Não é só no Brasil: calor sufocante atinge quase toda a América do Sul
Há mais de 93% de probabilidade de que 2023 seja o ano mais quente da história, diz a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos
A onda de calor que atinge o Brasil desde a semana passada afeta quase toda a América do Sul. Mesmo após o início da primavera no hemisfério sul, no último sábado (23), em vários países do continente parece o pico do verão, com temperaturas superiores a 40ºC.
Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Brasil atingiram temperaturas recordes em setembro, e alguns desses recordes podem ficar para trás à medida que o calor continuar a aumentar nesta última semana do mês.
As temperaturas muito altas são resultado de uma cúpula de calor, que ocorre quando uma cadeia de alta pressão se acumula sobre uma área e permanece por dias ou até semanas, aprisionando o ar quente.
O El Niño, um padrão climático natural originado no Oceano Pacífico tropical, também desencadeou o calor, tal como a tendência subjacente ao aquecimento global.
O Peru experimentou algumas das temperaturas mais extremas em setembro, que geralmente é um mês ameno. Na cidade de Puerto Esperanza as temperaturas ultrapassaram os 40ºC, uma raridade extrema no país.
Além disso, o número ficou apenas um grau abaixo da temperatura mais alta de todos os tempos: 41,1ºC.
Recordes de calor também foram quebrados em outros países da América do Sul em setembro:
- Filadélfia, oeste do Paraguai, 44,4ºC;
- Trinidad, na Bolívia, 39,5ºC;
- Las Lomitas, Argentina, 43,6ºC.
O calor foi especialmente generalizado no Brasil, onde as temperaturas atingiram neste domingo 40ºC em 11 estados, segundo a empresa meteorológica MetSul Meteorologia.
São Paulo registrou 36,5ºC, a temperatura mais alta em setembro na cidade desde 1943, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Estas temperaturas escaldantes culminaram no inverno mais quente da cidade em mais de seis décadas.
Temperaturas anormalmente altas também aumentaram o risco de incêndios no país, com incêndios florestais eclodindo na semana passada no estado da Bahia.
Espera-se que o calor extremo continue em partes da América do Sul durante boa parte desta semana, com a possibilidade de mais quebras de recordes.
“Mais do mesmo – ou até pior – é inevitável”, alertou Maximiliano Herrera, climatologista e historiador meteorológico que monitoriza temperaturas extremas.
Outras áreas do hemisfério sul também vivendo uma primavera excepcionalmente quente, como a Austrália, que enfrenta temperaturas invulgarmente altas e dezenas de incêndios florestais.
O país está vivendo “um setembro sem precedentes, depois do inverno mais quente como nunca registrado”, disse Herrera numa publicação no X (antigo Twitter).
Entre junho e agosto, 98% da humanidade experimentou temperaturas provocadas pelas alterações climáticas, de acordo com uma análise recente do grupo de investigação climática Climate Central.
“Em todos os países que conseguimos analisar, incluindo o hemisfério sul, onde esta é a época mais fria do ano, vimos temperaturas que seriam difíceis – e em alguns casos quase impossíveis – sem as alterações climáticas causadas pelo homem”, disse Andrew Pershing, vice-presidente de ciência da Climate Central.
O calor extremo é um dos sinais mais claros das alterações climáticas, à medida que os humanos continuam a queimar combustíveis fósseis que aquecem o planeta. Este ano, o hemisfério norte viveu o verão mais quente já registrado: junho, julho e agosto quebraram recordes mundiais de calor mensal.
À medida que o calor anormal continua, os sinais apontam para que setembro seja também o mês mais quente já registado.
De acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA, há mais de 93% de probabilidade de que este ano seja o mais quente da história.
*Brandon Miller, da CNN, contribuiu com este texto