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    Vozes da Diplomacia

    Omã tenta atrair empresas brasileiras para zonas francas e aposta em agenda verde

    Trocas comerciais têm crescido entre os países, que completaram 50 anos de relações diplomáticas em 2024

    Mariana Cataccida CNN

    O Brasil e Omã completaram 50 anos de relações diplomáticas em 2024, com um total de cerca de US$ 1.8 bilhão em trocas comerciais no ano anterior. Nos últimos anos, o Brasil tem se destacado enquanto fornecedor de produtos alimentícios ao país árabe, enquanto o Omã se tornou um dos principais fornecedores de fertilizantes para o mercado brasileiro.

    Omã também tem tentado atrair empresas brasileiras para as zonas francas do país, com o foco no desenvolvimento da agenda sustentável. Segundo o ministro Dr. Ali Alsunaidy, presidente da Autoridade Pública para Zonas Econômicas Especiais e Zonas Francas do Omã, US$ 49 bilhões estão sendo investidos nestas áreas.

    Alsunaidy é o entrevistado desta semana do Vozes da Diplomacia, coluna da CNN que traz entrevistas semanais com representantes da comunidade diplomática no Brasil e no exterior.

    Leia os principais trechos da entrevista: 

    Qual é o saldo dos 50 anos de relações diplomáticas entre Omã e Brasil?

    Em primeiro lugar, compartilhamos muitos valores com o Brasil, os dois países deixaram bem claro seus pontos de vista sobre uma abordagem muito pacífica. Também tivemos o comércio crescendo entre nós ao longo dos anos, e até mesmo na cultura vimos bastante avanço. Mas penso que o mais importante é que temos visto um crescimento do comércio entre os dois países nos últimos 10 anos de relações.

    Em 2023, o Brasil exportou cerca de US$ 330 milhões para Omã em produtos do agro, um aumento de 70% em comparação com 2022. As carnes foram 55% do total exportado. Quais as perspectivas para esse setor?

    Anteriormente, para a nossa segurança alimentar, nós olhávamos mais para perto. Então, olhávamos para a África, olhávamos para a Ásia. Mas há muitas interrupções acontecendo ao redor do mundo: o clima tem a ver com parte disso, às vezes fatores geopolíticos e, em muitos casos, você também viu o que o coronavírus fez.

    Então, há alguns anos, Omã decidiu tentar encontrar novas fontes. O Brasil foi muito conveniente: as estações são diferentes, os produtos são diversificados. Então temos visto um bom fluxo de produtos alimentícios, principalmente de carne. E acho que isso é algo que vai crescer. Então, sim, ao longo dos anos, contamos com o Brasil para complementar nossas necessidades de alimentos.

    Acho que o futuro seria verde, porque isso também representa um grande interesse de ambos os lados. Portanto, nesta troca específica, falamos sobre expandir a agenda verde e colocar Omã em uma posição para exportar para a região.

    Temos três portos fora do estreito de Ormuz, de frente para o Oceano Índico, ou seja, o Golfo de Omã e Mar Arábico. E todos já estão capacitados para se tornarem parceiros de empresas e da agroindústria no Brasil.

    Omã fornece ao mercado brasileiro fertilizantes, combustíveis e derivados petroquímicos. Com a guerra na Ucrânia, o país teve mais espaço para exportar fertilizantes para o Brasil?

    Nosso comércio gira em torno de US$ 1,8 bilhão em exportações e importações. É polarizado, claro, com fertilizantes, minério de ferro, aço, voltando para a indústria aqui, e alimentos.

    O fertilizante continuará sendo um item importante, sem dúvida, porque somos produtores de fertilizante, já que temos gás. O Brasil é um grande importador e em troca, exporta alimentos.

    Mas acho que o que veremos no futuro será um novo boom surgindo. Pode ser amônia, acho que nos próximos 10 anos poderemos ver amônia verde, ao invés da amônia que está vindo agora de Omã para o Brasil.

    O senhor mencionou o desenvolvimento sustentável como um dos interesses comuns entre o Brasil e Omã. Como os países podem avançar a cooperação nesta área?

    Acho que a primeira coisa que veremos é fazer mais por menos. Basicamente, fazer mais metal usando menos gás. Mas dentro de 10 anos, isso evoluiria e entraria na energia verde. Uma, é claro, são os elétrons verdes, mas outro são as moléculas verdes. Então você veria aço verde que é processado usando a energia do vento e do sol.

    Você provavelmente já ouviu falar que estabelecemos uma agenda para 2050 ser net zero. Você provavelmente também já ouviu falar que temos cerca de 10 mil km² de terra na parte central de Omã, onde há ventos de alta velocidade.

    Tudo isso agora está à disposição dos produtores, com o primeiro interesse tendo vindo do Brasil. O segundo, claro, veio da Índia, o terceiro veio do Japão. E agora vimos também empresas coreanas. Achamos que as empresas brasileiras seriam capazes de processar o primeiro metal de baixo carbono para elas, e então passariam para o hidrogênio verde ou azul como fonte de energia. Isso está acontecendo e é muito promissor.

    Durante esta viagem, Omã está convidando empresas brasileiras para operarem nas zonas francas do país. Como essa oportunidade pode contribuir para Omã e para o Brasil?

    Temos cerca de 20 zonas. Existem zonas francas, existem zonas industriais e existem zonas econômicas especiais. O investimento total até o momento nessas zonas – 15 delas já em funcionamento, 5 em construção – o investimento total é de US$ 49 bilhões.

    Essa é uma área onde oferecemos às empresas isenção de imposto de renda por até 30 anos. Isentamos o imposto do equipamento do material. Então, sim, tivemos discussões muito boas esta semana, principalmente tentando atrair empresas para fazer projetos relacionados à energia, para fazer embalagens de alimentos e também para fazer, como eu disse, a agenda verde, aço, etc.

    Todas essas zonas estão equipadas, claro, com serviços gratuitos. As três principais, Sohar, Salalah e Duqm, têm o seu próprio porto. E elas têm um aeroporto dentro ou próximo a elas. Todos têm como alvo mercados na Ásia, na África e no mundo árabe.

    Você sabe que Omã também tem um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Tem um acordo semelhante com Singapura, com a Suíça. A Liga Árabe também nos permite acessar estes mercados sem pagar impostos. E o mais importante é que temos o acordo do Conselho de Cooperação do Golfo, que permite que os países do conselho comerciem sem terem de pagar impostos.

    Então essa é uma proposta de valor muito bom para as empresas brasileiras. Temos visto um interesse crescente nos últimos anos. Mas, especialmente este ano, estamos muito confiantes de que atrairemos algumas.

    Como essa viagem ao Brasil tem sido diferente das outras?

    Esta é a minha segunda visita. A última vez que estive aqui foi em 2016.

    Vejo muitas empresas brasileiras que estão olhando para fora. Essa posição foi um problema por alguns anos. Brasil e Omã estão muito distantes em termos de mar e carga. Mas isso não parece parar as empresas. Temos visto em nossas reuniões empresas que estão olhando para a Ásia, olhando para a nossa parte do mundo de forma mais agressiva. Nós os vimos muito bem informados. Estou fascinado, na verdade, pelo conhecimento que eles têm sobre nós. Esta viagem me mostrou muitas mudanças em relação à última vez.

    Mas também acho que o povo do Brasil é muito simpático, muito fácil de lidar. Então, eu e minha equipe nos sentimos em casa aqui.

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