Manuscritos de Timbuktu de oito séculos são disponibilizados publicamente no Google
Documentos dos séculos 11 a 20 mostram que estudiosos produziram cobriram tópicos que vão da filosofia à economia, da medicina à agricultura, da astronomia à matemática e à religião
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Timbuktu, no Mali, foi um dos mais importantes centros de educação e religião. Agora, mais de 40 mil páginas de manuscritos preciosos documentando séculos de história e cultura foram digitalizados e disponibilizados pelo público • Savama-DCI/Google Arts & Culture
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Timbuktu também é o lar de alguns dos prédios históricos mais importantes da África Ocidental. Na imagem, está a Grande Mesquita de Djenné • Instruments 4 Africa/Google Arts & Culture
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Meninos sobem nas estruturas. A Grande Mesquita é um de diversos edifícios da cidade designados como Patrimônios da Humanidade da UNESCO • Instruments 4 Africa/Google Arts & Culture
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Mali foi o lar do líder Mansa Musa no início do século 14, quem alguns historiadores argumentam ter sido a pessoa mais rica a ter vivido. Suas riquezas vinham do ouro, e ele comandava um império em que as artes e a ciência floresciam. De acordo com cálculos da época, a peregrinação de Musa a Meca em 1324, atualmente na Arábia Saudita, levou 60 mil homens (dos quais 12 mil eram escravos) e 80 camelos carregados com 130 quilos de ouro cada um • Google Arts & Culture
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Um manuscrito de Timbuktu que contém mapas astrológicos detalhados. Centenas de documentos residindo na cidade contêm versos do Corão, escritos científicos, direito, poesia e história cultural, incluindo tudo, de magia negra a dicas para entre quatro paredes • Savama-DCI/Google Arts & Culture
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Há uma década, era pensado que milhares dos manuscritos haviam sido destruídos por fundamentalistas islâmicos. Alguns o foram, mas a vasta maioria foi encontrada em Timbuktu, em locais secretos e seguros, entre dezenas de outros locais em Bamako, capital do Mali • Michele Cattani/AFP via Getty Images
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Abdel Kader Haidara (na imagem) coordenou os esforços de busca. Haidara ainda é o proprietário majoritário da maior parte dos manuscritos, e ele contatou o Google em 2014 para pedir ajuda na digitalização, para assegurar um registro de seus conteúdos na internet • Google Arts & Culture
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Dois artesãos em frente à mesquita de Djinguereber, em Timbuktu, em 31 de março de 2021. O esforço de oito anos de arquivistas do Mali, usando equipamento fornecido pelo Google, digitalizou mais de 40 mil páginas de manuscritos, que estão disponíveis online no portal "Mali Magic", do Google Arts & Culture • Michele Cattani/AFP via Getty Images
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Uma foto do "Mali Magic", mostrando alguns dos milhares de manuscritos digitalizados pela equipe do Mali. Apesar da aparência caótica, o que uma vez foi uma coleção dispersa na vida real, foi compilada em um em um portal fácil de navegar em árabe, inglês, espanhol e francês • Google Arts & Culture
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O Instituto Ahmed Baba de Alta Educação e Pesquisa Islâmica em Timbuktu, fotografado em 2021. Haidara trabalhou no instituto entre a década de 1980 e o início da década de 1990, e lá foram queimados milhares de manuscritos por militantes em 2013. Documentos que foram evacuados em 2012 e 2013 estão sendo devolvidos • Michele Cattani/AFP via Getty Images
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Assim como a herança literária de Timbuktu, a herança arquitetônica precisava de restauração após o conflito. A UNESCO trabalhou com locais para reformar edifícios, como esse mausoléu. O Google, como parte de sua colaboração de digitalização, mandou câmeras de Street View para fazer imagens de locais históricos no Mali, que nunca haviam sido fotografados com tecnologia 360 graus • Google Arts & Culture
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A Mesquita de Djinguereber, em Timbuktu, capturada pelo Google Street View. O Google espera que o novo material ajude pessoas ao redor do mundo a ganhar perspectiva ao redor do mundo para ganhar uma nova perspectiva da herança cultural do Mali • Google Arts & Culture
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Hoje, pode parecer que a soma de todo o conhecimento humano está a apenas uma pesquisa na internet. Mas até recentemente, algumas das evidências mais importantes de uma das cidades medievais mais vibrantes da África estavam ausentes da web.
Localizada na nação do Mali, na África Ocidental, o nome Timbuktu passou a incorporar a ideia de um lugar distante, mas esta cidade já foi famosa como um centro de aprendizado, religião e comércio. Hoje ainda é conhecida por suas imponentes mesquitas de barro e pelas centenas de milhares de manuscritos acadêmicos mantidos em coleções públicas e privadas.
Esses manuscritos tiveram um passado turbulento, ameaçado por rebeldes islâmicos e com perdas irrevogáveis. Agora, graças a residentes locais e acadêmicos globais, mais de 40.000 páginas dos séculos 11 ao 20 foram preservadas para sempre no portal “Mali Magic” do Google Arts and Culture – um compêndio de artefatos digitalizados, muitos dos quais nunca foram publicamente disponiblizados antes.
Nos anos 1300, Timbuktu era conhecida pela Mesquita Djinguereber e pela Universidade de Sankoré, ambos importantes centros de aprendizado. Nos anos 1500, Timbuktu experimentou uma idade de ouro de riqueza e comércio, e estudiosos de todas as esferas da vida e de todo o mundo convergiram para a cidade para trocar conhecimento e sabedoria.

Os estudiosos produziram um grande número de manuscritos, cobrindo tópicos que vão da filosofia à economia, da medicina à agricultura, da astronomia à matemática e à religião. Além de revelar como os pensadores interpretaram o meio político e social, eles também descrevem a vida cotidiana, como as doenças eram tratadas e como o comércio acontecia – abrangendo até conselhos de quarto e magia negra.
Os manuscritos são “maravilhosos e transformadores”, diz Mohamed Shahid Mathee, professor sênior do departamento de estudos religiosos da Universidade de Joanesburgo, África do Sul, que estuda os documentos há mais de duas décadas. “O acesso a eles desmascara reivindicações anteriores da história africana como simplesmente oral e religiosa, mas afirma que a África tem uma tradição intelectual escrita.”
Necessidade de digitalização

A história recente motivou a iniciativa. Em 2012 e 2013, o conflito no Mali pôs em perigo os manuscritos de Timbuktu. Na época, pensava-se que centenas de milhares de documentos haviam sido destruídos por fundamentalistas islâmicos, mas um esforço coordenado tirou a grande maioria dos manuscritos da linha de fogo e acredita-se que apenas alguns milhares foram queimados.
Abdel Kader Haidara, que apareceu no livro “The Bad-Ass Librarians of Timbuktu”, foi fundamental para o esforço de resgate. Haidara herdou manuscritos de seu pai, cuja biblioteca pessoal se tornou uma das primeiras bibliotecas públicas de Timbuktu.
Haidara e outros bibliotecários contrabandearam cerca de 350.000 manuscritos a mais de 965 quilômetros de Timbuktu até a capital do Mali, Bamako, onde os distribuiu em 27 casas por segurança.
Com o tempo, a maioria desses documentos foi devolvida a Timbuktu, e hoje mais de 30.000 manuscritos foram fotocopiados e estão guardados com segurança em mais de 30 bibliotecas da cidade. Haidara ainda protege esses preciosos textos, passando a maior parte de seus dias como indexador – um trabalho que exige que ele leia os manuscritos antes de resumir seu conteúdo. Mas determinado a nunca ver o patrimônio nacional do país perdido para sempre, em 2014 ele entrou em contato com o Google.
Eu recorri ao Google para digitalização porque quero registrar esse legado que temos na África Ocidental. Esse legado que é passado de cientistas, imperadores e filósofos é de extrema importância para salvaguardar.
Abdel Kader Haidara
Os manuscritos são indicativos do passado cosmopolita de Timbuktu. Eles são feitos de uma variedade de materiais, desde peles de animais até papel italiano e escritos em uma bela caligrafia árabe. E devido à sua idade, eles são delicados.
“Como regra, os manuscritos nunca são retirados do Mali”, diz Mathee, e assim Haidara e uma equipe de arquivistas do Mali foram encarregados de digitalizá-los. O Google enviou equipamentos, incluindo um scanner de alta resolução com uma câmera montada da Europa, e a digitalização e indexação das dezenas de milhares de páginas levou oito anos para ser concluída pela equipe de Haidara.

“Esta é a primeira vez que o Google Arts and Culture faz algo dessa escala em relação a manuscritos antigos e os disponibiliza publicamente na plataforma do Google”, disse Amit Sood, diretor do Google Arts and Culture, à CNN.
Estudiosos, artistas e mentes curiosas podem agora experimentar o tesouro e ler histórias dos manuscritos que foram traduzidos para inglês, árabe, espanhol e francês (por exemplo, uma visão reveladora dos direitos da criança do século 19, detalhando o direito de uma criança à educação). Há também material suplementar, incluindo modelos de vista de rua em 3D de locais de patrimônio do Mali, como a Grande Mesquita de Djenné, um Patrimônio Mundial da UNESCO, além de ilustrações e músicas de acompanhamento da indicada ao Grammy, Fatoumata Diawara.
Haidara espera que, além de preservar os documentos, torná-los mais acessíveis, mantenha sua história viva.
Quando os manuscritos não são lidos, eles não têm propósito. Queremos aproveitar esta oportunidade e extrair alguns desses manuscritos para traduzi-los e publicá-los ao público.
Abdel Kader Haidara
Ao divulgar a rica história cultural de Timbuktu, há outros benefícios possíveis para o país.
“Para muitas pessoas, Mali pode não estar no topo do seu itinerário”, diz Sood, “mas depois de visitar essas páginas, você pode mudar de ideia”.