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    Jornalista que protestou na TV estatal russa diz que era ‘impossível ficar calada’

    Marina Ovsyannikova disse a Christiane Amanpour, âncora da CNN, que muitos jornalistas russos veem uma desconexão entre a realidade e o que é apresentado nos canais de TV do país

    Charles Rileyda CNN

    A jornalista da televisão estatal russa que se posicionou contra a guerra do presidente Vladimir Putin na Ucrânia – durante uma transmissão ao vivo na TV – disse que era “impossível ficar em silêncio” e que ela quer que o mundo saiba que muitos russos são contra a invasão.

    Marina Ovsyannikova disse a Christiane Amanpour, âncora da CNN, na quarta-feira (16), que muitos jornalistas russos veem uma desconexão entre a realidade e o que é apresentado nos canais de televisão do país, e que até sua mãe sofreu “lavagem cerebral” pela propaganda estatal.

    “Tenho sentido uma dissonância cognitiva, cada vez mais, entre minhas crenças e o que dizemos no ar”, disse Ovsyannikova. “A guerra era o ponto sem volta, quando era simplesmente impossível ficar em silêncio.”

    Na segunda-feira, a editora do Channel One apareceu atrás de uma âncora segurando uma placa que dizia: “SEM GUERRA”.

    Ovsyannikova disse à CNN na quarta-feira que foi compelida a agir por memórias de ataques aéreos durante o conflito da Rússia na Chechênia, onde viveu quando jovem.

    “Eu me preocupo com os soldados russos… acho que eles realmente não entendem por que têm que fazer isso, por que estão lutando”, disse ela a Amanpour.

    Na terça-feira, Ovsyannikova foi considerada culpada por um tribunal distrital em Moscou por organizar um “evento público não autorizado”. A “ofensa administrativa” acarreta uma multa de 30.000 rublos (US$ 280).

    Um advogado que anteriormente representava Ovsyannikova disse à CNN que a acusação administrativa foi baseada apenas em uma declaração em vídeo que ela gravou antes de aparecer com um pôster anti-guerra no Channel One.

    O Kremlin descreveu suas ações como “hooliganismo”, uma ofensa criminal na Rússia.

    Marina Ovsyannikova, a jornalista russa que protestou na TV estatal do país contra a guerra / CNN

    Ovsyannikova disse à CNN que inicialmente planejava se afastar das câmeras durante seu protesto, mas depois percebeu que precisaria estar perto da âncora para garantir que seu pôster fosse visto pelos espectadores. Ela estava “com medo até o último minuto”, acrescentou.

    “Decidi que conseguiria superar o guarda que fica na frente do estúdio e ficar atrás da apresentadora. Então me movi muito rapidamente, passei pela segurança e mostrei meu pôster”, disse.

    Na declaração em vídeo gravada antes de seu protesto público, Ovsyannikova culpou Putin pela guerra.

    “O que está acontecendo agora na Ucrânia é um crime, e a Rússia é o país agressor, e a responsabilidade por essa agressão está na consciência de apenas uma pessoa. Esse homem é Vladimir Putin”, disse Ovsyannikova.

    “Infelizmente, nos últimos anos, tenho trabalhado no Channel One e fazendo propaganda do Kremlin, e agora tenho muita vergonha disso”, disse ela no vídeo. “É uma pena que eu tenha permitido falar mentiras nas telas de TV, vergonha de ter permitido zumbificar o povo russo.”

    “Estou envergonhada por termos ficado calados em 2014, quando tudo isso estava apenas começando”, diz ela, em referência à anexação da Crimeia pela Rússia.

    Censurando a imprensa

    Putin assinou no início deste mês um projeto de lei de censura que criminaliza o que a Rússia considera informações “falsas” sobre a invasão da Ucrânia, com pena de até 15 anos de prisão para qualquer um condenado, de acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas.

    A Rússia reprimiu os meios de comunicação locais sobre a guerra na Ucrânia e muitos reduziram sua cobertura como resultado.

    Redes internacionais como CNN, ABC News, CBS News e outras pararam de transmitir da Rússia. E o canal de notícias russo independente TV Rain, também conhecido como Dozhd, fechou completamente. Seu editor e equipe, juntamente com outros jornalistas independentes, deixaram o país.

    Na quarta-feira, a agência de notícias estatal russa RIA Novosti informou que o Roskomnadzor, órgão de vigilância da mídia da Rússia, restringiu o acesso ao site da BBC News a pedido do Gabinete do Procurador-Geral.

    No início de março, o Roskomnadzor restringiu o acesso ao site do serviço russo da BBC.

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