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    Lula quer discutir desigualdade e meio ambiente em cúpula rachada do G20

    Presidente deve destacar pautas prioritárias para o Brasil, mas é pouco provável que o grupo chegue a consensos entre os membros do G7, os países em desenvolvimento e a aliança da China com a Rússia

    Américo Martinsda CNN

    em Londres

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) definiu os principais temas que pretende discutir durante a Cúpula de Líderes do G20, em Nova Délhi, na Índia, entre os dias 9 e 10 de setembro.

    Em seus discursos, ele vai defender que uma das maiores prioridades do mundo moderno é o combate a todos os tipos de desigualdades, entre elas a social, de renda e de gênero.

    Além disso, Lula dará grande destaque ao meio ambiente e ao combate às mudanças climáticas, segundo apurou a CNN.

    Neste capítulo, ele voltará a exigir que os países ricos honrem a antiga promessa, nunca cumprida, de destinar pelo menos US$ 100 bilhões por ano para ações de proteção à natureza no mundo em desenvolvimento e pedirá mais financiamento para a necessária transição do planeta para fontes de energia mais limpa.

    O presidente vai também insistir num tema presente em todos os seus discursos no exterior: a necessidade de reformas profundas no sistema de governança global, especialmente o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização das Nações Unidas (ONU) e o seu Conselho de Segurança.

    Por fim, Lula vai usar o palco do G20 para destacar as conclusões da recente Cúpula da Amazônia, realizada em Belém, no Pará, entre os chefes de governo dos países que dividem a floresta.

    O Palácio do Planalto e o Itamaraty sabem que a Amazônia é um dos mais importantes ativos da diplomacia brasileira e que os países ricos apoiam as medidas anunciadas para proteger a floresta.

    Além disso, o próprio presidente já declarou várias vezes que considera o G20 o mais importante fórum diplomático mundial no momento, já que reúne as 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia.

    Brasil no comando do G20

    O Brasil vai assumir a presidência do G20 a partir do ano que vem.

    Será o terceiro numa lista de quatro grandes países em desenvolvimento liderando o grupo, depois de Indonésia e Índia, e antes da presidência da África do Sul, em 2025.

    Mas as divergências entre os grupos não é boa para o governo brasileiro — que deverá adotar temas semelhantes aos que Lula apresentará em Nova Délhi como as prioridades de sua presidência.

    G20 dividido

    A agenda proposta por Lula vai encontrar eco em muitos dos países presentes na Cúpula de Nova Délhi, preocupados em especial com a questão das mudanças climáticas e o meio ambiente.

    No entanto, o G20 está completamente rachado – e é muito pouco provável que consiga chegar a um consenso até mesmo sobre sua declaração final.

    O principal motivo de divergências é a guerra na Ucrânia, que opõe os países ricos do ocidente, de um lado, e a aliança entre Rússia e China, de outro.

    Além disso, há também divergências entre demandas defendidas por países em desenvolvimento e o G7, a aliança das grandes democracias desenvolvidas liderada pelos Estados Unidos.

    A guerra já tem provocado fortes e acaloradas discussões nas reuniões preparatórias para a cúpula, que envolve delegados de todos os países. Russos e chineses se opõem a qualquer declaração condenando Moscou pela guerra.

    O G7, por seu lado, defende exatamente o oposto, demandando que praticamente todos os documentos da cúpula, incluindo, claro, a declaração final, condene a Rússia, nos mais duros termos, pelo maior conflito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

    A guerra e outros temas opõem diretamente as duas maiores potências do mundo: Estados Unidos e China.

    A Casa Branca informou que o presidente Joe Biden quer discutir várias questões no evento.

    No topo da lista norte-americana, é claro, está a guerra na Ucrânia.

    Segundo a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean Pierre, Biden quer focar nos impactos sociais do conflito no mundo em desenvolvimento, em especial uma potencial crise alimentar e efeitos inflacionários em nações mais pobres.

    A estratégia busca o apoio das nações em desenvolvimento, mas muitas tendem a ser céticas sobre o posicionamento norte-americano.

    Muitos dos países presentes nem sequer condenaram a invasão em votações na ONU, preferindo se abster.

    No caso do Brasil, que votou contra a invasão, o presidente Lula deverá manter a posição que adotou em cúpulas recentes, criticando a guerra e lembrando que o país defende o princípio da integridade territorial de todas as nações. Mas evitando condenações explícitas aos russos.

    O presidente russo, Vladimir Putin, telefonou na terça-feira (29) para o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e informou que não irá a Nova Délhi.

    Ele será representado pelo seu ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov – assim como aconteceu na semana passada durante a Cúpula dos Líderes dos Brics, na África do Sul.

    Mas nem mesmo a ausência do líder russo vai deixar o clima mais tranquilo.

    VEJA TAMBÉM: Lula: Sou a favor da expansão dos Brics, mas com condições

    A ótica norte-americana

    A Casa Branca diz que Biden também vai debater as alterações climáticas e a capacidade dos bancos multilaterais de desenvolvimento para melhor combater a pobreza.

    Em princípio, parece uma pauta similar à do presidente Lula. Mas os dois debaterão em posições diametralmente opostas.

    O líder brasileiro fará demandas para financiamentos mais fortes e mudanças substantivas na governança global.

    Biden não vai se comprometer sequer em cumprir a promessa dos US$ 100 bilhões por ano.

    E dirá, no máximo, que pequenas reformas no FMI poderão ajudar muito –algo bem distante da posição defendida por Lula, que quer, por exemplo, novos atores como o Banco dos Brics liderando a luta contra a pobreza, sem as demandas ortodoxas nas economias dos países em desenvolvimento exigidas tradicionalmente pelo FMI.