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    Lukashenko oferece armas nucleares a nações dispostas a integrar “Estado da União da Rússia e da Belarus”

    Acordo assinado em 1999 estabelece ampla aliança que abrange economia, informação, tecnologia, agricultura e segurança nas fronteiras, segundo o governo bielorrusso

    Mariya KnightUliana PavlovaHelen Reganda CNN

    O presidente da Belarus, Alexander Lukashenko, afirmou que as nações que estão dispostas a “se juntar ao Estado da União da Rússia e da Belarus” receberão armas nucleares, dias depois de confirmar o início da transferência de algumas armas nucleares táticas de Moscou para Minsk, capital de seu país.

    Lukashenko, um aliado próximo do presidente russo, Vladimir Putin, fez os comentários em uma entrevista divulgada no domingo (28) no canal estatal Rússia 1.

    Durante a entrevista, Lukashenko disse: “ninguém se importa que o Cazaquistão e outros países tenham as mesmas relações estreitas que temos com a Federação Russa”.

    “É muito simples”, acrescentou. “Junte-se ao Estado da União da Belarus e da Rússia. Isso é tudo: haverá armas nucleares para todos.”

    Assinado em 1999, o Acordo sobre o Estabelecimento do Estado da União da Belarus e o Tratado da Rússia estabelecem uma base legal para uma ampla aliança que abrange economia, informação, tecnologia, agricultura e segurança nas fronteiras, além de outras coisas, entre os dois países, de acordo com para o site do governo da Belarus.

    Não ficou claro até que ponto o convite de Lukashenko para se juntar ao Estado da União se estendia, e ele não ofereceu mais detalhes.

    Mas seus comentários sobre a distribuição de armas nucleares a aliados que pensam da mesma forma provavelmente aumentarão as preocupações em um momento de proliferação global crescente e quando Moscou ameaça o mundo com seu próprio arsenal atômico enquanto sua guerra contra a Ucrânia sofre perdas.

    Na quinta-feira (25), o autocrata bielorrusso disse que a transferência de algumas armas nucleares táticas da Rússia para a Belarus havia começado, após um acordo assinado por Moscou e Minsk.

    “Era necessário preparar locais de armazenamento e assim por diante. Nós fizemos tudo isso. Portanto, o movimento de armas nucleares começou”, disse Lukashenko, segundo a agência de notícias estatal Belta.

    Ele também prometeu a segurança dessas armas, dizendo: “Isso nem está em discussão. Não se preocupe com armas nucleares. Nós somos responsáveis ​​por isso. Essas são questões sérias. Tudo vai ficar bem aqui”.

    Putin disse que a Rússia manteria o controle sobre quaisquer armas nucleares táticas estacionadas na Belarus e comparou a medida à prática de Washington de estacionar armas nucleares na Europa para evitar que países anfitriões, como a Alemanha, quebrem seus compromissos como potências não nucleares.

    A Belarus não tem armas nucleares em seu território desde o início dos anos 1990. Pouco depois de ganhar a independência após o colapso da União Soviética, concordou em transferir todas as armas de destruição em massa da era soviética estacionadas lá para a Rússia.

    Desde que invadiu a Ucrânia há mais de um ano, Putin usou uma retórica crescente em várias ocasiões, alertando sobre a ameaça “crescente” de guerra nuclear e sugerindo que Moscou pode abandonar sua política de “não usar primeiro”.

    Em março, Putin disse que Moscou concluirá a construção de uma instalação especial de armazenamento de armas nucleares táticas na Belarus até o início de julho e disse que a Rússia já havia feito a transferência para a Belarus de um sistema de mísseis de curto alcance Iskander, que pode ser instalado com ogivas nucleares ou convencionais.

    As armas nucleares táticas são menores do que as armas nucleares estratégicas – que podem dizimar cidades inteiras – e são projetadas para uso em um campo de batalha limitado. No entanto, seus rendimentos explosivos ainda são suficientes para causar grande destruição, bem como contaminação por radiação.

    Fortes condenações

    Os Estados Unidos e a União Europeia (UE), assim como os líderes da oposição na Belarus, denunciaram o movimento de implantar armas nucleares táticas russas na Belarus.

    “É o mais recente exemplo de comportamento irresponsável que vimos da Rússia desde a invasão em larga escala da Ucrânia há mais de um ano”, disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, na quinta-feira.

    Miller acrescentou que, apesar do relatório da transferência, os EUA não veem “nenhuma razão para ajustar nossa postura nuclear estratégica” e disse que não há “indicações de que a Rússia esteja se preparando para usar uma arma nuclear”.

    A UE chamou o acordo entre Moscou e Minsk de “um passo que levará a uma escalada extremamente perigosa”.

    E o conselheiro presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak twittou no domingo que as palavras de Lukashenko “indicam diretamente que a Federação Russa está deliberadamente ‘matando’ o conceito de dissuasão nuclear global e ‘enterrando’ o importante Tratado Global de Não Proliferação de Armas Nucleares”.

    “Isso mina fundamentalmente os princípios da segurança global”, disse Podolyak. “Só pode haver uma solução: uma postura dura dos estados nucleares; resoluções relevantes da ONU/AIEA; extensas sanções contra a Rosatom [empresa estatal russa de energia nuclear]; sanções financeiras sistêmicas contra a Belarus e, finalmente, contra a Rússia.”

    Membros da oposição bielorrussa também criticaram o acordo, com a líder da oposição exilada Sviatlana Tsikhanouskaya dizendo em um post no Twitter “devemos fazer tudo para impedir o plano de Putin de implantar armas nucleares na Belarus”.

    “Isso viola diretamente nosso status constitucional não nuclear e garantiria o controle da Rússia sobre a Belarus por anos à frente. E isso ameaçaria ainda mais a segurança da Ucrânia e de toda a Europa”, disse ela.

    Analistas dizem que ainda há muitas incógnitas com a transferência.

    “Não sabemos se já começou fisicamente, embora Lukashenko diga que sim. Não sabemos se alguma arma realmente deixou a Rússia ainda, não sabemos quando elas serão implantadas, não sabemos que tipo de armas serão implantadas”, disse o especialista em segurança nacional Joe Cirincione à CNN na sexta-feira (26).

    Cirincione, ex-presidente do Fundo Plowshares, que se concentra na redução da ameaça de armas nucleares, disse que, se for adiante, será “um marco histórico”.

    “Não nos lembramos de outro incidente em que, durante uma crise, um estado com armas nucleares tenha liberado suas armas da guarnição e as colocado em campo, o que é efetivamente o que Putin está fazendo aqui”, disse ele.

    (Lauren Kent, Xiaofei Xu e Radina Gigova, da CNN, contribuíram com reportagens)

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