O que pensam Donald Trump e Joe Biden sobre a questão do meio-ambiente
Entenda como pensam os candidatos à presidência americana sobre as relações entre economia e sustentabilidade


Os candidatos às eleições presidenciais dos Estados Unidos mostraram que possuem opiniões praticamente opostas sobre diversos assuntos durante o período de campanha. A forma de lidar com a questão ambiental é uma das maiores discordâncias.
Do lado democrata, Biden se volta a uma juventude que cada vez mais exige posições sobre cuidados com o planeta, que levou pessoas como a ativista sueca de 17 anos, Greta Thunberg, aos holofotes.
Já do lado republicano, Trump observa a questão sob a ótica econômica. Defendendo uma agenda de progresso, a proteção ambiental fica em segundo plano, dando lugar à busca de desenvolvimento.
Entenda o histórico e as propostas dos candidatos sobre a questão ambiental.
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Histórico
O candidato democrata à presidência possui um histórico longo com a causa do meio-ambiente. Durante a campanha eleitoral, ele relembrou diversas vezes que participou da criação de um dos primeiros projetos de lei ambiental nos Estados Unidos. Quando era senador, em 1986, ele apresentou o projeto de lei “Global Climate Act of 1986” (Ato do Clima Global de 1986, em tradução livre), que previa, entre outras coisas, criar uma força tarefa científica para estudar o desenvolvimento sustentável.
Ele também tem divulgado amplamente políticas voltadas para uma economia mais sustentável adotadas durante o governo de Barack Obama, no qual Biden era vice-presidente. Um dos principais exemplos é o “Clean Power Plan”, ou seja, Plano de Energia Limpa, revelado em 2015. O projeto prevê diversas medidas para diminuir a emissão de carbono na atmosfera pelos Estados Unidos em 32% até 2030.
A medida provoca discussões até os dias de hoje, pois ela impõe limites para a emissão de carbono nas usinas elétricas que utilizam carvão mineral. O carvão mineral é queimado durante o processo de produção da energia, e essa combustão libera uma grande quantidade de poluentes.
O carvão, assim como outros combustíveis fósseis, é uma parte importante da matriz energética dos Estados Unidos. A maioria da energia elétrica que abastece a sociedade americana provém da queima do petróleo, do gás natural e do carvão mineral, segundo a Agência de Energia Internacional (IEA). O debate acerca do assunto cria um embate entre a ideia de produtividade e a ideia de sustentabilidade.
O professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Uehara, entretanto, destaca que a figura de Biden teve pouco destaque durante a vice-presidência. “O Obama acaba ofuscando a figura do Biden, mas mesmo assim, podemos dizer que ele foi importante em situações como as negociações do Acordo de Paris”, explicou ele.
O Acordo de Paris é um tratado aprovado em 2015 por 195 países, que tem por objetivo “fortalecer a resposta global à ameaça da mudança do clima e de reforçar a capacidade dos países para lidar com os impactos decorrentes dessas mudanças”, de acordo com o Ministério do Meio-Ambiente do Brasil. Os países signatários do acordo tomaram como compromisso a diminuição da emissão de poluentes na atmosfera, inclusive os Estados Unidos, comandados por Barack Obama na época.
Campanha
O presidente eleito em 2016, Donald Trump, optou por deixar o Acordo de Paris logo nas primeiras semanas de seu governo, apontando a direção das próximas medidas que viriam a seguir.
Durante sua campanha para as eleições presidenciais de 2020, Joe Biden tem proposto novamente o discurso da mudança em favor da sustentabilidade. Diversas vezes, o candidato destaca medidas de Trump durante sua presidência que seriam ‘prejudiciais ao meio-ambiente’ ou ‘irresponsáveis’, de acordo com o candidato.
Em debate com o oponente, transmitido pela CNN, o democrata chegou a mencionar o Brasil, citando os incêndios recentes na Amazônia, e fazendo insinuações de que Trump seria conivente com a devastação ambiental: “A primeira coisa que vou fazer é readerir ao Acordo de Paris. As florestas no Brasil, por exemplo, estão desmoronando”, afirmou.
Durante entrevistas, comícios e no site de sua campanha, Biden indica que, se eleito, retomaria os planos de tornar a matriz energética americana mais amigável ao meio ambiente e menos dependente de combustíveis poluentes.
“O que se tem é que, de certa forma, ele tem maior sensibilidade com as questões ambientais e deve representar uma guinada contrária às políticas do governo Trump, ou seja, com políticais mais voltadas para a sustentabilidade, à preservação do meio-ambiente”, afirmou Uehara.
Entre as propostas do candidato, está o encaminhamento dos Estados Unidos para a produção de uma energia totalmente llimpa, com zero emissão de carbono na atmosfera até 2050.
Donald Trump e a ameaça ao desenvolvimento

Histórico
Desde o início da campanha que elegeu Donald Trump, em 2016, o atual presidente dos Estados Unidos se posiciona de forma contrária à adoção de medidas que proponham mudanças na dinâmica produtiva nacional.
Logo nos primeiros meses de mandato, em 1 de junho de 2017, o presidente assinou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Segundo o professor Alexandre Uehara, essa ação, além de retirar a obrigação do país em relação às proposições do acordo, também serviu como indicativo da política ambiental de Trump: “O Acordo foi negociado com muitos países e a presença americana era importante, dado que os Estados Unidos, juntamente com a China, são os maiores poluidores do mundo hoje”.
Durante sua presidência, Donald Trump também revogou algumas medidas do Plano de Energia Limpa, em especial a favor da liberação da exploração energética do carvão mineral. Ele chegou a chamar, em 2019, o plano de “guerra incansável” de Obama contra a energia americana. Uehara esclarece que as decisões de Trump facilitaram a exportação de carvão, extraído principalmente em estados como Virgínia e Kentucky.
Em julho de 2020, o presidente modificou a Lei Nacional de Política Ambiental, flexibilizando a construção de óleodutos e usinas de energia em áreas que eram protegidas ambientalmente.
Campanha
O presidente, entretanto, não deu somente declarações negativas em relação à sustentabilidade. Durante um evento de sua campanha em setembro, na cidade de Júpiter, na Flórida, Trump afirmou que era “um grande ambientalista”.
Ele defende que as medidas tomadas por ele não visam prejudicar o meio-ambiente, e sim proteger a economia e a produtividade dos Estados Unidos. “A agenda da esquerda não é sobre defender o meio-ambiente, e sim sobre punir a América”, ele disse também durante a campanha.
No site da sua campanha, Trump menciona a questão ambiental de forma atrelada à questão da energia. Ele afirmou que sua política busca “ar limpo, água cristalina e conservação”.
O que pode acontecer
É difícil prever o que cada candidato faria em relação às questões ambientais, mas é possível estabelecer o que pode se esperar do eleito.
Segundo Alexandre Uehara, caso Donald Trump seja reeleito, é improvável que ele mude o padrão das decisões que vem tomando até então. “Ele deve continuar com suas políticas, flexibilizando a interpretação de leis vigentes, tendendo a abrir espaços para a atuação do mercado e de agentes econômicos, porque essa é a visão dele sobre a questão”, explicou o professor.
Para Joe Biden, a questão ambiental integra uma parcela maior de seus planos. É esperado que, caso o democrata seja eleito, dê prosseguimento à políticas de diminuição da emissão de carbono nos Estados Unidos iniciadas por Obama e, provavelmente, também estabeleça novas medidas: “Ele já apontou que seria uma pessoa que poderia levantar fundos para transformar a economia americana em uma economia mais sustentável”, disse Uehara.
*sob supervisão de Luiz Raatz