Kremlin diz que ameaça do Ocidente força mudança na doutrina nuclear
Rússia dá início à revisão de casos em que o uso de ogivas seria previsto
O Kremlin disse nesta quarta-feira (4) que a Rússia estava ajustando sua doutrina nuclear porque os Estados Unidos e seus aliados ocidentais estavam ameaçando a Rússia ao escalar a guerra na Ucrânia e passar por cima dos legítimos interesses de segurança de Moscou.
A Rússia, maior potência nuclear do mundo, está fazendo mudanças em sua doutrina nuclear – que estabelece as circunstâncias em que Moscou usaria tais armas – devido ao crescente apoio do Ocidente à Ucrânia, que a Rússia invadiu em 2022.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, na explicação mais detalhada de Moscou até o momento, vinculou a mudança diretamente às “ameaças” criadas pelo Ocidente e culpou os Estados Unidos por destruir a arquitetura de segurança da Europa pós-Guerra Fria.
O Ocidente, disse Peskov, rejeitou o diálogo com a Rússia e adotou uma linha de ataque contra seus interesses de segurança enquanto alimenta “a guerra intensa na Ucrânia”.
“São os Estados Unidos que estão comandando o processo de provocar tensões”, afirmou.
Peskov indicou que a revisão da doutrina nuclear estava em um estágio inicial, dizendo que as tensões atuais seriam analisadas cuidadosamente e então formariam a base das mudanças propostas.
A atual doutrina nuclear russa publicada, estabelecida em um decreto de 2020 pelo presidente Vladimir Putin, diz que a Rússia pode usar armas nucleares no caso de um ataque nuclear por um inimigo ou um ataque convencional que ameace a existência do Estado.
A Rússia e os Estados Unidos são, de longe, as maiores potências nucleares do mundo, detendo cerca de 88% das armas nucleares do mundo, de acordo com a Federação de Cientistas Americanos. Ambos estão modernizando seus arsenais nucleares, enquanto a China está aumentando rapidamente seu arsenal nuclear.
A guerra na Ucrânia desencadeou o maior confronto entre a Rússia e o Ocidente desde a Crise dos Mísseis de Cuba em 1962, com ambos os lados dizendo que não podem se dar ao luxo de perder o conflito.
À medida que a Rússia, que agora controla 18% da Ucrânia, avança, Kiev tem solicitado repetidamente mais armas ocidentais e permissão para usar armas de longo alcance fornecidas pelo Ocidente em seus ataques em direção ao território russo.
Os EUA estão próximos de um acordo para fornecer à Ucrânia mísseis de cruzeiro de longo alcance que poderiam atingir profundamente a Rússia, mas Kiev precisaria esperar vários meses enquanto os EUA resolvem questões técnicas antes de qualquer envio, disseram autoridades norte-americanas.