Níger: exército anuncia apoio a golpe que derrubou presidente
Incidentes tomam conta das ruas da capital nesta quinta-feira; grupo de apoiadores incendiaram a sede do partido do líder deposto Mohamed Bazoum
Apoiadores de um golpe no Níger saquearam e incendiaram nesta quinta-feira (27) a sede do partido governista na capital Niamei, depois de o comando do Exército ter declarado apoio à tomada de poder realizada por soldados da guarda presidencial.
Nuvens de fumaça negra saíam do prédio, disse um repórter da Reuters, após centenas de apoiadores do golpe que se reuniram em frente à Assembleia Nacional se dirigirem para lá. A polícia os dispersou com gás lacrimogêneo.
A multidão tocou música pró-Exército. Alguns agitavam bandeiras russas e entoavam gritos contra os franceses, ecoando uma crescente onda de ressentimento contra a ex-potência colonial França e sua influência na região do Sahel.
“Sempre acreditamos nas ações do Exército e desta vez estamos com eles. Para nós, isso é uma alegria”, disse Boubacar Hamidou, um ativista de direitos humanos que estava entre a multidão do lado de fora do Parlamento.
EUA, ONU e União Europeia condenam golpe no Níger
Em um comunicado, o Exército disse que “decidiu aderir à… declaração” feita por soldados que anunciaram em um discurso televisionado tarde da noite que haviam destituído o presidente Mohamed Bazoum do poder.
Acrescentou que sua prioridade é evitar a desestabilização do país e que é necessário “preservar a integridade física” do presidente e da sua família e evitar “um confronto mortal… que possa criar um banho de sangue e afetar a segurança da população”.
Não ficou imediatamente claro quem substituirá Bazoum. A guarda presidencial, que é formada pelas Forças Armadas e costuma proteger o presidente e sua comitiva, é chefiada pelo general Omar Tchiani.
Juntas nos vizinhos Mali e Burkina Faso se aproximaram da Rússia desde que assumiram o comando, em 2020 e 2022, respectivamente, e cortaram relações com aliados ocidentais tradicionais.
Desde que as relações com os governos militares azedaram, levando à retirada de tropas estrangeiras, o papel do Níger tornou-se cada vez mais importante para as potências ocidentais, ajudando a combater uma insurgência violenta na região. A França transferiu tropas do Mali para o Níger no ano passado.
O coronel Amadou Abdramane, que anunciou o golpe na televisão estatal flanqueado por outros nove oficiais, disse que as forças de defesa e segurança agiram em resposta à deterioração da segurança e à má governança.
A insegurança continua sendo um problema desde que Bazoum foi eleito em 2021, quando uma insurgência jihadista que se enraizou no Mali em 2012 ganhou terreno, matando milhares e deslocando mais de 6 milhões em todo o Sahel.
“Esperamos que a chegada do Exército ao poder resolva a crise de segurança. Hoje o terrorismo erradicou muitos vilarejos… nossos filhos ficaram viúvos e nossos netos órfãos”, disse Hadjia Aiss, uma idosa que estava entre a multidão do lado de fora do Parlamento.