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    O que pode estar por trás da possível entrada de novos membros ao Brics

    Desprendimento dos EUA e força do sul global estão entre as motivações; Argentina, Egito, Venezuela e Arábia Saudita são alguns dos países que enviaram pedidos para aderir ao bloco

    Marcello Sapioda CNN

    A Cúpula do Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, acontece nesta semana em Joanesburgo, na África do Sul e um dos possíveis assuntos a serem discutidos no encontro é a expansão do grupo. Segundo autoridades, mais de 20 países pediram formalmente para entrar no bloco.

    Argentina, Venezuela, Egito e Arábia Saudita estão entre os países cotados.

    A adesão fortalece o grupo como um todo, tornando o bloco cada vez menos dependente dos países do “norte global”, mas principalmente, aumentando o capital geopolítico chinês, é o que avaliam especialistas à CNN.

    “A China pretende usar os Brics para construir mais poder geopolítico e avançar, de alguma forma, em praticamente todo o planeta em influência e financiamento. É nesse aspecto que os Brics estão sendo ampliados. É nesse aspecto também que ele causa preocupação aos Estados Unidos e à Europa Ocidental”, disse o professor de Relações Internacionais da ESPM Leonardo Trevisan.

    Ele ainda complementa que “esse crescimento da China disfarçado de um crescimento dos Brics é, na prática, projeção forte, tanto geopolítica como geoeconômica de Pequim e de todas as suas ambições hegemônicas no mundo”.

    A força dos Brics atualmente

    O bloco foi formado em 2009 ainda como Bric, antes da entrada da África do Sul, em 2010. Veio como uma alternativa ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao G7 (grupo das sete economias mais desenvolvidas do mundo).

    O grupo ganhou protagonismo nos últimos anos com o desenvolvimento principalmente da China e da Índia, superando potências europeias. A Rússia, com a exportação de gás natural, o Brasil como força do setor agropecuário, e a África do Sul no setor de minérios aumentam a voz do Brics no cenário global.

    “De alguma forma, esses cinco países usaram a proximidade e o peso que cada um tinha. E, é claro, a partir da formação do Banco dos Brics, que desenvolve projetos pelo mundo todo, especialmente no continente africano e também na na América Latina. Esses fatores, todos juntos, construíram esse protagonismo”, disse Trevisan.

    O doutor em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo José Antonio Lima também destacou o pensamento “questionador” desses países: “Cada um ao seu modo, os países têm uma perspectiva de questionar inteiramente a ordem liderada pelos Estados Unidos. Não somente do domínio econômico ou militar, mas também o domínio na governança global. No peso que os EUA têm em instituições como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional. Eu acho que essa é a questão.”

    Entrada dos novos países

    O foco da cúpula será principalmente as definições e parâmetros para a entrada dos novos membros. O governo da África do Sul anunciou que 23 Estados enviaram o pedido oficial de adesão, além de inúmeros pedidos e convites informais.

    Destacam-se as principais economias dos continentes africanos, asiáticos e latino-americanos: Argentina, Bolívia, Egito, Honduras, Cuba, Marrocos, Senegal, Nigéria, Arábia Saudita, Vietnã e outros.

    Após a entrada da África do Sul, a entrada de novos membros sempre é abordada, mas encontrava resistência, segundo aponta Leonardo Trevisan.

    “Se olharmos o passado recente, Índia e especialmente e Brasil tinham uma posição muito mais cautelosa quanto ao crescimento dos Brics, apostando que a chegada de novos integrantes poderia enfraquecer o grupo”, disse.

    Ele ainda destaca a pressão chinesa como maior fator para a mudança de postura: “A China está usando o crescimento dos Brics exatamente para se contrapor a esse processo. E o desejo com esses novos integrantes, de alguma forma, é confrontar, com o grupo dos Brics ampliado, o poder que tem o G7.”

    “A entrada de novos países nos Brics certamente aumenta o impacto do grupo. Porque, afinal de contas, teremos mais atores, não apenas participando das discussões, mas eventualmente implementando as discussões. Porém eu acho que é inevitável que as contradições internas dos Brics se agravem ou se cristalizem”, comenta Lima.

    Economias emergentes

    Entre a lista de países, é possível notar países com economias instáveis, a exemplo da Argentina, Venezuela e Egito.

    Leonardo Trevisan destaca que “cada país tem um objetivo diferente” e olha para o bloco com um objetivo. No caso do Egito, segundo ele, seria uma “proteção econômica para os projetos de desenvolvimento no país”.

    Esse protecionismo pode ser visto como a principal intenção da Argentina, que enfrenta uma grave crise cambial. Apesar do pedido formal, Trevisan destacou que as eleições presidenciais podem ser um fator que minaria uma eventual entrada.

    “Se o partido peronista permanecer no poder, nós teremos uma perspectiva internacional de adesão aos Brics, porque a Argentina de Alberto Fernández e de Sérgio Massa é, de alguma forma, dependente de ‘política de boa vizinhança’ com a China. Porém o quadro de uma possível vitória de uma centro direita, Ou, pior ainda, uma vitória de uma ultradireita, com Javier Milei, tornaria a Argentina bastante distante desse grupo”, avaliou

    Países árabes

    Entre as possibilidades de adesão, a mais cotada é a da Arábia Saudita. Inclusive, é um dos países que tem o apoio do Brasil para aderir ao Brics.

    Lima analisa o interesse dos países árabes em relações comerciais com outros blocos e grupos: “Diante de uma conjuntura que os Estados Unidos deixaram de ampliar os compromissos na região, é natural que os países árabes passem a procurar outras relações com outro agrupamento.”

    “Então, esses países do Oriente Médio, que já vivem uma ordem regional com menos Estados Unidos, procuram justamente se atrelar a essa instituição, que possuem essa linha de raciocínio também, e diversificar suas parcerias”, concluiu

    Porém, ele destaca a “parte prática” da iminente entrada e cita o Oriente Médio como um importante agente no Banco do Brics

    “Para falar de uma questão prática, por exemplo, a entrada de países do Oriente Médio pode ter um efeito muito positivo para o banco dos Brics, de reforçar o caixa do Banco dos Brics e permitir que essa entidade tenha uma capacidade de empréstimos maiores”, afirmou

    Outro ponto que é abordado é sobre as violações de Direitos Humanos por parte dos governos árabes. Lima faz uma reflexão sobre usar esse fator como um critério para a entrada ou não no bloco.

    “Existem países no próprio Brics com regimes que são também autoritários e contumazes violadores de direitos humanos, que esse é o caso da China e da Rússia. Ao mesmo tempo, mesmo os países que ainda têm regimes democráticos, no caso do Brasil, da Índia e da África do Sul, também são violadores de direitos humanos.”

    “Então, na minha leitura, é um aspecto das relações internacionais que tem, infelizmente, ficado cada vez mais em segundo plano”, finalizou.

    Vídeo: Empresários brasileiros vão levar demandas aos Brics

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