Libaneses protestam contra governo após explosão e possível negligência
Cidadãos furiosos e revoltados ainda tentam se recuperar da grande explosão que matou mais de 130 pessoas e feriu cerca de 5 mil
Um pequeno e violento protesto foi registrado perto da entrada do Parlamento libanês no centro da capital do país, Beirute, na noite dessa quinta-feira (6). Cidadãos furiosos e revoltados ainda tentam se recuperar da grande explosão na região portuária que matou mais de 150 pessoas e feriu cerca de 5 mil.
Dezenas ainda estão desaparecidas e mais de 250 mil ficaram desabrigadas, golpeando um país que já sofria com a crise econômica e a pandemia do novo coronavírus.
A polícia de choque foi enviada ao protesto depois que alguns manifestantes atearam fogo em objetos e atiraram pedras contra membros da força de segurança.
Assista e leia também:
Explosão em Beirute: o que se sabe até agora
Brasil vai enviar kits de emergência para o Líbano
‘O governo do Líbano não tem feito nada’, diz brasileira que teve casa destruída
O fracasso do governo em lidar com um orçamento descontrolado, com o aumento das dívidas e da corrupção, levou alguns doadores a pressionarem por reformas. Os países do Golfo Pérsico, que já ajudaram em outras ocasiões, se recusaram desta vez a socorrer uma nação a qual eles dizem ser muito influenciada pelo rival Irã e pelo Hezbollah.
No porto, destruído pela explosão, as famílias buscam notícias dos parentes desaparecidos, em meio a um clima de revolta com as autoridades por estas permitirem que uma grande quantidade de nitrato de amônio (material altamente explosivo), usado para fabricar fertilizantes e bombas, fosse armazenado por anos no local sem medidas de segurança.
Possível negligência
Documentos obtidos pela CNN mostram que o nitrato de amônio estocado chegou a Beirute em um navio russo em 2013, que tinha como destino Moçambique. A embarcação parou na capital libanesa em razão de problemas financeiros e para que os tripulantes pudessem descansar, e nunca mais deixou o local.
A tripulação abandonou o navio, que foi confiscado pelas autoridades, e o nitrato de amônio a bordo foi armazenado em um hangar no porto.
De acordo com os documentos, Badri Daher, diretor da alfândega libanesa, alertou por anos sobre o “perigo extremo” de deixar a substância no local. À CNN, ele disse que funcionários da alfândega escreveram seis vezes às autoridades solicitando que a carga fosse removida do porto, mas os pedidos não foram atendidos.
Nesta sexta (7), outros documentos encontrados sugeriram que diversas agências do governo libanês foram informadas sobre o armazenamento do nitrato de amônio no porto, incluindo o Ministério da Justiça.
A empresa que representa a tripulação do navio russo divulgou um comunicado em que diz que enviou cartas em julho de 2014 a autoridades do porto de Beirute e ao Ministério dos Transportes “alertando para os perigos dos materiais transportados no navio”.
A CNN tentou entrar em contato com as pastas libanesas da Justiça e dos Transportes e com a administração do porto, mas não teve resposta.
Ainda de acordo com esses últimos documentos, autoridades alfandegárias emitiram avisos sobre os perigos da carga a um juiz. Mas este, que não teve o nome revelado por razões legais, respondeu várias vezes alegando que a embarcação e sua carga poderiam não estar dentro da jurisdição do tribunal. Com isso, o material permaneceu no local.
(Com Reuters)