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    Crise climática faz oceanos mudarem de cor e sinalizam ameaça à vida, diz estudo

    Pesquisa analisa imagens de satélite há 20 anos e detectou tons diferentes em mais de 50% da superfície dos oceanos do mundo; alterações afetam cadeia alimentar marinha, resultando em desastre para o ecossistema

    Praia do Patacho, em Alagoas: tons de verde representam mais vida marinha.
    Praia do Patacho, em Alagoas: tons de verde representam mais vida marinha. Divulgação

    Jack Guyda CNN

    A cor dos oceanos mudou significativamente nos últimos 20 anos, provavelmente por causa das mudanças climáticas causadas pelo homem. As informações estão em um estudo publicado na quarta-feira (12) na revista “Nature”.

    Mais de 56% dos oceanos do mundo mudaram de cor em uma medida que não pode ser explicada pela variabilidade natural, de acordo com a equipe de pesquisadores liderada por cientistas do Centro Nacional de Oceanografia no Reino Unido e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts nos EUA.

    Os oceanos tropicais próximos da linha do Equador, em particular, tornaram-se mais verdes nas últimas duas décadas, refletindo mudanças em seus ecossistemas.

    A cor do oceano surge a partir dos materiais encontrados em suas camadas superiores. Um mar azul profundo, por exemplo, tem pouquíssima vida, enquanto uma cor verde significa que há ecossistemas, baseados em fitoplâncton, micróbios semelhantes a plantas que contêm clorofila. O fitoplâncton constitui a base de uma cadeia alimentar que sustenta organismos maiores, como o krill, os peixes e as aves e mamíferos marinhos.

    Não está claro exatamente como esses ecossistemas estão mudando, disse a coautora do estudo, Stephanie Dutkiewicz, cientista sênior de pesquisa do Departamento de Ciências da Terra, Atmosféricas e Planetárias do MIT e do Center for Global Change Science. Embora algumas áreas sejam suscetíveis de ter menos fitoplâncton, outras têm mais – e é provável que todas as partes do oceano tenham mudanças nos tipos de fitoplâncton presentes.

    Os ecossistemas oceânicos são finamente equilibrados e qualquer alteração no fitoplâncton tem reflexos na cadeia alimentar. “Todas as mudanças estão causando um desequilíbrio na organização natural dos ecossistemas. Ele só vai piorar com o tempo se nossos oceanos continuarem aquecendo”, afirmou a cientista à CNN.

    As mudanças também afetarão a capacidade do oceano de agir como uma reserva de carbono, disse Dutkiewicz, já que diferentes tipos de plâncton absorvem diferentes quantidades de carbono.

    Os pesquisadores ainda estão trabalhando para entender o que as mudanças significam, mas o que já está claro é que as mudanças estão sendo impulsionadas pelas mudanças climáticas induzidas pelo ser humano.

    “Tendência clara”

    Os pesquisadores monitoram mudanças na cor do oceano a partir do espaço, rastreando a quantidade de luz verde ou azul refletida a partir da superfície do mar.

    Os dados chegam pelo satélite Aqua, que monitora as alterações de cor das águas há mais de duas décadas e é capaz de escolher diferenças que não são visíveis para o olho humano.

    Foram analisados dados de variação de cores de 2002 a 2022 e, em seguida, criados modelos de mudança climática para simular o que aconteceria com os oceanos, tanto com mais poluição do aquecimento do planeta como com menos.

    Um veleiro cruzando o Oceano Atlântico
    Ao menos 50% dos mares sofreram com a mudança de cor / Getty Images

    As mudanças de cor corresponderam quase exatamente ao que Dutkiewicz previu que aconteceria se os gases de efeito estufa fossem adicionados à atmosfera: que cerca de 50% dos nossos oceanos mudariam de cor.

    A cientista, que tem feito simulações que mostram que os oceanos vão mudar de tom por anos, disse que não está surpresa com a descoberta.

    “Mas ainda assim achei os resultados muito preocupantes; é outro alerta de que as mudanças climáticas induzidas pelo homem têm impactado significativamente o sistema terrestre”, opinou.

    Dutkiewicz disse à CNN que era difícil dizer se as alterações poderiam se tornar visíveis para os seres humanos se o processo continuar.

    “Se um grande ponto de inflexão for alcançado em alguns lugares, talvez seja visível. Mas é preciso estudar as cores por um bom tempo para poder captar essas mudanças”, explicou.

    O passo seguinte da pesquisadora é tentar entender melhor as mudanças de cor em diferentes regiões do oceano, bem como olhar para a causa dessa alteração.