Pais de Gabby Petito processam polícia alegando que poderiam ter salvado a jovem
Em processo de US$ 50 milhões, pais da garota acusam o Departamento de Polícia de Moab de homicídio culposo, dizendo que os agentes foram negligentes
Os pais de Gabby Petito entraram nesta quinta-feira (3) com uma ação de US$ 50 milhões por homicídio culposo contra o Departamento de Polícia da Cidade de Moab, em Utah, nos Estados Unidos, alegando que os agentes da unidade foram negligentes em suas interações com a jovem de 22 anos e o noivo dela, Brian Laundrie, duas semanas antes da morte de Petito, em agosto de 2021.
“O objetivo deste processo é honrar o legado de Gabby exigindo responsabilidade e trabalhando em mudanças sistêmicas para proteger as vítimas de abuso doméstico e violência e prevenir tais tragédias no futuro”, disse em nota o advogado James W. McConkie.
O processo acusa o departamento e seus oficiais de não seguirem a lei e de não proteger a garota durante uma investigação sobre uma perturbação doméstica em agosto –apenas algumas semanas antes de Laundrie matá-la.
A ação afirma que os policiais determinaram indevidamente que Petito era a principal agressora na interação e aplicaram mal as leis do estado de Utah relacionadas ao abuso doméstico. O documento também acusa o departamento de polícia de não treinar adequadamente seus agentes nessas questões.
Em uma entrevista coletiva na quinta-feira, os pais da jovem disseram que entraram com o processo para garantir que a corporação faça essas mudanças para ajudar outras vítimas de abuso.
“Ninguém aqui, nós quatro, não queremos estar aqui. Nós desistiríamos de tudo isso em um segundo se pudéssemos tê-la de volta”, disse o pai, Joseph Petito.
“Sentimos que precisamos fazer justiça porque ela poderia ter sido protegida naquele dia”, disse Nichole Schmidt, mãe da jovem. “Existem leis criadas para proteger as vítimas, e essas leis não foram seguidas, e não queremos que isso aconteça com mais ninguém”.
A cidade de Moab emitiu um comunicado na quinta-feira negando a responsabilidade pela morte e dizendo que se defenderia contra o processo.
“A morte de Gabrielle Petito em Wyoming é uma tragédia terrível, e sentimos profunda simpatia pelas famílias Petito e Schmidt e pela dolorosa perda que sofreram. Ao mesmo tempo, está claro que os policiais do Departamento de Polícia da Cidade de Moab não são responsáveis pelo eventual assassinato de Gabrielle Petito”, disse a cidade.
A cidade disse que seus oficiais “agiram com bondade, respeito e empatia para com a Sra. Petito” durante a interação.
“Os advogados da família Petito parecem sugerir que, de alguma forma, nossos oficiais pudessem ver o futuro com base nessa única interação. Na verdade, em 12 de agosto, ninguém poderia prever a tragédia que ocorreria semanas depois e a centenas de quilômetros de distância, e a cidade de Moab se defenderá ardorosamente desse processo”, disse a prefeitura.
Petito tinha 22 anos quando ela e seu noivo, Brian Laundrie, de 23 anos, embarcaram em uma viagem pelo oeste americano no ano passado, documentando suas experiências online pela #VanLife, com posts idílicos e ensolarados.
Apesar da aparência do casal online, o relacionamento dos dois era complicado e às vezes violento. Petito foi dada como desaparecida depois que Laundrie voltou para a casa de seus pais na Flórida, em 1º de setembro de 2021, e os pais da jovem não conseguiram contatá-la, desencadeando uma caçada nacional que se tornou um fascínio para detetives online.
O corpo de Petito foi encontrado várias semanas depois na Floresta Nacional de Grand Teton, e um legista determinou que ela morreu por estrangulamento. Laundrie posteriormente desapareceu em uma reserva natural da Flórida, e seu corpo foi encontrado em meados de outubro ao lado de um caderno no qual ele admitiu tê-la matado.
Em agosto, os pais de Petito entraram com um aviso de um processo contra o departamento de polícia, o primeiro passo para iniciar uma ação judicial. Seus pais também tomaram medidas legais contra o espólio de Laundrie e entraram com uma ação contra os pais dele, acusando-os de causar sofrimento emocional ao não agir durante a busca por Petito.
O que aconteceu em Moab
O processo de 35 páginas aberto na quinta-feira é baseado na blitz de trânsito em agosto passado, depois que os policiais foram informados de que uma testemunha “viu Brian agredir Gabby”.
A polícia parou o veículo – uma van Ford branca – depois que ele ultrapassou o limite de velocidade, saiu abruptamente da pista e atingiu um meio-fio, de acordo com um relatório da polícia.
Imagens gravadas pelas câmeras do corpo da polícia mostram policiais de Moab, Utah, conversando com Petito e Laundrie, que admitiram uma briga na qual Petito disse que agrediu seu noivo primeiro.
Os policiais notaram que Petito tinha cortes no rosto e no braço, e que ela “demonstrou como Brian agarrou violentamente seu rosto durante a briga”, dizendo à polícia que Laundrie “fica muito frustrado comigo”.
Mas Petito também “exibiu as características clássicas de uma parceira abusada”, diz o aviso da ação, assumindo a culpa pelo incidente. Os oficiais “não pressionaram mais”, diz a notificação.
De acordo com a alegação da família, uma foto tirada na época, que não foi tornada pública, “mostra um close do rosto de Gabby, onde o sangue está manchado em sua bochecha e olho esquerdo, revelando a natureza violenta do ataque de Brian”.
Laundrie disse à polícia que o casal estava sob estresse crescente. Ele admitiu ter empurrado Petito para longe quando ela tentou dar um tapa nele e pegar o telefone dela, alegando que ele não tinha um– e temia que ela o deixasse. No entanto, mais tarde no interrogatório, ele pegou seu próprio telefone e deu seu número aos policiais, diz o processo.
Apesar dos cortes e das inconsistências de Laundrie, um dos policiais disse que Petito deveria ter sido presa, pois, sob os estatutos de violência doméstica de Utah, ela foi considerada a principal agressora e Laundrie a vítima.
Tanto Petito quanto Laundrie se opuseram, e os policiais acabaram concordando em não acusar Petito se ela e Laundrie concordassem em passar a noite separados.
Uma revisão do tratamento do incidente pelo Departamento de Polícia de Moab por um investigador independente –um capitão do departamento de polícia em Price, Utah, a cerca de 180 quilômetros de distância– recomendou que os dois policiais que responderam fossem colocados em liberdade condicional, dizendo que cometeram “vários erros não intencionais”– ou seja, não citar ninguém por violência doméstica, embora parecesse haver apenas evidências suficientes para acusar Petito.
O relatório investigativo, divulgado em janeiro, recomendou novas políticas para o departamento, incluindo treinamento adicional sobre violência doméstica e treinamento jurídico para policiais.
Na época, a cidade não abordou nenhuma disciplina em potencial para os dois policiais, mas disse que “pretende implementar as recomendações do relatório” sobre novas políticas para o departamento de polícia, incluindo treinamento adicional sobre violência doméstica e treinamento jurídico para policiais.
*Com informações de Hannah Sarisohn, Dakin Andone e Chuck Johnston, da CNN.