Kremlin e Otan discordam sobre pedido do papa para a Ucrânia
Pontífice apelou por "bandeira branca"; Aliança militar do Ocidente afirma que não é o momento de falar em "rendição"
O Kremlin disse que o pedido do papa Francisco por negociações para acabar com a guerra na Ucrânia era “bastante compreensível”, mas o chefe da Otan afirmou que agora não era o momento de falar sobre “rendição”.
O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia convocou o embaixador do Vaticano, conhecido como núncio papal, para expressar seu “desapontamento” com os comentários de Francisco em uma entrevista gravada no mês passado, de que a Ucrânia deveria ter “a coragem da bandeira branca” para negociar o fim do conflito.
O ministério disse que os comentários do papa “legalizam o direito do poder e incentivam ainda mais o desrespeito às normas do direito internacional”.
Em uma tentativa de esclarecer as falas de Francisco, seu segundo em comando no Vaticano afirmou em uma entrevista a um jornal na terça-feira (12) que a primeira condição para qualquer negociação é que a Rússia interrompa sua agressão.
Com o Ocidente debatendo sobre como apoiar a Ucrânia e a perspectiva de uma mudança brusca na política dos Estados Unidos se Donald Trump vencer a eleição presidencial de novembro, Putin ofereceu essencialmente congelar o campo de batalha ao longo de suas linhas de frente atuais, uma premissa que a Ucrânia rejeita.
“É bastante compreensível que ele (o papa) tenha falado a favor das negociações”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, aos repórteres.
Segundo ele, o presidente Vladimir Putin afirmou repetidamente que a Rússia estava aberta a negociações de paz.
“Infelizmente, tanto as declarações do papa quanto as repetidas declarações de outras partes, incluindo a nossa, receberam recentemente recusas absolutamente duras”, disse Peskov.
A Rússia diz que enviou suas tropas para a Ucrânia em fevereiro de 2022 em uma “operação militar especial” para garantir sua própria segurança. Kiev e o Ocidente a condenam como uma guerra de conquista de estilo colonial.
As ofertas de Moscou para negociar têm sido invariavelmente baseadas na desistência de Kiev do território que Moscou tomou e declarou como parte da Rússia – mais de um sexto da Ucrânia.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que as negociações que preservariam a Ucrânia como uma nação soberana e independente só aconteceriam quando Putin percebesse que não venceria no campo de batalha.
“Se quisermos uma solução negociada, pacífica e duradoura, a maneira de chegar lá é fornecer apoio militar à Ucrânia”, disse ele à Reuters na sede da Otan em Bruxelas.
Questionado se isso significava que agora não era o momento de falar sobre uma bandeira branca, ele declarou: “Não é o momento de falar sobre rendição dos ucranianos. Isso será uma tragédia para os ucranianos.”