Lançamento do livro de memórias do príncipe Harry gera expectativas na realeza
Nenhum dos palácios reais britânicos fez declaração oficial sobre biografia até o momento
Não houve nenhuma declaração oficial de nenhum dos palácios reais britânicos sobre o livro de memórias do príncipe Harry. E provavelmente não haverá. Mas podemos imaginar que ele seja certamente fonte de muito buchicho dentro dos portões do palácio — e deve existir um certo medo sobre o seu conteúdo.
O temor teria aumentado na quinta-feira (27), quando a editora divulgou a capa do livro, revelando um grande plano inacabado e intocado do rosto de Harry, acompanhado simplesmente pelo seu nome e pelo título “Spare” (que no Brasil será chamado “O que sobra”).
É uma referência clara a um apelido com o qual o duque conviveu enquanto crescia. Ele era o “herdeiro sobressalente” ou “que sobrava”, o segundo filho de pais da realeza, com o dever de intervir em nome do seu irmão mais velho, mas que dificilmente poderia assumir o trono. Outras “sobras”, cujo lugar na linha da sucessão ficou ainda mais distante após os nascimentos reais subsequentes, incluem a irmã já falecida da rainha, a princesa Margaret, e o príncipe Andrew.
Se havia alguma dúvida de que a biografia olharia para trás em vez de para o futuro, com um risco de expor a vida de realeza, ela se evaporou com o press release que acompanhava a capa, que dizia: “Com a sua honestidade pura e inflexível, ‘O que sobra’ é uma publicação histórica repleta de ideias, revelações, autorreflexão e sabedoria duramente conquistada com a vitória do amor sobre a dor”.
A palavra “revelações” soou forte nas orelhas reais, já que certamente se refere ao momento mais sensível da monarquia moderna: a morte da mãe de Harry, Diana, quando houve uma reação pública feroz à resposta da família.
“’O que sobra’ leva os leitores imediatamente de volta a uma das imagens mais doloridas do século 20: dois rapazes, dois príncipes, caminhando atrás do caixão da mãe, enquanto o mundo assistia com tristeza — e horror. Quando Diana, princesa de Gales, foi sepultada, bilhões de pessoas se questionaram sobre o que os príncipes deviam estar pensando e sentindo, e como suas vidas continuariam a partir dali”, continua o press release.
“Para Harry, esta é, finalmente, a sua história”.
O livro trará a verdade do duque, sua perspectiva, suas experiências sem filtro. Liberdade é algo que tanto ele como a sua esposa expressaram repetidamente como uma meta de vida. Meghan tocou no tema em sua entrevista recente à revista “Variety”, dizendo: “Acho que se sentir compreendido e visto é muito importante”.
Muitas pessoas vão querer aprender com a experiência de Harry. A editora Penguin Random House sugere que será uma leitura inspiradora em vez de deprimente. Markus Dohle, diretor executivo da editora, afirmou que se trata de uma “história sincera e emocionalmente poderosa para os leitores de todo o mundo”.
O príncipe Harry “compartilha uma viagem pessoal notavelmente emocionante, do trauma à cura, que fala do poder do amor e irá inspirar e encorajar milhões de pessoas em todo o mundo”, acrescentou.
A questão para os parentes de Harry é qual é a extensão das revelações das histórias da família e como isso pode afetar a instituição que o novo rei está tentando construir.
Harry nunca criticou sua avó enquanto ela estava no trono. Será que o cuidado acabou agora que ela faleceu? Neste momento, ninguém sabe o que está escrito, além do círculo interno do duque e de uns poucos pesos-pesados pesados do mundo editorial. Até onde apuramos, ninguém mais teve acesso ao livro.
Naturalmente, pode ser que não haja nada de grave na obra. Pode ser uma reflexão pessoal muito focada no fato de ele ser o herdeiro sobressalente – uma posição real notoriamente complicada e indefinida, na qual o herdeiro vê diminuídas as hipóteses de chegar ao trono e, mesmo assim, precisa cumprir todas as intensas expectativas que vêm junto com o nome Windsor.
Justamente o fato de não sabermos é que torna o lançamento desestabilizante para o palácio, que esperava concentrar os seus esforços no estabelecimento de Charles como rei e nos preparos para a coroação em maio. Em vez disso, há o potencial de um livro bomba no ar. A obra chega às livrarias de todo o mundo a partir de 10 de janeiro de 2023.
Notícias da semana
A primeira imagem de um monarca britânico e do seu novo primeiro-ministro é sempre histórica. Acrescente a isso o fato de que o rei Charles III está reinando há apenas um mês e já está recebendo a segunda pessoa no cargo. E lembre-se de que Rishi Sunak é o primeiro primeiro-ministro britânico não branco. Tudo se soma a uma série de simbolismos em uma única fotografia que comoveu algumas pessoas.
A imagem trata de algo o que o rei quer alcançar com o seu reinado: garantir que ele é representante da nação hoje, independentemente do seu histórico ou crenças, como prometeu no seu primeiro discurso.
O jornalista e autor Sathnam Sanghera nunca pensou que veria um primeiro-ministro britânico de ascendência asiática. “Na minha infância, nem sequer era permitido que as pessoas da minha cor se tornassem professores em Wolverhampton. Havia protestos”, contou Sanghera à CNN.
“É nesse ambiente que chegaram os pais de Rishi Sunak e os meus pais. Sair daquele ponto e chegar a um primeiro-ministro não branco é algo imenso. Uma enorme mudança de atitudes na sociedade britânica. É incrível”.
Seu livro mais vendido, “Empireland: How Imperialism Has Shaped Modern Britain” (“Empireland: Como o imperialismo moldou a Grã-Bretanha moderna”, sem edição no Brasil) insta o país a confrontar a sua história colonial, que continua ecoando na sociedade britânica contemporânea. Sanghera disse que ver a imagem do rei com Sunak pareceu “bastante natural” apesar de ser inédita.
“Charles tem uma história realmente longa de relações com comunidades inter-fé, interracias. Ele fez muito trabalho muito bom em reunir as comunidades”, contou. Mesmo assim, segundo o escritor, isso não significa que Charles não precise fazer mais nada. Ela espera que o rei use seu papel de chefe de estado “para reunir as pessoas”.
Sanghera acha que a coroação no ano que vem pode ser uma oportunidade para falar sobre um tema divisionário: o diamante Koh-i-noor, uma pedra preciosa desenterrada na região centro-sul da Índia antes de acabar nas mãos britânicas em 1849. “É a oportunidade perfeita para falar sobre os legados do colonialismo, sobre o que o mundo quer falar. A Índia quer falar disso. Mas enterramos nossas cabeças na areia”.
Por isso, embora Sanghera sinta que o momento entre Charles e Sunak tenha sido “inspirador”, ele espera que seja só o impulso para uma conversa mais ampla sobre o imperialismo, que “não está desaparecendo, e sim ficando cada vez mais premente”.
Foto da semana
As primeiras moedas de 50 pence prensadas com o retrato do rei Charles III, feita na Royal Mint Ltd (a Casa da Moeda) em Pontyclun, Reino Unido, na quinta-feira (27). As moedas com o rei Chales III devem entrar em circulação antes do Natal no Reino Unido, onde serão usadas ao lado das moedas existentes que representam a rainha Elizabeth II.
O que mais está acontecendo
Anne chocada com o incêndio em escola
A princesa Anne ficou “chocada” com um incêndio em uma escola para crianças com deficiência visual em Uganda, pouco antes da data em que ela deveria visitar o local. Anne esteve no país em uma visita de quatro dias nesta semana e devia visitar a escola para cegos Salama, no distrito de Mukono, como parte de seu papel como patrona da instituição Sense International. Um incêndio eclodiu nas primeiras horas de terça-feira, matando 11 alunos, disse a instituição no Twitter.
“Fiquei chocada ao ouvir as notícias da trágica perda de vidas”, declarou a princesa Anne. “O trabalho do Sense International em muitos países é imensamente apreciado ao atuar com um grupo tão vulnerável de crianças. Nossos pensamentos e orações estão com as famílias e os funcionários”.
Cartões de aniversário do rei e Camilla são enviados
Os primeiros cartões de aniversário do rei e da rainha consorte foram entregues a centenas de pessoas celebrando seus 100 e 105 anos, de acordo com o site da monarquia britânica. Vários veteranos da Segunda Guerra Mundial estavam entre os destinatários dos novos cartões.
O movimento dá sequência à conhecida tradição iniciada pelo rei George V em 1917 de prestar homenagem aos indivíduos aos completarem 100 anos. Durante o reinado de Elizabeth II, cerca de 1,3 milhão de cartas foram enviadas para aniversariantes em todo o Reino Unido, reinos e territórios ultramarinos britânicos.
Os novos cartões trazem uma fotografia do rei e da rainha consorte tirada no verão de 2018.
Princesa de Gales vira patrona da expedição polar
Catherine, princesa de Gales, tornou-se patrona da expedição de uma oficial do Exército Britânico que pode ser a primeira mulher a atravessar a Antártica sozinha. O apoio real de Kate à viagem da capitã Preet Chandi pela Antártica, que deverá viajar mais de 1.000 quilômetros em novembro, é o mais recente da longa história da família real de apoiar expedições polares.
“O meu objetivo nesta expedição foi sempre inspirar as pessoas a ultrapassar seus limites. Quero levar as pessoas para esta viagem comigo, para ajudá-las a acreditar que nada é impossível”, disse Chandi numa declaração divulgada pelo Palácio de Kensington. “É um privilégio absoluto ter a princesa de Gales como patrona”, acrescentou.
Chandi foi a primeira mulher não branca a chegar sozinha ao Polo Sul em janeiro de 2021. O costume de patrocínio real de feitos ousados de viagens começou em 1901, quando Edward VII patrocinou a expedição Discovery de Robert Falcon Scott, a primeira exploração oficial da Antártica.
Você sabia?
Ao longo dos anos, o povo britânico conheceu e amou muitas das peculiaridades da Rainha: seus cães da raça corgi, seu aceno, seus chapéus. Mas foi só quando a nação se reuniu para seu funeral que eles testemunharam um dos arranjos menos conhecidos de sua vida: o trabalho de seu piper, ou gaiteiro escocês.
O Gaiteiro da Soberana foi um papel estabelecido pela rainha Vitória depois que ela e seu marido se encantaram pelo som de gaita de foles em uma viagem à Escócia. Elizabeth II deu continuidade à tradição, sendo acordada todas as manhãs pelo piper (ou gaiteiro) sob sua janela.
Nesta semana, o gaiteiro apareceu pela primeira vez desde o funeral da rainha: Paul Burns, que tem o título de Pipe Major, tocou no pátio da Clarence House pela primeira vez desde que Charles se tornou rei. A reportagem completa está aqui (em inglês).
“Acho que a grande tragédia é a falta de educação profissional nas escolas. De fato, nem todos foram concebidos para a vida acadêmica”.
Rei Charles III
Uma nova aparição do monarca no programa de restauração de móveis e objetos “The Repair Shop” foi transmitida na TV britânica nesta semana. O episódio especial foi filmado em setembro de 2021 e em março desde ano, quando Charles ainda era príncipe de Gales. No programa, o futuro rei pede à equipe especializada para restaurar uma cerâmica Wemyss Ware feita para o Jubileu de Diamante da rainha Victoria e, depois, um relógio de mesa do tipo “bracket clock” do século 18 que tinha sido consertado apressadamente e havia perdido seu sinal sonoro.
Charles acolheu calorosamente os artesãos na Dumfries House, a sua imponente casa perto de Glasgow, na Escócia. Ali, ele apresentou alguns dos programas de educação executados na casa e que fazem parte da Prince’s Foundation. Ele falou longamente com o apresentador Jay Blades sobre a importância de manter a especialização em artes e trabalhos manuais, o valor dos aprendizes e como as vidas podem ser alteradas quando se apoia pessoas através de treinamento de habilidades técnicas.
Em 2018, Charles abriu a propriedade em seu aniversário de 70 anos para destacar seu trabalho e paixões.