Kamala visita Zona Desmilitarizada em meio à tensão por disparos de mísseis
Vice-presidente dos EUA visitou a área que separa a Coreia do Norte e a Coreia do Sul; Harris condenou o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un
A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, visitou a Zona Desmilitarizada, que separa a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, na quinta-feira (29), sua última parada em uma viagem de quatro dias à Ásia.
Harris condenou o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, enquanto esteve na região fortemente reforçada, um dia após Pyongyang disparar dois mísseis balísticos nas águas de sua costa leste.
“Isso é claramente uma provocação, acreditamos que tem por objetivo desestabilizar a região, estamos levando isso muito a sério, e todos deveriam fazer o mesmo”, afirmou a vice-presidente aos repórteres que viajavam em sua comitiva.
Embora Harris tenha chegado à Ásia nesta semana para participar do funeral de Estado do ex-premiê do Japão Shinzo Abe, em Tóquio, ela também se reuniu com líderes dos governos japonês, sul-coreano e australiano, em meio às crescentes tensões por conta da agressão chinesa no mar do Sul da China e do programa de mísseis balísticos da Coreia do Norte.
A viagem de Harris foi planejada para, em parte, reafirmar aos aliados asiáticos a intenção dos EUA de cumprir seus compromissos de segurança na região do Indo-Pacífico.
Na quinta-feira (29), Harris se tornou a maior autoridade do governo Biden a ficar a poucos metros da fronteira com a Coreia do Norte.
Durante sua visita, Harris foi ao posto de observação Ouellette, onde usou binóculos para observar o “Reino Eremita”. Imagens de repórteres que viajavam com Harris mostram que enquanto ela estava em um mirante com uma pequena cobertura no topo, alguns trabalhadores dentro de um prédio no lado norte-coreano olhavam para ela.
“Eu não tinha dúvidas de que isso aconteceria”, afirmou Harris, quando ouviu de um militar dos EUA que os guardas norte-coreanos poderiam estar encarando a vice-presidente.
Enquanto esteve na DMZ, Kamala Harris também se encontrou com militares norte-americanos e suas famílias no Camp Bonifas Dining Facility, e agradeceu a todos por seu serviço.
“Essas vidas serão eternamente beneficiadas por causa de seu trabalho duro e dedicação”, disse Harris às tropas.
Ela encerrou sua visita à DMZ com um tour pela T2 Conference Row, onde recebeu um briefing operacional. Contudo, após o tour, Harris momentaneamente se confundiu quando se referiu a uma “aliança dos EUA com a República da Coreia do Norte”. Uma transcrição oficial do gabinete da vice-presidência, divulgada horas depois, corrigiu sua declaração para “a República da Coreia”, excluindo “do Norte” dos registros.
Ainda assim, Harris comentou: “os Estados Unidos e o mundo desejam uma Península Coreana que seja estável e pacífica, onde a República Popular Democrática da Coreia (RPDC) não seja mais uma ameaça”.
Antes de visitar a DMZ na quinta-feira (29), a vice-presidente se reuniu com o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol, com quem discutiu a ameaça representada pela Coreia do Norte, a “importância da paz” no Estreito de Taiwan, a cooperação econômica e tecnológica e outras questões regionais, segundo a Casa Branca.
“A vice-presidente e o presidente reafirmaram nosso alinhamento com a República Popular Democrática da Coreia (RPDC) e nosso objetivo da desnuclearização completa da Península Coreana”, afirmou a Casa Branca em nota divulgada posteriormente.
Durante a reunião, Harris chamou a aliança EUA-Coreia do Sul de “alicerce” da segurança regional e global. Ela também reafirmou o “objetivo da desnuclearização completa da Península Coreana”, e condenou a “retórica nuclear provocativa” da Coreia do Norte e os lançamentos de mísseis balísticos, de acordo com uma nota da Casa Branca.
Em Seul, Harris também se encontrou com um grupo de mulheres líderes da indústria antes de ir para a DMZ – zona muitas vezes descrita como uma das fronteiras mais fortemente armadas do mundo.
Há muito tempo, a DMZ tem sido um destino para presidentes e vice-presidentes dos EUA em visitas oficiais à Coreia do Sul, onde foram fotografados observando com binóculos o território controlado pela Coreia do Norte.
Joe Biden visitou a zona desmilitarizada quando era vice-presidente, mas ainda não foi ao local desde que assumiu a presidência. Donald Trump foi o último presidente a visitar a região. Em 2019, Trump apertou a mão de Kim Jong Un e deu 20 passos dentro da Coreia do Norte, fazendo história como o primeiro líder dos EUA a pisar no país.
A visita de Harris aconteceu um dia após a Coreia do Norte disparar dois mísseis balísticos de curto alcance da área de Sunan em Pyongyang, de acordo com o Estado-Maior da Coreia do Sul (JCS).
Os mísseis tinham distância de voo de cerca de 360 quilômetros, altitude de 30 quilômetros, e velocidade Mach 6, ou seja, seis vezes a velocidade do som, afirmou o JCS.
“Os militares reforçaram a vigilância e estão mantendo uma postura de completa preparação, enquanto cooperam de forma estreita com os EUA”, comentou.
De acordo com uma contagem realizada pela CNN, este é o 20º lançamento de mísseis da Coreia do Norte em 2022, que ocorreu logo após outro disparo no dia 25 de setembro – pouco antes de Harris chegar à região.
Após Harris deixar a Coreia do Sul para retornar a Washington nesta quinta-feira (29), os militares sul-coreanos detectaram mais dois mísseis balísticos de curto alcance lançados da área de Sunchon, na província de Pyongan do Sul, na Coreia do Norte, segundo comunicado do Estado-Maior da Coreia do Sul (JCS).
Falando a bordo do USS Howard na Base Naval de Yokosuka, no Japão, na quarta-feira (28), Harris criticou os recentes disparos de mísseis da Coreia do Norte como “parte de seu programa de armas ilícitas que ameaça a estabilidade regional e viola múltiplas resoluções do Conselho de Segurança da ONU”.
Em uma coletiva de imprensa na quarta-feira (28), a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, recusou-se a responder se o lançamento poderia ter sido programado para coincidir com a visita de Harris, dizendo que os testes “não são incomuns” para a Coreia do Norte.
Os Estados Unidos e a Coreia do Sul também têm realizado exercícios navais conjuntos com o porta-aviões USS Ronald Reagan desde a segunda-feira (26).