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    Gabriel Attal, 34 anos, é o primeiro-ministro mais jovem da França em décadas

    Após demissão de Borne, Attal se torna também o primeiro chefe de governo abertamente gay na história do país

    Priscila Yazbekda CNN

    Paris

    O presidente da França, Emmanuel Macron, nomeou nesta terça-feira (09) Gabriel Attal para o cargo de primeiro-ministro do país, após a renúncia de Élisabeth Borne na segunda-feira (08).

    “O Presidente da República nomeou o senhor Gabriel Attal como primeiro-ministro e o encarregou de formar um novo governo”, diz a nota divulgada pelo Palácio do Eliseu no início da tarde.

    Attal, de 34 anos, era o ministro de Educação francês há cerca de seis meses. Ele é o mais jovem primeiro-ministro desde a fundação da Quinta República da França, em 1958, e o primeiro abertamente gay.

    No final da tarde de segunda-feira, a agora ex-primeira-ministra, Elisabeth Borne, apresentou sua carta de demissão após 20 meses à frente do governo.

    A renúncia aconteceu em meio à tentativa de Macron de dar um novo impulso ao seu segundo mandato antes das eleições para o Parlamento Europeu e dos Jogos Olímpicos de Paris neste ano.

    O presidente francês já tinha aventado em dezembro a intenção de remodelar o seu gabinete para reforçar o seu partido de centro em meio ao avanço da extrema-direita na França e na Europa.

    Attal passou por vários cargos no governo desde 2018, sempre foi extremamente leal a Macron e é reconhecido por ser um bom comunicador. Ele terá como primeira tarefa trazer a Macron o impulso que até agora o governo não conseguiu no seu segundo mandato, após uma série de reformas impopulares em 2023.

    O novo primeiro-ministro terá que formar o novo governo, provando que é capaz de fazer o “reset” que Macron prometeu nas declarações durante o Ano Novo, quando disse que faria uma reformulação industrial, econômica e também cívica da França.

    No X, o antigo Twitter, Macron comentou a nomeação de Attal dizendo que sabe que pode “contar com a sua energia e o seu empenho” para implementar o seu projeto de “regeneração”.

    Macron acredita que o jovem premiê pode ser capaz de levar a cabo as mudanças depois de ter implementado reformas no setor de educação, a despeito das críticas provocadas por seus conteúdos controversos.

    O novo primeiro-ministro tem adotado medidas criticadas por partidos de esquerda e por associações de defesa dos imigrantes, como a proibição das abayas nas escolas, as túnicas usadas por mulheres muçulmanas.

    Junto ao ministro do Interior, Gerald Darmanin, de 40 anos, Attal é visto como uma estrela em ascensão e um dos cotados para assumir o lugar de Macron quando ele deixar o cargo em 2027. Opositores afirmam que ambos os ministros vêm recorrendo a discursos anti-imigração e falas conservadoras para aumentar sua popularidade e frear a ascensão de membros da extrema-direita, como Marine Le Pen.

    Partidos de esquerda ironizaram a reformulação do governo, dizendo que “mudar os cortesãos sem mudar o rei não mudará nada” e afirmando que, de qualquer forma, Emmanuel Macron decide tudo sozinho.

    A França tem um regime semipresidencialista. Enquanto em outros países da União Europeia o presidente tem um papel quase simbólico e o primeiro-ministro concentra as principais funções do governo, na França o chefe de Estado é quem assina os tratados mais importantes e representa o país no exterior. Nas últimas décadas, alterações na Constituição francesa reforçaram ainda mais os poderes do presidente.

    Reformas impopulares e crises em 2023

    A saída de Elizabeth Borne acontece não só diante da busca de Macron de dar um novo ao governo, mas também de deixar para trás, junto com a ex-primeira-ministra, o fardo de reformas impopulares realizadas no ano passado.

    A renúncia também foi anunciada logo após a aprovação da controversa Lei de Imigração em dezembro. A base governista precisou ceder em diversos pontos da reforma proposta por Macron para conseguir o apoio de partidos da direita. Depois de muitas reviravoltas, o projeto final foi aprovado com regras mais duras para os imigrantes do que as propostas pelo governo. Borne foi apontada como uma das culpadas pelas falhas na articulação.

    Mas a permanência da primeira-ministra no cargo já vinha sendo questionada desde a aprovação de um outro projeto que causou grande repercussão no país, a Reforma da Previdência, promulgada em abril do ano passado.

    Rejeitada por cerca de 70% da população, a reforma provocou uma onda de protestos que levou multidões às ruas por três meses seguidos no início de 2023. O projeto só foi aprovado depois que o governo recorreu ao artigo 49.3, que dispensou a votação do texto pela Assembleia Nacional. Membros do próprio governo Macron criticaram Borne pela incapacidade de aprovar a reforma sem recorrer ao artigo, considerado antidemocrático por críticos.