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    No prêmio Camões, Fafá de Belém se emociona e Mia Couto diz que Nobel de Dylan deveria ir para Buarque

    Personalidades fizeram discursos e elogios ao comentar a entrega do Prêmio Camões a Chico Buarque, nesta terça-feira (24), no Palácio de Queluz, em Portugal

    Priscila Yazbekda CNN

    A cantora Fafá de Belém se emocionou ao falar sobre o prêmio Camões, entregue a Chico Buarque nesta terça-feira (24), no Palácio de Queluz, em Portugal, e sobre a obra do cantor, autor e compositor brasileiro.

    Para ela, a laureação representa um resgate da cultura brasileira. “Eu acho que para Chico Buarque, para o Brasil… eu fico emocionada… para o povo brasileiro, é o reencontro finalmente do Estado com a arte do seu país”, disse.

    “Nós fomos rejeitados, difamados, foram insinuadas coisas horríveis de uma forma que ninguém sabe mensurar o porquê. Sem cultura, o país não existe. E hoje é o resgate desse reencontro do seu país com a cultura do Brasil, com o seu maior compositor”, afirmou a cantora.

    O escritor moçambicano Mia Couto brincou que o Prêmio Nobel de Literatura de Bob Dylan deveria ser atribuído a Chico Buarque.

    “Eu sou suspeito, porque sou apaixonado antes mesmo de conhecer a escrita literária do Chico, já conhecia a poesia dele e vou dizer uma coisa: acho que se houve um prêmio Nobel para um autor, esse prêmio deveria ir para o Chico. Que o Bob Dylan me perdoe, mas esse prêmio deveria ir pro Chico”, pontuou Couto a jornalistas durante a premiação.

    O escritor também observou que o poeta português Luís Vaz de Camões é quem ganha com a premiação. “Acho que é quase o inverso. O Camões fica a ganhar com essa presença, com a outorga deste prêmio a um nome tão grande da nossa língua, da nossa comunidade lusófona. O Chico não só merece, mas merecia desde o primeiro momento”, destacou.

    A escritora Pilar del Rio, viúva do autor português José Saramago — mencionado por Buarque em seu discurso como um de seus mentores –, estava presente na cerimônia. Ela disse que o Palácio de Queluz, local da premiação, e onde nasceu e morreu Dom Pedro I, nunca havia “ouvido” aplausos tão fortes.

    “Chico é um grande autor, um criador total, não só com a voz, a música, o corpo e a cultura. Nós merecíamos este momento. E por certo, eu não creio que esta sala deste palácio tenha ouvido nunca os gritos que foram ouvidos e o fervor como se aplaudiram, estamos todos em hora boa”, comemorou.

    O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, também invocou o célebre poeta português para homenagear Chico Buarque no seu discurso antes da entrega do prêmio.

    “A que português ou lusófono faria impressão usar como equivalente de a língua de Camões o termo a língua de Chico Buarque, tendo em conta a altura, a emoção, a ductilidade, a imaginação a que ele levou o português cantado por si e por tantos?”, disse.

    Críticas políticas

    O prêmio Camões foi atribuído a Chico Buarque em 2019, mas com a recusa de Jair Bolsonaro (PL) em assinar o diploma, a premiação ficou suspensa. Na ocasião, o autor disse que a negativa de Bolsonaro era uma segunda premiação.

    A demora para a entrega do prêmio também foi comentada pelas personalidades presentes.

    “Como o Chico disse, serve duplamente [de prêmio], porque não vai receber das mãos de quem ele não queria, e agora vai receber das mãos de quem ele realmente quer. É um prêmio duplo”, ressaltou Mia Couto.

    Questionada sobre o simbolismo do prêmio quatro anos depois, Fafá de Belém respondeu: “Finalmente voltamos”.

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificou o episódio como absurdo. “Hoje, para mim, é uma satisfação corrigir um dos maiores absurdos contra a cultura brasileira nos últimos tempos. Digo isso porque esse prêmio deveria ter sido entregue em 2019 e não foi. Todos sabemos por quê. O ataque à cultura, em todas as formas, foi uma das dimensões do projeto que a extrema-direita tentou implementar no Brasil”, avaliou.

    No seu discurso, Chico Buarque afirmou que temia que o prêmio fosse esquecido. “Lá se vão quatro anos que o prêmio foi anunciado e eu me perguntava se haviam me esquecido.”

    “Quatro anos, com uma pandemia no meio, davam a impressão de que um tempo bem mais longo havia transcorrido. No meu país, quatro anos de governo funesto duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás”, disse.

    Sobre a recusa de Bolsonaro em assinar o diploma, o cantor pontuou que “reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu prêmio Camões, deixando o espaço em branco para a assinatura do nosso presidente Lula“.

    “Recebo este prêmio menos como honraria pessoal e mais como desagravo a tantos autores e artistas humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo”, adicionou.

    A CNN tenta contato com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre as falas do cantor, mas não obteve retorno até o momento.

    Obra de Chico Buarque

    Chico Buarque nasceu em 19 de junho de 1944, no Rio de Janeiro. Ele compôs mais de 500 músicas e cerca de 40 álbuns ao longo dos 58 anos de carreira.

    É autor de peças de teatro como “Ópera do Malandro” e “Roda Viva”. Escreveu também os livros: “Estorvo”, “Benjamim”, “Budapeste”, “Leite Derramado”, “O irmão alemão”, “Essa gente” e “Anos de chumbo e outros contos”.

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