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    O que é QAnon e como surgiu o grupo ligado à invasão no Capitólio

    Os seguidores agora agem mais como um culto virtual, adorando e acreditando intensamente em qualquer desinformação que a comunidade da conspiração distribua

    Paul P. Murphy, da CNN

     

    O ataque ao Capitólio, sede do parlamento dos Estados Unidos, na quarta-feira (7) foi alimentado por grupos conspiratórios, extremistas e movimentos marginais ligados à QAnon e aos Proud Boys, duas facções de extrema-direita, que o presidente Donald Trump repetidamente se recusou a condenar durante sua campanha eleitoral no ano passado.

    Desde seu início, a QAnon vivia só nos cantos mais sombrios da internet. Com a ascensão de Trump, os seguidores do grupo, que se autodenominam “crentes”, encontraram um nicho nas redes sociais e dentro do Partido Republicano.

    A QAnon começou como uma teoria da conspiração única. Mas seus seguidores agora agem mais como um culto virtual, adorando e acreditando intensamente em qualquer desinformação que a comunidade da conspiração distribua.

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    Suas principais teorias de conspiração afirmam que dezenas de políticos e celebridades do alto escalão trabalham em conjunto com governos do mundo todo em uma rede de abuso sexual infantil.

    Os extremistas também acreditam que há um esforço do “estado profundo” para eliminar o presidente Donald Trump.

    Mas os admiradores do grupo expandiram-se a partir dessas crenças e agora citam teorias infundadas sobre fuzilamentos e eleições em massa. Essas pessoas têm afirmado falsamente que redes celulares 5G espalham o coronavírus.

    Não há evidências de que qualquer coisa que QAnon afirma seja real.

    Apoiadora do presidente dos EUA, Donald Trump, com blusa do gruo QAnon

    Apoiadora do presidente dos EUA, Donald Trump, com blusa do gruo QAnon

    Foto: Elijah Nouvelage -05.set.2020/Reuters

    Seus seguidores fazem afirmações infundadas e, em seguida, amplificam-nas com evidências manipuladas ou fora do contexto, postadas nas redes sociais para apoiar as alegações.

    O nascimento do grupo anárquico e sua contínua infiltração na vida norte-americana é o resultado da campanha de desinformação russa que teve como alvo as eleições norte-americanas de 2016.

    Entretanto, a campanha russa tinha um objetivo aparente – influenciar os eleitores em favor de Trump –, enquanto a QAnon é descentralizada e não tem um objetivo claro além de sua popular frase de efeito: “Questione tudo”.

    Qualquer um pode criar uma conspiração, oferecer evidências para apoiá-la e marcá-la com hashtags QAnon para espalhá-la. Mas ninguém é responsável pela trilha de caos e desinformação que ela gera.

    Como a QAnon começou

    As origens da QAnon são emblemáticas de sua evolução: uma afirmação sem fundamento e fora do contexto, feita para apoiar uma acusação que é facilmente desacreditada.

    Tudo isso remonta a uma postagem enigmática e anônima em 28 de outubro de 2017 no 4chan, um quadro de mensagens online, que frequentemente apresenta conteúdo extremista e intolerante. O indivíduo, mais tarde chamado de “Q” pelos apoiadores, alegou que Hillary Clinton seria presa.

    Não houve prisão.

    No entanto, postagens semelhantes trazendo reivindicações infundadas de detenções e ações do tal “estado profundo” continuaram a aparecer no 4chan.

    Não está claro quem estava por trás das postagens, ou se as que se seguiram foram feitas pela mesma pessoa, já que as publicações no 4chan são anônimas.

    Os “crentes” afirmam que seu “Q” é ultra eficiente por causa de seu status de autorização de segurança nos governo dos Estados Unidos.

    Apoiadores da QAnon compararam as postagens iniciais e posteriores a migalhas de pão da história de João e Maria, ou a “gotas”, como agora os chamam.

    Desde então, o grupo se injetou no “mainstream” criando comunidades no Reddit e encontrando pontos de apoio no Twitter, Facebook e YouTube. Em uma série de vídeos postados online em 2018, a QAnon apontou a Cemex, uma empresa de cimento mexicana, que supostamente possuía um campo abandonado no Arizona, como o local de um local de tráfico humano.

    No início de 2020, Oprah Winfrey e Tom Hanks foram alvos de conspirações QAnon.

    Os “crentes” afirmaram em várias redes sociais que uma casa de Oprah em Boca Raton, Flórida, foi invadida pela polícia em uma operação contra o tráfico sexual de crianças.

    Outra pessoa no Twitter fez uma postagem, compartilhada milhares de vezes, na qual afirmava falsamente que Tom Hanks havia sido preso por pedofilia. O post dizia que outras celebridades de primeira linha seriam presas em breve.

    As teorias da conspiração da QAnon seduziram figuras e organizações conhecidas. Em março de 2018, antes de ser demitida de sua série cômica, a atriz Roseanne Barr tuitou sobre a teoria da conspiração de pedofilia, referindo-se a uma afirmação infundada de que o presidente Trump “quebrou as redes de tráfico em lugares importantes em toda parte”. Depois a atriz apagou o tuite.

    O Partido Republicano e QAnon

    A QAnon quase atingiu o palco principal do Partido Republicano no comício do presidente Trump em 31 de julho de 2018 em Tampa, Flórida, onde cartazes com os dizeres “We Are Q” (“Somos Q”) e “Q” apareceram na frente da multidão durante o discurso do presidente.

    Quatro meses depois, o vice-presidente Pence publicou (e depois apagou) uma foto no Twitter com um policial usando um adesivo da QAnon em seu uniforme.

    Em julho de 2019, a Casa Branca convidou um seguidor da QAnon a um evento classificado como um “encontro de mídia social” com influenciadores conservadores.

    O Partido Republicano teve três candidatos que simpatizaram ou apoiaram o grupo nas eleições de 2020: Jo Rae Perkins, uma candidata a uma vaga no Senado dos Estados Unidos pelo Oregon, não eleita; Marjorie Taylor Greene, candidata eleita ao Congresso para o cargo pelo 14º Distrito da Geórgia; e Lauren Boebert, que derrotou um titular de cinco mandatos, apoiada por Trump e eleita pelo terceiro distrito do Colorado.

    “Tudo o que ouvi de Q eu espero que seja real, porque significa apenas que os Estados Unidos estão cada vez mais fortes e melhores, e as pessoas estão se voltando aos valores conservadores, e é para isso que estou aqui”, disse Boebert em maio.

    Sua gerente de campanha, Sherronna Bishop, disse à CNN em um comunicado que, apesar desses comentários, Bishop “não segue a QAnon”.

    A CNN entrou em contato com o Comitê Nacional Republicano e a campanha do presidente Trump para comentar sobre a QAnon e comentários dos republicanos sobre o grupo, mas não obteve resposta.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

     

     

     

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