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    Líder muçulmano questiona dados do governo francês sobre antissemitismo

    “Onde estão estes 1.200 atos antissemitas?”, questionou o imã da Grande Mesquita de Paris após fala do ministro do Interior, Gérald Darmanin

    Priscila Yazbekda CNN , em Paris

    O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, disse nesta terça-feira (14) que 1.518 atos ou comentários antissemitas foram registrados na França desde o início da guerra entre Israel e Hamas, em 7 de outubro, em entrevista à emissora francesa Europe 1. Logo depois, em entrevista à emissora RMC, Abdelali Mamoun, imã da Grande Mesquita de Paris, questionou os dados apresentados pelo ministro: “Onde estão estes 1.200 atos antissemitas em França?”.

    “Não estou dizendo que os números sejam falsos, mas não são revelados, aparentes. Gostaria que disséssemos que ‘tal sinagoga’ ou ‘tal cemitério foi profanado’, que ‘tal indivíduo judeu’ foi atacado ou sofreu ameaças”, afirmou Mamoun, pedindo “elementos concretos”.

    Após o imã colocar em dúvida a veracidade dos números informados pelo ministro francês, a Grande Mesquita de Paris divulgou um comunicado no início da tarde afirmando “desconsiderar os comentários feitos pelo Sr. Abdelali Mamoun” e lembrando que o imã “não é o porta-voz da Grande Mesquita de Paris” e “fala nos meios de comunicação a título pessoal”.

    Darmanin publicou então nas redes sociais uma mensagem agradecendo os esclarecimentos feitos pela Grande Mesquita e forneceu mais detalhes sobre os atos.

    “Nesta manhã, insinuações muito chocantes foram feitas por um convidado da RMC. Eu os condeno totalmente. Agradeço à Grande Mesquita de Paris pelos esclarecimentos prestados e por se opor à minimização dos atos antissemitas que afetam a França”, afirmou no X, antigo Twitter, Dermananin.

    Dados detalhados

    O ministro, que havia citado 1.518 atos desde o início da guerra, em 7 de outubro, afirmou no post que 1.762 atos antissemitas foram realizados desde o início do ano.

    Gérald Darmanin também havia afirmado durante a entrevista à Europe 1 que “há, obviamente, atos antimuçulmanos, mas sou obrigado a observar que há dez vezes mais atos antissemitas neste momento”.

    Na mensagem posteriormente publicada, ele especificou que, além dos 1.762 atos antissemitas, foram registrados 564 atos anticristãos e 131 atos antimuçulmanos desde janeiro.

    O ministro também havia comentado a natureza dos atos: “Essencialmente, são tags [grafites de estrelas de Davi em fachadas de prédios] e insultos, mas também há golpes e agressões físicas”.

    Ao detalhar as informações no X, o ministro informou que os atos se dividiram da seguinte forma: 50% de tags, cartazes, banners (incluindo “mortes a judeus”, suásticas, etc.); 22% de ameaças e insultos; 10% de justificativas pelo terrorismo; 8% de danos ao patrimônio; 6% de comportamentos suspeitos; 2% de agressões físicas; e 2% de ataques a locais comunitários.

    Há duas semanas, o Ministério Público de Paris abriu um inquérito para investigar a autoria de pichações de dezenas de estrelas de Davi pintadas em azul em fachadas de prédios da capital francesa. Autoridades relacionaram os atos ao holocausto, quando estrelas de Davi eram pintadas nas casas de famílias judias para que elas fossem reconhecidas e posteriormente levadas aos campos de concentração.

    Na entrevista pela manhã, Darmanin afirmou que foram realizadas quase 600 detenções desde 7 de outubro. “A comunidade judaica francesa nada tem a ver com os bombardeios em Gaza” e “os muçulmanos franceses nada têm a ver com o que o Hamas fez”, disse o ministro do Interior.

    Durante a entrevista, Darmanin defendeu que é preciso evitar importar para a França um conflito que já é suficientemente complicado, ecoando os apelos feitos anteriormente pelo presidente francês Emmanuel Macron.

    Darmanin também reiterou que os autores de atos antissemitas “muitas vezes são muito jovens” e “muitas vezes menores”.

    Darmanin proibiu atos pró-palestina

    Darmanin faz parte do partido de direita de Emmanuel Macron, Renascimento, e é conhecido pelas suas opiniões conservadoras em questões como imigração e islamismo.

    Logo após os atos de 7 de outubro, ele proibiu manifestações pró-Palestina no país, alegando que os atos representariam “uma forma de islamismo radical e uma forma de extrema-esquerda” e sinalizando que os protestos teriam conotações antissemitas. Mas posteriormente o governo francês teve dificuldade em identificar palavras de ordem ou atos antissemitas nos protestos realizados mesmo após a proibição.

    Protestos contra atos antissemitas no domingo

    Mais de 182 mil pessoas foram às ruas em todo o país para protestar contra os atos antissemitas no último domingo (12). Foi a maior mobilização contra o antissemitismo no país desde o protesto contra os atos de vandalismo no cemitério judeu em Carpentra, no sul da França, em 1990, segundo a BFM TV, afiliada da CNN.

    Líderes católicos e protestantes participaram da marcha contra o antissemitismo no domingo, mas os líderes muçulmanos não compareceram, alegando que nem uma palavra sobre a islamofobia foi mencionada na convocação dos protestos.

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