todo o mundo aumenta a incidência de mortalidade não apenas da Covid-19 (que já matou mais de 320.000 pessoas em todo mundo, segundo dados da Universidade Johns Hopkins), mas também inviabiliza o atendimento de outras enfermidades e eleva as mortes em todos os espectros da sociedade – inclusive entre pessoas que não são consideradas parte do “grupo de risco” do novo coronavírus.

    Os casos já confirmados de coronavírus, em escala global, se aproximam de 5 milhões no momento da divulgação do estudoo sobre os efeitos da pandemia no Desenvolvimento Humano global.

    Em relatório divulgado na última semana, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estimou que 6 mil crianças podem morrer diariamente de causas evitáveis, nos próximos seis meses, em razão do enfraquecimento dos sistemas de saúde pelo mundo causado pelo coronavírus.

    Apesar dos efeitos negativos abrangerem todos os países, o Pnud considera que a queda nos índices será maior nos países em desenvolvimento, que são menos capazes de lidar com as consequências socioeconômicas da pandemia.

     

    Abismo na educação

    Na área educacional, o relatório do Pnud aponta o maior nível na taxa de abandono escolar desde os anos 1980. Levando em conta os estudantes em idade escolar primária, a estimativa é que, no momento, 60% das crianças em todo o mundo não estejam recebdno educação.

    A taxa, no entanto, varia bastante em um comparativo entre os países mais ricos e mais pobres: em países como desenvolvimento humano considerado muito alto (IDH acima de 0,800), onde o acesso ao aprendizado online é mais difundido, aenas 20% das crianças estão sem aulas, mesmo com a maioria das escolas fechadas. Já nas nações de desenvolvimento humano baixo (IDH abaixo de 0,555), o número chega a 86%. 

    Diante desse cenário, o relatório alerta para a necessidade de se combater a exclusão digital, especialmente nos países mais pobres. Segundo o Pnud, promovendo maior acesso à internet, seria possível reduzir em mais de dois terços o número de crianças que atualmente não estão estudando em função do fechamento de escolas.

    O esudo destaca que fechar essa lacuna de acesso à internet em países de baixa renda é viável. De acordo com os dados apresentados, o problema poderia ser solucionado com o custo de apenas 1% dos pacotes emergenciais de auxílio fiscal com os quais o mundo se comprometeu para reduzir os danos econômicos da pandemia.

    Além de expor a desigualdade social entre os países, o programa das Nações Unidas ainda comenta sobre outros fatores de segregação social, como gênero e raça. 

    Segundo o Pnud, os impactos negativos da crise do coronavírus sobre mulheres e meninas abrangem aspectos econômicos – ganhos e economias cada vez menores, insegurança no trabalho, saúde reprodutiva, aumento do trabalho não remunerado e violência baseada em gênero. 

     

    Recomendações

    Como meios para amenizar os impactos da pandemia, o Pnud recomenda que governos de todos os países se mobilizem para realizar “intervenções coordenadas com foco em igualdade”, mitigando, assim, os impactos da crise a longo prazo. 

    “Esta crise mostra que, se não conseguirmos trazer a igualdade para o conjunto de ferramentas de políticas, muitas pessoas ficarão ainda mais para trás. Isso é particularmente importante para as ‘novas necessidades’ do século XXI, como o acesso à internet, que está ajudando a nos beneficiarmos da educação continuada a distância, telemedicina e trabalho remoto”, diz o diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, Pedro Conceição.

    As Diretrizes das Nações enfatizam a necessidade de se buscar a igualdade de gêneros e as práticas de boa governança para se construir um “novo normal”.

    O PNUD recomenda cinco etapas prioritárias para lidar com a complexidade desta crise: proteger os sistemas e serviços de saúde; aumentar a proteção social; proteger empregos, pequenas e médias empresas e trabalhadores informais; fazer com que as políticas macroeconômicas funcionem para todos; e promover a paz, a boa governança e a confiança para construir coesão social.

     

    IDH

    Em uma equação que inclui dados de expectativa de vida ao nascer, acesso ao ensino e PIB per capita de cada país, o Pnud calcula anualmente o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), no qual uma medida que vai de 0 a 1 classifica as nações por seu nível de desenvolvimento (sendo consideradas mais desenvolvidas aquelas com índices mais próximos de 1).

    No relatório de 2019, com dados referentes ao ano de 2018, o Brasil apresentou IDH de 0,761 e permaneceu no grupo de países com desenvolvimento humano considerado “alto”, na 79ª colocação entre 189 países analisados. A Noruega (com IDH 0,954) ficou com a primeira colocação mundial, enquanto Níger (IDH 0,377) teve o pior resultado.