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    O que Javier Milei quer dizer quando fala sobre “casta”?

    Candidato de extrema direita vem sendo questionado por setores da sociedade após ser associado a liderança sindical, que estaria no contexto político de sua crítica pelo termo que utiliza

    Da CNN

    Dias antes das eleições presidenciais na Argentina, o termo “casta” ocupou o centro da cena política durante a campanha eleitoral, após ser usado pelo candidato presidencial Javier Milei como parte de seu discurso anti-establishment. Entenda abaixo o que ele quer dizer com essa palavra.

    A ascensão meteórica de Milei — que liderou as primárias de 14 de agosto, com 30,2% dos votos — foi acompanhada por um discurso antissistema e antipolítico, que o levou a ocupar o lugar de “outsider político” com a sua frase: “A casta tem medo”.

    Durante entrevista ao canal de notícias “La Nación +” no dia 11 de dezembro de 2021, Milei definiu a casta como “aqueles que estão na política, mas são imorais”.

    O candidato de extrema direita explicou que a casta são aqueles que implementam políticas que “prejudicam as pessoas” e que, para “proteger” os seus próprios privilégios, argumentam que nada mais pode ser feito.

    Segundo a Real Academia Espanhola, casta é um grupo de pessoas que tendem a permanecer separadas das outras devido à sua raça, religião ou outras considerações. No entanto, Milei refere-se a outros grupos quando fala sobre “a casta”.

    Para especialistas, a definição de casta ganha outro significado quando se leva em conta o contexto político que vive a Argentina, que inclui os partidos políticos e seus líderes.

    A casta de Milei é “o establishment político e, acima de tudo, as duas grandes coalizões políticas: Unión por la Patria [do governista Sergio Massa] e aquela representada por Patricia Bullrich [Juntos por el Cambio]”, avalia o analista político e ex-presidente da Associação Latino-Americana de Consultores Políticos, Carlos Fara.

    Por sua vez, o sociólogo e vice-diretor da Proyección Consultores, Francisco Martinelli, considera que se forem analisados ​​fragmentos do discurso de Milei proferido após a sua vitória nas eleições primárias, “casta refere-se, principalmente, embora não exclusivamente, àqueles que criaram e defendem as bandeiras do peronismo [de esquerda]”.

    “Sua definição inclui também praticamente qualquer pessoa que tenha estado envolvida na política até antes dele se tornar deputado nacional, sem distinção de cor [ou lado] política”, esclarece, no entanto, Martinelli.

    “Quero agradecer a todos que aderiram durante 2022 e assim conseguimos construir esta alternativa competitiva, que não só acabará com o kirchnerismo, mas também acabará com a casta política parasitária, estúpida e inútil que existe neste país”, disse Milei em seu discurso após a vitória nas primárias.

    Em relação a isso, Martinelli sustenta que, quando Milei fala em “acabar com a casta” ou “a casta tem medo”, ele se refere a “uma provocação ameaçadora contra seus adversários políticos, mas, ao mesmo tempo, trabalha para entusiasmar seus militantes e eleitores, os encorajando e dando esperança de que ele será eleito.

    Já para Diego Barovero, historiador que participou de campanhas da UCR e da Aliança e é vice-reitor do Colégio Nacional de Buenos Aires, Milei busca promover uma “separação ou divórcio” na relação entre representante e representado.

    “Ele se coloca no lugar de um colega do cidadão. Ele é um deles, daqueles ‘zombados’ ou ‘usados’ por aquela ‘casta política’ utilitária e canalha. Ele faz isso aproveitando o descontentamento e a frustração vividos por grandes setores da nossa sociedade diante da crise [econômica]”, explica o historiador.

    Milei envolvido com a casta

    Nas últimas semanas, o líder do partido “La Libertad Avanza” aparece associado a uma figura emblemática do que chama de casta: o sindicalista José Luis Barrionuevo.

    O dirigente máximo do sindicato gastronômico confirmou, em inúmeras declarações a jornalistas, que vai coordenar as operações de fiscalização do partido de Milei em 11 províncias durante as eleições presidenciais no próximo domingo (22).

    “Nossa responsabilidade é supervisionar, não pedi e nem vou recomendar ninguém em seu governo”, disse Barrionuevo em declarações à Rádio Mitre em 10 de outubro sobre seu papel no espaço político de Milei. “Queremos que as cédulas estejam em um quarto escuro, e é isso que vamos fiscalizar”, acrescentou.

    Por causa dessa ligação, o discurso antissistema e antipolítico de Milei é hoje questionado por vários setores da sociedade.

    A candidata presidencial do partido Juntos por el Cambio, Patricia Bullrich, criticou a incorporação do líder sindical ao espaço político de Milei e o descreveu como “casta”.

    Também surgiram questões do próprio partido de Milei. Victoria Villarruel, vice na chapa de Milei, demonstrou seu descontentamento com a chegada do sindicalista ao espaço libertário.

    Ela garantiu que “não é um personagem com quem ela concorda” e reconheceu que a sua presença no partido “a deixa desconfortável”.

    Veja também – Análise: Os planos de Javier Milei para a economia argentina

    Termo utilizado não só na Argentina

    O uso do termo casta não é exclusivo da Argentina e revelou-se uma palavra muito útil para qualquer tipo de populismo, da extrema esquerda à extrema direita. Na Espanha, por exemplo, é muito utilizado por ambos os lados do arco político.

    Kike Borba, consultor de comunicação política e diretor da StarkeLabs, empresa de Buenos Aires, destaca que casta é um termo recorrente na política espanhola desde o líder Pablo Iglesias, primeiro do movimento esquerdista 15M e depois com Podemos, o usado com alguns “sucesso” para denunciar a perpetuidade no poder de políticos tanto de esquerda como de direita.

    “O termo casta serviu de simbolismo para a criação de uma nova coorte social. A dicotomia não era colocada pelo fato de se ser de esquerda ou de direita, nem da luta de classes tradicional, mas de um conceito distorcido, mas ilustrativo, entre os poderosos e o povo, os cidadãos comuns”, explica Borba.

    Alguns anos depois, o termo foi utilizado pelo partido antagônico ao Podemos e à extrema direita: o Vox. “O seu líder, Santiago Abascal, não hesitou em utilizar o termo em 2019, referindo-se nessa ocasião à ‘casta sindical’, ‘casta cultural mundial’ ou ‘casta LGTBI’ acrescentando-lhe significados e equiparando-o a grupos de pressão ou lobby. grupos que buscavam determinados benefícios”, diz o analista de comunicação política.

    Para além da ideologia política, Borba sustenta que todos falam em casta para se referir, em tom negativo e acusatório, àqueles que se beneficiam de alguma forma às custas do resto da sociedade.

    *Publicado por Pedro Jordão, com informações de Maria De Los Angeles Raffaele, da CNN Español

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