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    Motivadas pela guerra na Ucrânia, Finlândia e Suécia podem se juntar à Otan em breve

    Discussões entre autoridades avaliam até que ponto a invasão de Vladimir Putin à Ucrânia serviu apenas para revigorar e unificar a aliança; presidente russo já exigiu que a Otan parasse com sua expansão para o leste

    Jennifer HanslerNatasha Bertrandda CNN

    A Finlândia e a Suécia podem em breve se juntar à Otan, medidas que provavelmente enfureceriam Moscou e que, segundo autoridades, enfatizariam ainda mais o erro estratégico da Rússia ao invadir a Ucrânia.

    Autoridades da Otan disseram à CNN que as discussões sobre a adesão da Suécia e da Finlândia ao bloco ficaram extremamente sérias desde a invasão russa à Ucrânia, e altos funcionários do Departamento de Estado dos EUA disseram que o assunto surgiu durante uma reunião ministerial das Relações Exteriores da Otan nesta semana, que contou com a presença dos ministros das Relações Exteriores de Estocolmo e Helsinque.

    Autoridades disseram que as discussões sublinham até que ponto a invasão de Vladimir Putin serviu apenas para revigorar e unificar a aliança da Otan – exatamente o oposto dos objetivos declarados de Putin antes do início da guerra. O presidente russo exigiu que a Otan parasse com sua expansão para o leste e admissão de novos membros, acusando o bloco de ameaçar a segurança russa.

    Em vez disso, a Otan aumentou seu apoio à Ucrânia e está se preparando para receber novos membros.

    Mudanças significativas na opinião pública

    A opinião pública em ambos os países sobre a adesão à aliança defensiva mudou significativamente à medida que a guerra da Rússia na Ucrânia continua, com um ex-primeiro-ministro finlandês dizendo à CNN que a decisão de aderir “era praticamente um acordo feito em 24 de fevereiro, quando a Rússia invadiu.”

    “Se você olhar para a opinião pública na Finlândia e na Suécia, e como seus pontos de vista mudaram drasticamente nas últimas seis semanas, acho que é outro exemplo de como isso foi um fracasso estratégico”, disse um alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA nesta semana.

    A primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin, disse nesta sexta-feira que o Parlamento de seu país deve discutir a possível adesão à Otan “nas próximas semanas”, acrescentando que espera que essas discussões terminem “antes do meio do verão”.

    “Acho que teremos discussões muito cuidadosas, mas também não estamos demorando mais do que o necessário neste processo, porque a situação é, obviamente, muito grave”, disse ela.

    A primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, não descartou a possibilidade de adesão em entrevista à SVT no final de março. A Suécia está realizando uma análise da política de segurança que deve ser concluída até o final de maio, e o governo deve anunciar sua posição após esse relatório, disse um funcionário sueco à CNN. Eles disseram que seu país poderia tornar sua posição pública mais cedo, dependendo de quando a vizinha Finlândia o fizer.

    O embaixador da Finlândia nos EUA, Mikko Hautala, disse à CNN que as duas nações estão em estreita coordenação uma com a outra, mas que cada país tomará sua própria decisão independente.

    “Repensar os fundamentos”

    Uma autoridade finlandesa disse nesta sexta-feira que seu país não tentaria se juntar à Otan por “desespero” pela defesa da aliança de 30 membros. Em vez disso, as ações de Moscou na Ucrânia forçaram a Finlândia a “repensar os fundamentos”.

    “E entendemos que nossas relações com esta Rússia que agora existe não podem ser as mesmas que costumavam ser devido a essas ações russas”, disse o funcionário.

    Alexander Stubb, que serviu como primeiro-ministro da Finlândia de 2014 a 2015, ecoou esse sentimento, dizendo à CNN que há muito tempo existe uma tensão no país entre o idealismo – querer poder trabalhar com a Rússia, com quem compartilha uma fronteira – e realismo, que exigia que a Finlândia mantivesse um exército permanente forte no caso de a Rússia invadir.

    Esse idealismo agora evaporou em grande parte após o ataque da Rússia.

    “Os finlandeses acham que se Putin pode matar suas irmãs, irmãos e primos na Ucrânia, como está fazendo agora, então não há nada que o impeça de fazê-lo na Finlândia. Nós simplesmente não queremos ficar sozinhos novamente”, Stubb disse, lembrando a Guerra de Inverno soviético-finlandesa, que durou de novembro de 1939 a março de 1940.

    Possibilidade de resposta do Kremlin

    O Kremlin disse nesta quinta-feira que teria que “reequilibrar a situação” se a Suécia e a Finlândia se juntarem à Otan. “Teremos que tornar nosso flanco ocidental mais sofisticado em termos de garantir nossa segurança”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, à Sky News.

    A Finlândia foi atingida por dois ataques cibernéticos e uma violação do espaço aéreo por um avião estatal russo nesta sexta. Tanto Stubb quanto a autoridade finlandesa disseram que Helsinque espera esse tipo de ataque e minimizaram o potencial de uma resposta severa de Moscou caso a Finlândia – que compartilha uma fronteira de mais de 1.300 quilômetros com a Rússia – se junte à Otan.

    No entanto, alguns países da Otan estão analisando a possibilidade de a Rússia realizar um ataque antes que a Finlândia caia sob as proteções da aliança, de acordo com uma autoridade europeia.

    “Estaremos muito atentos à possibilidade de que a Rússia tente fazer algo antes de [a Finlândia] ingressar na aliança”, disse o funcionário.

    Porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov durante entrevista coletiva em Moscou / 19/12/2020 REUTERS/Evgenia Novozhenina

    E o responsável finlandês reconheceu que “é preciso estar preparado, se o nosso país decidir candidatar-se ou mesmo se não o fizer, a situação não é segura, estável. Temos uma guerra, temos todo o tipo de possibilidades.”

    Eles disseram que houve sinais de outros países de que ofereceriam apoio se houvesse preocupações de segurança no ínterim entre a solicitação e a ratificação da adesão à Otan.

    O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse nesta semana que “no período intermediário, estou certo de que encontraremos maneiras de abordar as preocupações que possam ter em relação ao período entre a possível aplicação e a ratificação final”.

    O Pentágono disse nesta sexta que não houve pedidos de assistência de nenhum dos países, mas “se um país ligar e pedir o apoio dos Estados Unidos, certamente levaremos isso em consideração”.

    “Membro sem ser membro”

    Stoltenberg disse que a Suécia e a Finlândia “podem facilmente aderir a esta aliança se decidirem se candidatar”, observando que “trabalham juntos há muitos anos, sabemos que atendem aos padrões da Otan quando se trata de interoperabilidade, controle democrático sobre as forças armadas.”

    O funcionário finlandês observou que seu país já é essencialmente “um membro sem ser membro”.

    Em particular, funcionários da Otan e dos EUA dizem que ficariam entusiasmados em ver a Finlândia e a Suécia se juntarem ao bloco.

    Esses países já têm relações extremamente próximas com a Otan e seriam um grande trunfo, disseram funcionários da Otan à CNN, especialmente quando se trata de compartilhamento de inteligência.

    Embora o nível de compartilhamento de inteligência entre a Finlândia, a Suécia e a Otan tenha aumentado dramaticamente desde o início da guerra, disse um funcionário da Otan, não está no nível que estaria se os países fossem membros do bloco.

    Um funcionário europeu observou que a Finlândia e a Suécia, caso se juntem, seriam “contribuintes líquidos” da OTAN, devido ao fornecimento de caças avançados. A Finlândia já opera Boeing F/A-18 e encomendou 64 Lockheed Martin F-35.

    Algumas autoridades até comentaram, ironicamente, que seria uma das melhores coisas que Putin fez para fortalecer a segurança europeia.

    “Imaginem em quantos meses passar de uma aliança da Otan com 30 a 32 membros”, disse outro alto funcionário do Departamento de Estado a repórteres após a reunião ministerial em Bruxelas. “Como isso pode ser qualquer coisa além de um grande erro estratégico para Putin? Esse foi um tópico de conversa e de várias sessões nos últimos dois dias.”

    Niamh Kennedy, Chris Liakos, James Frater, Oren Liebermann, Barbara Starr e Michael Conte, da CNN, contribuíram para esta reportagem.

     

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