OMS suspende estudo da hidroxicloroquina para tratamento da Covid-19
A hidroxicloroquina tem sido estudada no ensaio clínico Solidarity, liderado pela OMS, que investiga a eficácia de quatro medicamentos no tratamento da Covid-19
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou que os estudos com hidroxicloroquina para tratamento da Covid-19 foram suspensos para avaliação de resultados. O anúncio foi feito durante a coletiva de imprensa nesta segunda-feira (25).
Na coletiva, o diretor-geral mencionou uma pesquisa publicada pela revista médica The Lancet na última sexta-feira (22), que relatou um aumento na taxa de mortalidade entre os pacientes que utilizaram o medicamento. O estudo também afirmou que os infectados tratados com hidroxicloroquina possuem maior probabilidade de desenvolver arritmias cardíacas.
A hidroxicloroquina tem sido estudada no ensaio clínico Solidarity (Solidariedade, em português), liderado pela OMS, que investiga a eficácia de quatro medicamentos no tratamento da Covid-19. “A Organização Mundial da Saúde continua trabalhando incansavelmente para obter mais pesquisas de desenvolvimento”, afirmou Tedros.
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O ensaio acontece em mais de 400 hospitais, espalhados em 35 países. No Brasil, a organização do estudo é realizada pelo Instituto Nacional de Infectologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Segundo Tedros, apesar de a hidroxicloroquina ser aceita como segura para tratar a malária e doenças autoimunes, há uma preocupação em relação ao uso do medicamento para tratar a doença causada pelo novo coronavírus.
O diretor-executivo de emergência em saúde da OMS, Michael Ryan, ressaltou que não é uma interrupção do estudo, mas uma suspensão para analisar os resultados obtidos pelo ensaio clínico. “Estamos fazendo uma interrupção para analisar esses dados. Não se relaciona a nenhum problema atual no âmbito do ensaio. Estamos agindo com cautela”, declarou.
Mesmo sem comprovação científica da eficácia da hidroxicloroquina, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, divulgou um protocolo que amplia a recomendação do uso do medicamento em pacientes com Covid-19 na última quarta-feira (20).
Apesar da ampliação, o Conselho Nacional da Saúde (CNS) pediu que o protocolo fosse suspenso. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também não flexibilizou a venda da hidroxicloroquina.
O Ministério da Saúde comentou a interrupção do estudo da OMS. Em nota divulgada na tarde desta segunda, a pasta disse que, com base em estudos brasileiros, o parecer do CFM (Conselho Federal de Medicina) e a experiência da rede pública na utilização da cloroquina, cumpre o “princípio da equidade” ao dar oportunidade a todos os brasileiros buscarem a melhor opção de tratamento contra a doença.
Epicentro da pandemia
Na sexta-feira (22), Michael Ryan afirmou que a América do Sul se tornou o novo epicentro de transmissão do novo coronavírus.
“Vimos muitos países da América do Sul com número crescente de casos [da doença] e há uma preocupação com todos, mas certamente o mais afetado neste momento é o Brasil”, afirmou o médico.
O Brasil é o país da América Latina com o maior número de casos e mortes pela Covid-19. Até domingo (25), foram registrados 363.211 casos e 22.666 vítimas da doença, de acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde.