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    Mudanças climáticas triplicam número de relâmpagos no Ártico, diz estudo

    Região está aquecendo duas vezes mais rápido que o resto do planeta, o que resulta em tempestades que produzem mais descargas elétricas

    Allison Chinchar e Haley Brink, meteorologistas da CNN

    Geralmente, o Ártico não é um foco de relâmpagos. Como o ar ali não é quente o suficiente, é raro que ocorram tempestades. Porém, o aquecimento a taxas alarmantes da região tem mudado a frequência das descargas elétricas nessa parte do Polo Norte.  

    De acordo com um novo estudo, publicado nesta semana no Geophysical Research Letters, os raios triplicaram no Ártico na última década. 

     A pesquisa da Universidade de Washington usou dados coletados por uma rede de sensores de relâmpagos, chamada World Wide Lightning Location Network (WWLLN), que rastreia relâmpagos em todo o mundo desde 2004. Os dados mostraram que, acima de 65 graus de latitude, o número de lampejos aumentou significativamente de 2010 a 2020. 

    Embora o estudo tenha se concentrado em áreas dentro do Círculo Polar Ártico – partes do norte do Canadá, Alasca, Rússia, Groenlândia e o Oceano Ártico central -, nem todas tiveram resultados iguais.

    Incêndios florestais 

    O aumento de raios foi ainda maior na parte oriental do Ártico, especificamente na Sibéria.

    Isso provavelmente ocorreu porque os raios têm mais probabilidade de cair em terras sem gelo do que sobre oceanos ou sobre grandes mantos de gelo, como a Groenlândia ou mesmo a Antártica, explica Robert H. Holzworth, um dos autores da pesquisa e professor de Terra e Ciências Espaciais na Universidade de Washington.

    “As tempestades surgem quando há aquecimento diferencial da superfície, de modo que pode ocorrer uma convecção de corrente ascendente-descendente”, explica Holzworth. “Você precisa de uma corrente ascendente quente e úmida para iniciar uma tempestade, e isso é mais provável de ocorrer em terras sem gelo do que em terras cobertas de gelo.”

    O resultado da pesquisa deixa os cientistas em alerta, uma vez que o norte da Rússia também tem visto um crescimento de incêndios florestais nos últimos anos. No entanto, uma maior quantidade de raios não significa, necessariamente, que eles sempre provocaram queimadas. 

    Tanto o norte da Sibéria quanto o Canadá são cobertos por uma densa floresta de árvores altamente inflamáveis. Ou seja, os ingredientes já estão disponíveis para induzir incêndios florestais desencadeados por raios. Porém, o fato de os raios na área triplicarem não resultou em um aumento de incêndios florestais na mesma proporção.

    Por outro lado, há também impactos indiretos a serem considerados. Os incêndios emitem dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa que aquecem o planeta.

    “Nos ecossistemas da floresta ártica e boreal, o fogo queima o carbono orgânico armazenado nos solos e acelera o derretimento do permafrost, que libera metano, outro gás de efeito estufa, quando descongelado”, explica um estudo da Nasa.

    Além disso, a fumaça do incêndio pode viajar centenas de quilômetros na atmosfera. Ela contém vários poluentes, como monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio, compostos orgânicos voláteis e partículas sólidas de aerossol. Portanto, o potencial de risco não é apenas para as populações locais, mas também para as que estão mais distantes.

    Gelo polar do mar atingiu sua menor extensão em julho em 40 anos
    Gelo polar do mar atingiu sua menor extensão em julho em 40 anos
    Foto: ECCC Canadian Ice Service/ Reprodução

    Aquecimento global

    O Ártico está esquentando duas vezes mais rápido que o resto do planeta. Este aquecimento levou ao desenvolvimento de tempestades que produziram mais descargas elétricas.

    “A tundra na Sibéria está derretendo, com presas de mastodonte aparecendo etc., e isso é indicativo do aquecimento do solo, dando novas oportunidades para as tempestades crescerem no Ártico do Hemisfério Oriental mais do que no Ártico Ocidental “, afirmou Holzworth.

    Em agosto de 2019, quase 30 quedas de raios foram registradas a menos de 95 quilômetros do Polo Norte. De acordo com o estudo, esse foi um “grande evento convectivo” e foi o único a ter um raio tão próximo da região. 

    A fração de relâmpagos globais aumentou mais de três vezes durante o verão. Embora as temperaturas possam não ser a única causa para o aumento das descargas elétricas, certamente há uma conexão. 

    É importante ressaltar que durante os 11 anos do estudo também houve um aumento no número de estações de dados da WWLLN.  Isso naturalmente causou um aumento na quantidade de quedas observadas. Porém, esse fato, por si só, não explica totalmente o crescimento substancial de quedas de raios no Ártico.

    Zamira Rahim contribuiu para esta matéria. 

    Texto traduzido, clique aqui para ler o original.

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