ONU dá “alerta vermelho” após mundo quebrar recordes de calor em 2023
Temperaturas médias atingiram o nível mais alto em 174 anos; aquecimento do oceano também é crítico
Todos os principais recordes climáticos globais foram quebrados no ano passado, e 2024 pode ser ainda pior, segundo alertou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) nesta terça-feira (19).
Além disso, o chefe da organização expressou ainda mais preocupação com o aquecimento dos oceanos e a redução do gelo marinho.
A agência meteorológica da ONU afirmou em seu relatório anual sobre o estado do clima global que as temperaturas médias atingiram o nível mais alto em 174 anos de documentação por uma margem clara, atingindo 1,45 °C acima dos níveis pré-industriais.
As temperaturas dos oceanos também atingiram o índice mais alto em 65 anos de dados, com mais de 90% dos mares enfrentando condições de ondas de calor durante o ano, disse a OMM, o que prejudica os sistemas alimentares.
“A comunidade da OMM está soando o Alerta Vermelho ao mundo”, advertiu a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, que assumiu o cargo em janeiro.
“O que testemunhamos em 2023, especialmente com o calor sem precedentes dos oceanos, o recuo dos glaciares e a perda de gelo marinho na Antártida, é motivo de particular preocupação”, ressaltou.
Mais tarde, ela pontuou aos repórteres que o aquecimento do oceano é particularmente preocupante, porque é “quase irreversível”, possivelmente levando milênios para reverter o quadro.
“A tendência é realmente muito preocupante e isso se deve às características da água que mantêm o conteúdo de calor por mais tempo que a atmosfera”, avaliou.
As alterações climáticas, impulsionadas pela queima de combustíveis fósseis, juntamente com o surgimento do padrão climático natural El Niño, levaram o mundo para um território recorde em 2023.
O chefe de monitoramento climático da OMM, Omar Baddour, disse aos repórteres que há “alta probabilidade” de que 2024 estabeleça novos recordes de calor, destacando que o ano seguinte ao El Nino é tipicamente ainda mais quente.
O relatório desta terça-feira mostrou uma grande diminuição no gelo marinho da Antártica, com o nível máximo medido em 1 milhão de km² abaixo do nível anterior – uma área aproximadamente equivalente ao tamanho do Egito.
Essa tendência, combinada com o aquecimento dos oceanos, que provoca a expansão da água, contribuiu para mais do dobro da taxa de subida do nível do mar na última década, em comparação com o período 1993-2002, afirmou.
O aquecimento dos oceanos se concentrou no Atlântico Norte, com temperaturas médias 3 °C acima da média no final de 2023, informa o relatório.
As temperaturas mais altas dos oceanos afetam os delicados ecossistemas marinhos e muitas espécies de peixes fugiram desta área para o norte em busca de temperaturas mais frias.
Saulo, uma meteorologista argentina que prometeu fortalecer os sistemas globais de alerta para desastres climáticos, concluiu que espera que o relatório aumente a conscientização sobre a “necessidade vital de aumentar a urgência e a ambição da ação climática”.
“É por isso que falamos sobre o Alerta Vermelho, porque devemos cuidar das pessoas e de como elas sofrerão com esses eventos mais frequentes e mais extremos”, ressaltou aos repórteres.
“Se não fizermos nada, as coisas vão piorar e isso será nossa responsabilidade”, finalizou;