Manifestantes ateiam fogo em delegacia de polícia durante protestos no Irã
Protestos acontecem pela morte de uma mulher que foi presa pela polícia de moralidade por usar "trajes inadequados"
Manifestantes em Teerã e várias outras cidades iranianas incendiaram delegacias e veículos, nesta quinta-feira (22), durante o sexto de dia protestos pela morte de uma mulher detida pela polícia de moralidade da República Islâmica.
Mahsa Amini, 22, morreu na semana passada depois de ser presa por usar “trajes inadequados”. Ela entrou em coma durante a detenção. As autoridades disseram que vão iniciar uma investigação sobre a causa do óbito.
A morte de Amini desencadeou uma enorme indignação na população e os piores protestos no Irã desde 2019. A maioria se concentrou nas regiões do noroeste do país, povoadas por curdos, mas se espalhou para a capital e por pelo menos 50 cidades e vilas, com a polícia usando a força para dispersar os manifestantes.
No nordeste, as palavras de ordem eram: “Vamos morrer, vamos morrer, mas vamos recuperar o Irã” perto de uma delegacia que foi incendiada, conforme mostrou um vídeo que foi postado nas redes sociais. A Reuters não pôde verificar as imagens.
Outra delegacia de polícia foi incendiada na capital Teerã quando os distúrbios se espalharam do Curdistão, a província natal de Amini.
Os governantes da nação temem um renascimento dos protestos de 2019 contra os aumentos dos preços da gasolina, os mais sangrentos de sua história. A Reuters informou na época que 1.500 pessoas foram mortas.
Os manifestantes também expressaram raiva do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. “Mojtaba, que você morra e não se torne o líder supremo”, uma multidão foi vista cantando em Teerã, referindo-se ao filho de Khamenei, que alguns acreditam que poderia suceder seu pai no topo do establishment político. A Reuters não pôde verificar o vídeo.
Relatos do grupo de direitos curdos Hengaw, que a Reuters não pôde verificar, disseram que três manifestantes foram mortos pelas forças de segurança na quarta-feira (21), elevando o número de óbitos para dez.
Autoridades negaram que as forças de segurança tenham matado manifestantes, sugerindo que eles podem ter sido baleados por dissidentes armados.
Sem nenhum sinal de abrandamento dos protestos, oficiais restringiram o acesso à internet, de acordo com relatos de Hengaw, moradores e o observatório de desligamento da internet NetBlocks.
A morte de Amini desencadeou fúria em todo o Irã por questões como as liberdades na República Islâmica e uma economia sofrendo com as sanções.
As mulheres desempenham um papel de destaque nos protestos, acenando e queimando seus véus, com algumas cortando o cabelo em público.
No norte do Irã, multidões armadas com bastões e pedras atacaram dois membros das forças de segurança em uma motocicleta enquanto a multidão aplaudia, como pode ser visto em um vídeo, que a Reuters não conseguiu verificar. (Reportagem do escritório de Dubai; Redação de Michael Georgy; Edição de Raissa Kasolowsky)