Opinião: Foto de Kate mostra uma monarquia lutando para encontrar equilíbrio
Princesa está afastada da vida pública, em recuperação de cirurgia; teorias da conspiração tomaram conta da internet
A foto da princesa Kate Middleton com os filhos no domingo (10) era para ser apenas uma imagem encantadora do Dia das Mães, comemorado no início de março no Reino Unido, com o objetivo de garantir que está tudo bem com a família real britânica a um povo ansioso por notícias.
Em vez disso, a declaração de Kate, princesa de Gales, de que ela manipulou desajeitadamente a fotografia parece ter feito com que grande parte do público corresse para as teorias da conspiração.
Durante semanas, rumores sobre o que estaria acontecendo com esposa de um herdeiro do trono, o príncipe William, e mãe de outro, o príncipe George, foram muito comentados na internet.
Mas quando várias agências fotográficas respeitadas retiraram a fotografia enviada pelo Palácio de Kensington do ar, alegando preocupações sobre a sua autenticidade total, os boatos aumentaram.
Kate está longe do olhar público há meses, após passar por uma cirurgia abdominal planejada em meados de janeiro, seguida por um longo período de recuperação.
Entretanto, o momento de ausência se revelou infeliz, com o Palácio de Buckingham anunciando no mesmo dia que o sogro, o rei Charles III, iria em breve ser submetido a tratamento para um aumento da próstata.
Quando Charles posteriormente anunciou a notícia chocante de que um câncer havia sido detectado durante o período internado, e que ele também se retiraria da vida pública enquanto estiver em tratamento, o vácuo deixado pela ausência de dois dos membros mais importantes da realeza foi rapidamente preenchido com teorias da conspiração sobre Kate.
Grande parte do debate em torno da ausência da princesa focou na natureza do problema, alimentado pela falta de informação do palácio sobre o que poderia estar acontecendo com ela.
Para quem vê de fora, o tempo no hospital parecia muito longo para uma jovem saudável — Kate completou 42 anos pouco antes do procedimento — e o período de recuperação, que o seu porta-voz disse que duraria até à Páscoa, extenso.
A falta de detalhes do palácio é sintomática de uma instituição que tem lutado para encontrar um equilíbrio entre a proteção da privacidade da realeza e a transparência exigida por uma democracia moderna.
Em uma monarquia constitucional, na qual reis e rainhas exercem pouco poder real, mas bastante “poder macio”, a visibilidade é tudo.
Eles podem não ser capazes de aprovar leis, negociar tratados ou ordenar tropas para a batalha, mas a realeza britânica pode abrir supermercados, assistir a estreias e visitar os doentes.
Sem isso, assim como a música do filme Barbie, para que foram feitos?
Após a morte da mãe de William, a princesa Diana, em 1997, os britânicos ansiavam por outra princesa atraente, embora menos problemática, para contemplar nas capas de revistas.
Kate, com o seu estilo imaculado e filhos felizes, trouxe um toque de cor e conforto a um mundo conturbado: uma arena política instável que recentemente viu três primeiros-ministros no espaço de dois meses, uma crise do custo de vida, uma guerra com a Rússia nos limites da Europa e os acontecimentos no Oriente Médio que devastaram muitas comunidades.
Quando Kate sumiu de vista, seus futuros súditos queriam — exigiam — saber o porquê.
Embora William pareça ter concordado com a máxima de sua avó, a rainha Elizabeth II, de que o público não acreditaria que ela era real se não a visse, seu irmão, o príncipe Harry, tem uma visão notoriamente menos tolerante do olhar do público.
A decisão de Harry de se afastar do palco da família real para os Estados Unidos, fugindo para a Califórnia com sua noiva Meghan, duquesa de Sussex, reduziu ainda mais o número de altezas para os britânicos contemplarem, com seu tio, o príncipe Andrew, também fora de cena após o escândalo envolvendo amizade com o pedófilo condenado Jeffrey Epstein.
Nos 18 meses desde a morte de Elizabeth, o círculo real já parecia cada vez menor.
A ausência de Charles e Kate pareceu desencadear uma crise na psique britânica, um anseio pela monarquia, talvez pouco compreendida a nível intelectual. Dito de outra forma, se a realeza é o ópio das massas, então os britânicos não estavam preparados para abstinência.
Enquanto os memes #WheresKate (onde está Kate) se tornavam tendência no X e os comentaristas reais escreviam artigos incisivos exigindo mais informações, o palácio manteve silêncio.
Até o Domingo das Mães, isto é, que no Reino Unido é comemorado no início de março.
Para a alegria de muitos, Kate continuou sua tradição do Dia das Mães de publicar uma fotografia dela e de seus filhos, George, de 10 anos, a princesa Charlotte, de oito, e o príncipe Louis, de cinco.
“Obrigada por seus bons votos e apoio contínuo”, escreveu ela em uma mensagem para acompanhar a foto, que teria sido tirada alguns dias antes por seu marido.
De uma só vez, parecia que os teóricos da conspiração tinham sido silenciados. Kate parecia saudável e brilhante.
A garantia durou apenas algumas horas, no entanto, quando editores de imagens de agências fotográficas, incluindo AP e Reuters, perceberam algo errado.
A manga de Charlotte parecia estranha. Havia algo errado com o padrão do suéter de Louis. Talvez a maior pista: como William conseguiu capturar as três crianças rindo ao mesmo tempo?
Com os fotógrafos profissionais cada vez mais cautelosos sobre o impacto da Inteligência Artificial e de outras falsificações na sua profissão, as agências não correriam o risco com uma imagem manipulada.
Enquanto isso, o palácio não emitiu nenhum comentário por longas horas, enquanto a nação mergulhava de cabeça em teorias da conspiração.
Nos escritórios e outros locais de trabalho por todo o país, parecia que todos tinham uma visão do comprimento dos dedos da princesa, da sombra da árvore ao fundo e de outros aspectos agora suspeitos da fotografia.
Mais de 12 horas depois, Kate finalmente respondeu: “Como muitos fotógrafos amadores, ocasionalmente faço experiências com edição”, disse ela nas redes sociais.
“Quero expressar minhas desculpas por qualquer confusão que a fotografia de família que compartilhamos ontem causou”, pontuou.
O problema para a realeza: quando a confusão se combina com a conspiração, a narrativa é difícil de controlar.