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    Macron x Le Pen: a explicação do segundo turno das eleições presidenciais da França

    Votação que elege liderança francesa nos próximos cinco anos acontece neste domingo (24)

    Joshua BerlingerJoseph Atamanda CNN

    É o segundo round entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen. A eleição presidencial da França deste ano será uma revanche da disputa de 2017, quando Le Pen, da extrema direita, enfrentou o recém-chegado na política Macron.

    Macron venceu a disputa por quase dois votos a um.

    Mas enquanto os candidatos permanecem os mesmos, a corrida de 2022 está se tornando um assunto muito diferente.

    Veja aqui está tudo o que você precisa saber:

    Como funciona a eleição?

    Para eleger seu novo presidente, os eleitores franceses vão às urnas duas vezes.

    A primeira votação, em 10 de abril, teve 12 candidatos concorrendo entre si. Eles se qualificaram para a disputa por meio do endosso de 500 prefeitos e/ou conselheiros locais de todo o país.

    Macron e Le Pen receberam o maior número de votos, mas como nenhum deles ganhou mais de 50%, vão disputar o segundo turno no domingo (24).

    Esta não é a única votação nacional que a França enfrenta este ano –as eleições parlamentares também devem ocorrer em junho.

    Macron x Le Pen – de novo

    Em um final inesperado, o candidato de extrema-esquerda Jean-Luc Melenchon ganhou mais de um quinto dos votos.

    Mas, mais uma vez, o centrista Macron e a candidata de extrema-direita Le Pen disputarão a presidência francesa no segundo turno.

    Quais datas eu preciso saber?

    Macron e Le Pen realizaram um debate na noite de 20 de abril, que foi ao ar pelas emissoras francesas France 2 e TF1.

    Le Pen parecia muito mais preparada do que no evento de 2017, quando seu fraco desempenho efetivamente condenou sua campanha.

    Ela atacou Macron devido às medidas econômicas, argumentando que ele não fez o suficiente para ajudar as famílias francesas a lidar com a inflação e com o aumento dos preços da energia, enquanto Macron apontou para os laços de Le Pen com a Rússia e sobre apoio anterior dela ao presidente Vladimir Putin.

    Uma pesquisa da BFM TV, afiliada da CNN, descobriu que 59% dos eleitores consideraram Macron o mais presidencial dos dois.

    Os candidatos não podem fazer campanha no dia anterior à votação, ou no próprio dia da eleição, e a mídia estará sujeita a restrições rigorosas de reportagem desde o dia anterior à eleição até o fechamento das urnas, às 20h de domingo, no horário na França.

    Resultados do primeiro turno revelam divisões políticas tradicionais

    O centrista Macron venceu no oeste da França, que pendia para a esquerda, e na região da Bretanha. A candidata de extrema-direita, Le Pen, ficou em primeiro lugar nas regiões do sul, que são de direita, e nas zonas ex-industriais do norte. A classe trabalhadora dos subúrbios de Paris votaram no candidato de extrema esquerda, Melenchon.

    O que as pesquisas mostram?

    Uma disputa muito mais acirrada do que a eleição de 2017.

    Macron e Le Pen aumentaram sua participação total nos votos no primeiro turno deste ano em comparação com 2017, mas pesquisas no início deste mês, antes do primeiro turno, mostraram que Le Pen teve um aumento tardio de apoio em março.

    A pesquisa feita pelo Ifop-Fiducial e divulgada em 10 de abril sugere que Macron venceria uma disputa de segundo turno contra Le Pen por apenas 51% a 49%. A vantagem de Macron aumentou ligeiramente desde a divulgação dos resultados do primeiro turno, de acordo com a mesma pesquisa.

    Analistas políticos costumam dizer que os franceses votam com o coração no primeiro turno, e depois votam com a cabeça no segundo turno – o que significa que eles escolhem seu candidato ideal primeiro e depois optam pelo menor dos dois males no segundo turno.

    Macron viu isso acontecer em 2017. Ele e Le Pen obtiveram 24% e 21,3% dos votos no primeiro turno e depois 66,1% e 33,9% no segundo turno, respectivamente.

    Para ser reeleito, Macron provavelmente precisará convencer os apoiadores do candidato de extrema esquerda, Jean-Luc Melenchon, a apoiá-lo. Melenchon ficou em terceiro lugar, com 22% dos votos. No domingo, Melenchon disse a seus eleitores que “não devemos dar um único voto à Sra. Le Pen”, mas não apoiou explicitamente Macron.

    A maioria dos candidatos derrotados pediu a seus eleitores que apoiem Macron para impedir que a extrema direita ganhe a presidência.

    Eric Zemmour, um ex-comentarista de TV de direita, conhecido por sua retórica inflamatória, pediu a seus eleitores que votem em Le Pen.

    O que os franceses estão esperando?

    O inesperado.

    No início de 2022, a eleição parecia ser um importante referendo sobre a crescente popularidade da extrema direita francesa. Já se passaram 20 anos desde que um presidente francês foi reeleito, então a votação estava se tornando uma das corridas políticas mais assistidas do país em décadas.

    Então a Rússia invadiu a Ucrânia.

    Com os olhos da Europa fixos firmemente na guerra sangrenta de Putin, as prioridades mudaram rapidamente: estoques de munição, diplomacia de alto risco e até a ameaça de um ataque nuclear entraram no debate nacional.

    Macron assumiu o papel de estadista da Europa, afastando-o da campanha presidencial, enquanto Le Pen foi forçada a recuar em seu apoio anterior a Putin.

    O que mais mudou nos últimos cinco anos?

    A paisagem política da França, por exemplo.

    A eleição de Macron explodiu efetivamente o centro tradicional da política francesa. Nos anos anteriores, muitos de seus eleitores teriam ido para os partidos tradicionais de centro-esquerda e centro-direita, os socialistas e os republicanos.

    Mas a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, candidata socialista, e Valérie Pécresse, candidata republicana, não conseguiram convencer os eleitores a abandonar o candidato centrista já no cargo. Ambas receberam menos de 5% dos votos no primeiro turno.

    O que mais preciso saber sobre Macron e Le Pen?

    Macron é um ex-banqueiro de investimentos e foi aluno de algumas das escolas de elite da França. Ele era um novato político antes de se tornar presidente, e esta é apenas a segunda eleição política que ele participa.

    Mas ele não é mais um novato e deve concorrer com uma ficha de prós e contras.

    Seu plano ambicioso para reforçar a autonomia e o peso geopolítico da União Europeia lhe rendeu respeito no exterior e em casa, embora suas tentativas de convencer Donald Trump ou impedir o acordo submarino Aukus (sigla em inglês para Austrália, Reino Unido e Estados Unidos), e seus esforços diplomáticos malsucedidos para evitar a guerra na Ucrânia possam ser considerados falhas.

    As políticas domésticas de Macron são mais divisivas e menos populares. Seu manejo do movimento dos coletes amarelos, um dos protestos mais prolongados da França em décadas, foi amplamente criticado, e seu histórico na pandemia da Covid-19 é inconclusivo.

    A política assinada por Macron durante a crise — exigindo que as pessoas mostrem prova de vacinação para seguir suas vidas normalmente — ajudou a aumentar as taxas de vacinação, mas incitou uma minoria vocal contra sua presidência.

    Antes do primeiro turno desta eleição, Macron se recusou a debater seus oponentes, e ele mal se promoveu em campanha. Embora sua ‘pole position’ na corrida eleitoral nunca tenha sido realmente ameaçada, especialistas acreditam que a estratégia tem sido evitar a confusão política o máximo possível para manter o foco em sua imagem como o mais presidencial de todos os candidatos.

    Le Pen é a figura mais reconhecível da extrema direita francesa. Ela é filha de Jean-Marie Le Pen, que fundou a Frente Nacional, antecessor ao atual partido político de Le Pen.

    A jovem Le Pen tentou dar uma nova cara ao partido, que há muito é visto como racista e antissemita.

    Esta é sua terceira chance em eleições para presidência. Este ano e em 2017, ela superou seu pai no primeiro turno da votação.

    Em 2017, Le Pen fez campanha como a resposta da França a Trump: um incendiário de direita que prometeu proteger a classe trabalhadora esquecida da França contra os imigrantes, a globalização e a tecnologia que estava tornando seus empregos obsoletos.

    Desde então, ela abandonou algumas de suas propostas políticas mais controversas, como deixar a União Europeia.

    Mas, em geral, sua postura econômica nacionalista, opiniões sobre imigração, ceticismo em relação à Europa e posição sobre o Islã na França – ela quer tornar ilegal o uso de lenços de cabeça em público – não mudaram. “Parar a imigração descontrolada” e “erradicar as ideologias islâmicas” são as duas prioridades de seu manifesto.

    Le Pen, no entanto, tentou suavizar seu tom, especialmente em torno do Islã e da União Europeia após o Brexit.

    Em vez disso, ela fez um dura campanha em questões relacionadas ao bolso, prometendo medidas que, segundo ela, colocarão de 150 a 200 euros (cerca de R$ 750 a R$ 1 mil) nos cofres de cada família, incluindo uma promessa de remover o imposto sobre vendas de 100 bens domésticos.

    A estratégia parece ter funcionado.

    O desempenho de Le Pen no primeiro turno das eleições presidenciais de 2022 foi seu melhor resultado nas três vezes em que concorreu.

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    Quais são os maiores problemas para os eleitores franceses?

    O custo de vida está entre as principais questões para o eleitorado francês este ano. Diante das consequências econômicas da pandemia, dos altos preços da energia e da guerra na Ucrânia, os eleitores estão sentindo o aperto, apesar do generoso apoio do governo.

    Embora as pressões financeiras possam ser insuficientes para mascarar o extremismo de alguns candidatos na mente dos eleitores, elas podem levar alguns a buscar respostas pouco ortodoxas para seus problemas.

    A luta na Ucrânia está muito longe dos bistrôs e cafés da França, mas o conflito certamente está na mente dos eleitores. Pouco menos de 90% dos franceses estavam preocupados com a guerra na última semana de março, segundo o Ifop. Dado o histórico irregular de seus adversários em enfrentar Putin, isso provavelmente jogou a favor de Macron até agora.

    Notavelmente ausente do debate do primeiro turno ficou a crise ambiental. Embora a importância das proteções climáticas esteja ganhando força globalmente, isso é menos preocupante na França, que obteve 75% de suas necessidades de eletricidade em 2020 da energia nuclear, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente francês. A maioria dos candidatos no primeiro turno apoiou o tipo de desenvolvimento nuclear que Macron já anunciou, então há pouca divergência sobre essa questão.

    No entanto, Macron e Le Pen debateram sobre energia eólica e solar. Le Pen argumenta que os dois são caros e ineficientes – ela também diz que as turbinas eólicas marcaram a paisagem do campo francês tradicional – e ela quer acabar com os subsídios para ambos. Macron quer investir ainda mais em ambas as tecnologias.

    As campanhas de Macron e Le Pen prometem duas visões muito diferentes para o futuro da França.

    Macron promete continuar avançando com uma França globalizada e focada no livre mercado à frente de uma poderosa União Europeia. Le Pen quer derrubar completamente o status quo, com políticas econômicas protecionistas e uma reformulação do relacionamento de Paris com seus aliados e adversários.

    Mas, no final, a eleição pode se resumir ao candidato que a França menos gosta: o presidente que é amplamente visto como elitista e fora de contato, ou a desafiante mais conhecida por sua retórica inflamada sobre o Islã e apoio a autoritários.

    (*Com informações de Elias Lemercier)

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