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    Kim Jong Un fala em escassez de alimentos na Coreia do Norte: ‘Situação tensa’

    Na capital Pyongyang, os preços de produtos básicos estão subindo vertiginosamente; um pacote de café pode chegar a US$ 100

    Kim Jong Un em congresso na Coreia do Norte (09.jan.2021)
    Kim Jong Un em congresso na Coreia do Norte (09.jan.2021) Foto: Reprodução / CNN

    Joshua Berlinger e Paula Hancocks, CNN

    O líder norte-coreano Kim Jong Un tem problemas maiores do que os Estados Unidos neste momento. Ele precisa alimentar seu povo e suas opções parecem não ser tão boas. O líder da Coreia do Norte participou de uma importante reunião política nesta terça-feira (15) reconhecendo a situação sombria que seu país enfrenta neste momento.

    O suprimento de alimentos da Coreia do Norte está “ficando tenso”, disse Kim, de acordo com a agência de notícias estatal do país, KCNA. A declaração foi dada durante a reunião em plenário no comitê central do Partido dos Trabalhadores norte-coreano, que governa o país. Ele também pediu por medidas de combate a fome. 

    A crise se agravou porque o setor agrícola ainda está se recuperando dos danos causados por tempestades e tufões que atingiram a região no ano passado – a pandemia também piorou a situação.

    Substituir o abastecimento doméstico de alimentos por produtos importados provavelmente será difícil porque as fronteiras permanecem praticamente fechadas devido às restrições da Covid-19. Na capital Pyongyang, os preços de alguns produtos básicos estão subindo vertiginosamente. 

    Os especialistas dizem que os preços do arroz e dos combustíveis ainda estão relativamente estáveis, mas os preços dos produtos básicos importados, como açúcar, óleo de soja e farinha subiram.

    Os custos associados a alguns alimentos básicos produzidos localmente também aumentaram nos últimos meses. Os preços da batata triplicaram no conhecido mercado de Tongil, onde tanto locais quanto estrangeiros podem fazer compras, relataram os moradores de Pyongyang.

    Eles também revelaram que itens não tão básicos, como um pequeno pacote de chá preto, podem custar cerca de US $ 70, enquanto um pacote de café pode custar mais de US $ 100.

    Kim não divulgou a escala da escassez, mas a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) estimou recentemente que a Coreia do Norte carece de aproximadamente 860 mil toneladas de alimentos – ou o equivalente a pouco mais de dois meses de suprimentos a nível nacional. 

    A situação era séria o suficiente em abril para Kim incitar os norte-coreanos a empreender outra “marcha árdua”, termo usado para se referir à fome devastadora na Coreia do Norte na década de 1990, que matou centenas de milhares de pessoas.

    Admitir que a economia de planejamento central do Estado não pode nem mesmo alimentar seu povo pode parecer inadequada para um líder cuja família é retratada na propaganda estatal como infalível e quase divina.

    Mas, ao contrário de seu pai e antecessor, Kim não teve medo de admitir erros ou falhas – ou mesmo chorar na frente de seu povo.

    Kim moldou sua imagem como um homem do povo, um líder que se encontra constantemente com o público e se dedica a melhorar a vida cotidiana de um dos países mais pobres do planeta. Seu objetivo declarado desde que assumiu o poder em 2011 era melhorar a vida da maioria dos norte-coreanos.

    Kim Yo-jong, irmã de Kim Jong-un, alertou EUA sobre ações contra Coreia do Norte
    Kim Yo-jong, irmã de Kim Jong-un
    Foto: Korea Summit Press Pool – 27.abr.2018/Reuters

    No entanto, além de alterar drasticamente a economia de planejamento centralizado ineficiente da Coreia do Norte, libertando os quase 120 mil prisioneiros políticos que se acredita estarem mantidos em gulags ou retirando seu programa de armas nucleares, os especialistas acreditam que Pyongyang terá dificuldades para alcançar o objetivo de Kim.

    As relações com Washington e as negociações sobre o alívio das sanções parecem ser uma preocupação distante, pelo menos por enquanto. Kim não havia mencionado negociações com os Estados Unidos até quinta-feira (17), no terceiro dia da importante reunião política desta semana.

    De acordo com a mídia estatal, Kim supostamente analisou a política do presidente norte-americano, Joe Biden, e agora acredita que Pyongyang precisa “se preparar para o diálogo e confronto”.

    Embora não seja exatamente reconfortante, a atitude de Kim em relação aos EUA foi menos hostil do que a série de declarações provocativas divulgadas pela KCNA no mês passado, uma das quais alertava para uma “crise fora de controle”. 

    Kim também se referiu aos EUA como o maior inimigo da Coreia do Norte em janeiro. Na verdade, a declaração pode abrir a porta para negociações com Washington, que tentou em vão entrar em contato com Pyongyang no início deste ano.

    Depois que os dois lados não conseguiram chegar a um acordo na cúpula do ex-presidente Donald Trump com Kim em Hanói em 2019, a propaganda norte-coreana notou repetidamente que o país não estava interessado em mais negociações, a menos que Washington mudasse sua chamada “política hostil” em relação a Pyongyang.

    O governo Biden deixou claro que a Coreia do Norte, seu programa nuclear e as alegações de abusos em larga escala dos direitos humanos no país são uma parte importante de sua agenda de política externa.

    (Esse texto é uma tradução. Para ler o original, em inglês, clique aqui)